A tia entrou e alongou-se pela
sala, ocupando um lugar do lado direito. Ela encontrava-se já do lado esquerdo.
Não se conheciam pessoalmente, mas sabiam da existência uma da outra.
Terminadas as exéquias, ela
atravessou a sala. A tia era a única pessoa da família a quem ainda não apresentara
condolências.
- Perdão. – disse a senhora – Não estou a reconhecê-la.
- Chamo-me…
- Ah! Sei bem quem é… - (E os
olhares acariciaram-se mutuamente.)
- Queria dizer-lhe…
- Sei que é uma pessoa alegre.
Muito obrigada pelos momentos de alegria que proporcionou ao meu sobrinho.
Ela ficou sem jeito. Sorriu.
Sorriu balbuciando:
- Gostei de a conhecer. Que pena
ter sido nestas circunstâncias!
Depois, encaminhou-se para a
porta e saiu atrás dos outros.
Ao sentimento de perda pela morte
do amigo, aliava a falta daquela amizade que só não fora porque ela se esquivara
a conhecer a família.
- Temos muito tempo. – dissera tanta
vez.
Afinal o tempo fora escasso. Mas
uma dor bastava, estrangulou aquele acréscimo de tristeza: “sabes lá se seriam
amigas…”
Quanto tempo passou? Que
importa?!
Há dias, aproveitando uma tarde
amena, ela sentara-se na esplanada do café habitual e vagava pelas páginas de
um livro. Alguém vindo por detrás enfiou-lhe os dedos nos cabelos
acariciando-lhe o alto da cabeça. Nem se mexeu. Saboreou a carícia…
- Olá! – e a tia sorria – Há quanto
tempo não nos vemos?!
Levantou-se e cumprimentou a
senhora.
Seriam amigas, sim!
Gostei, como é bom sentir o afeto dos outros, esta leitura breve que me proporcionou, comoveu-me...
ResponderEliminarA faculdade de nos comovermos é uma dádiva de Deus... Deus ...
Também a sua simpatia é comovente. Até hoje 106 pessoas viram este texto e 935 o anterior e só o meu caro amigo fez o favor de comentar... Muito obrigada pois, pela sua generosidade.
EliminarSei que tenho andado pouco ativa e não tenho visitado os blogues dos amigos. Logicamente, ninguém pode esperar dos outros mais do que dá. A gentileza do seu comentário resulta ainda mais engrandecida pelo meu descuido em relação ao seu blogue e aos dos outros amigos.
"É bom sentir o afeto dos outros". Se é!
Bem haja!
Essa questão de andarmos todos muito dispersos é um facto.
ResponderEliminarA sensação que eu tenho, neste momento da minha vida, é que começo a ter mais projetos que tempo para os levar por diante. E pressinto que esse tempo se esgota a passos largos...
Mas, que sabemos nós, humanos? Nada ... Limitamo-nos a confirmar que o tempo não para e que a vida continua, connosco ou sem nós!
Quanto aos comentários que podemos esperar do que vamos deixando registado nos blogues, no FB e noutros suportes, não podemos esperar grandes atenções. É impossível manter um ritmo de produção e consulta que proporcione grandes intercâmbios.
Assim sendo, cá vamos andando.
A propósito , sempre lhe quero deixar aqui esta simplória informação: tenho registados à volta de 30 blogues na Blogger, 2 ou 3 no WordPress, várias páginas Web ainda do tempo em que as concebíamos duma forma artesanal e fazíamos os uploads por ftp direto. Nos finais dos anos 80, principio dos anos 90 (que digo eu?!) já eu usava, como radioamador, as chamadas BBS (Bulletim Board System) usando a internet (que nós nem imaginávamos que viesse a ser tão banalizada como é atualmente) via rádio. Material: emissor/recetor, modem, antena para modular/demodular sinais analógicos em digitais e vice-versa. Servíamo-nos duma rede de estações de radioamador espalhadas por todo o mundo. Uma SMS podia demorar várias semanas a chegar ao destino. Uma imagem (a maior parte das vezes de baixíssima resolução) era transmitida linha a linha e a sua transmissão dava-nos tempo para ir almoçar ou beber umas cervejas... quantas vezes até passar pelas brasas!
Que tempos aqueles! ... Com que rapidez a tecnologia tem evoluído imparavelmente! Até onde é que vamos chegar?
Esta geração, a que inventou a internet, é uma geração incrível! ... E gabamo-nos disso... será que conseguimos fazer uma ponte entre o passado romântico e o Futuro cósmico? Será que conseguimos um dia, em nossa vida, ainda vir a entender minimamente o Universo????! ...
Desculpe, Isabel, estou-me a perder ... no Tempo ... e no Espaço ...
Regresso à Terra....
Um abraço muito afetuoso!
Os dias são para se viverem, calmamente. Para quê questionarmo-nos acerca do tempo? Ele será o que for... não precisamos de nos angustiar com a vida ou ainda a tornamos mais curta...
ResponderEliminarA sua experiência é fascinante. Eu sou uma infoexcluída... :D
Há muitos anos, talvez por morarem perto de mim, eu ouvia através da minha televisão a conversa do filho do taxista Sr. Fernando "cadelinhas" de alcunha, a conversar com as amigas e juro que detestava. Demorou até conseguirem resolver o problema que, por certo, também os perturbava. Talvez devido a esta situação estranha abominei durante muito tempo tudo o que fosse comunicar, sem se de viva voz ou pelo telefone. Agora, passou-me...
Abraço também para si.