Agosto é um mês de sonoridades. As pessoas riem facilmente e falam alto, mais alto do que costumam, sem pensarem que pode haver quem não esteja interessado em ouvir. A alegria e o encantamento aliados ao desejo de que as férias não acabem geram a confusão.
É também o mês em que as conversas se vestem de linguagens-outras com forte predominância do francês. Os nossos emigrantes, depois de um ano mal dormido entre as labutas várias e hercúleas do quotidiano, saboreiam sofregamente o sol e o mar e falam “estrangeiro”. À exceção dos próprios, todos acharão um ridículo exibicionismo, mas não deixa de ser um fenómeno interessante. Que indicadores não nos daria um questionário bem elaborado acerca do conforto, da maneira de estar, do que é ser português no mundo, ou da nossa cultura?!
Certo sábado ou domingo de um qualquer verão, enfiei-me no carro e fui tomar café à praia da Vieira. A sorte brindou-me rapidamente com um lugar para estacionar. Saí do carro e deparei-me com um grupo de pessoas que, no passeio em frente, admiravam os esforços de uma criança, quatro anos talvez, às voltas com uma bicicleta. Alguém, possivelmente a mãe, incentivava:
- Allez! Vite, vite… Allez!
E o rapazinho, pois de um rapazinho se tratava, sem conseguir equilibrar-se não cumpria a ordem. Não havendo “allez” não se vislumbrava o “vite”.
A criatura insistia:
- Allez! Allez! Vite… vite…
E o rapaz, nada…
Então, em desespero de causa, a hipotética mãe, esticando o braço em frente, numa ordem irrefutável, exclama:
- Ó vacão, põe os pés nos pedais!
Ah! De então para cá, os meus meses de agosto nunca mais foram os mesmos.
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