Hoje está
uma linda tarde de sol. Os vinte e nove graus centígrados embalados por uma
leve brisa lembram o verão que ainda vem longe.
Renegando o
hábito, sentei-me a uma mesa, noutra esplanada. Há por onde escolher. Tento
alterar uns hábitos, mantendo-me fiel a outros. As obras de remodelação do
Chico Lobo descaracterizaram o espaço e eu, como não tenho contrato assinado
que me obrigue a fidelização, mudei de lugar no mesmo espaço. Repete-se a Praça
Rodrigues Lobo, mas agora vejo-a numa rotação de cento e oitenta graus.
A sensação é
de conforto. Este lado da praça é mais abrigado. Nem se sente a leve brisa que
agita as folhas das árvores junto à esplanada do Chico Lobo. Rodeia-me
gente nova brincando com computadores e telemóveis ente goles de cerveja. Não
gosto da mesa a que escrevo. Faz-me sentir absorvida pela multidão que me
rodeia. A cadeira balança devido à irregularidade do piso e, de vez em quando,
aproveito o embalo. Gostaria de apreciar melhor o desenho do pavimento da praça
que me chega em farrapos dispersos entre pedaços de gente e que o tolo que
todos os dias se arrasta por aqui discursando junto de quem por piada o anima,
tolos também, mas de tolices outras, se calasse.
Detenho-me... Parece que a vida moderou o passo e segue lentamente, sem pressa de chegar seja
onde for.
Alguém me
pergunta por SMS: “Estás a curtir este dia já com algum calor?”, forma simpática
de me perguntar onde estou. “Saboreio a vida.” – Apressei-me a responder e
alongo-me pela folha da agenda, improvisado bloco de notas, aberta à minha
frente. As palavras que vou tecendo esbarram noutras que
haviam chegado antes: “Durmo e acordo. Frio e silêncio. A tua ausência.”
Sorrio. Copiara para a agenda, para voltar a tropeçar nele, o pedacinho de
ternura com que alguém numa noite de insónia me lembrara. “Olho e não
vejo. Sol ameno e brisa leve. A tua lembrança.” Seria, neste momento, a
resposta que não seguiu.
Quantos chás prometi sem que os bebêssemos?!
E fechei a
agenda disposta a partir…
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