Vai daí calhou-me o prefácio, mas como eu não gosto de prefácios, resolvi chamar-lhe outra coisa...
A
Expansão no feminino
Ana
de Chaves
Quem é Ana de
Chaves? Poderão perguntar alguns, tal como eu perguntei a Cristóvão Santos,
pois que dela apenas sabia ter dado o nome à baía e ao Pico, em tempos
considerado o mais alto de São Tomé, quando este, febril de entusiasmo e já com
a investigação iniciada me abordou no sentido de trocarmos impressões sobre o
novo trabalho a que se propunha.
Na pesquisa
histórica a que essa conversa com Cristóvão Santos me levou fui descobrir mais
que uma mulher fascinante, sobre a qual, em muitos aspetos, os investigadores
ainda não chegaram a acordo, talvez um mito, se se considerar como mito “uma
realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada
em perspectivas múltiplas e complementares”(1), mais um nome feminino
absolutamente incontornável na expansão marítima portuguesa, mais uma mulher
que, e não menosprezando o facto do maior papel das mulheres na expansão ser
sem dúvida o de mães, ter sido o de dar aos mares os homens aventureiros e
destemidos que o afrontassem, logo seguido de, em terra, assegurarem o trabalho
que a ausência dos homens lhes deixava como obrigação, se terá notabilizado por
mais feitos do que esses, próprios do destino comum e por isso injustamente
banalizado das mulheres da sua época, dado que o tempo a agigantou e a memória
coletiva que a trouxe do século XVI ao século XXI a perpetuará no futuro.
É pois em plena
época da expansão marítima portuguesa, mais precisamente na segunda
metade do século dezasseis, no reinado de D. João III, que se situa esta história da História, já que de uma
novela se trata, tendo por cenário, como pelo título facilmente se adivinha, a
ilha de São Tomé.
Ana de Chaves,
bisavó de uma outra mulher com o mesmo nome, que entre muitos bens terá tido
terras doadas em 1535, em regime de sesmaria, seria de origem europeia, não se
sabendo se judia, se filha do rei D. João III ou aia da rainha, que esta por
ciúmes teria feito desterrar, chegando mesmo alguns depoimentos a mencionarem
Cezilia Chaves (falecida em 1540), sua mãe mandada para São Tomé acompanhada da filha, com alargado dote constituído por possessões
territoriais. Sabe-se contudo, que teve uma vida de grande senhora, que recebeu
em sua casa viajantes influentes de todo o mundo conhecido que aportaram a São
Tomé e que terá criado e protegido instituições de caridade.
É esta Ana de Chaves
que vamos encontrar ao longo das páginas deste livro. Foi a essa mulher que,
tendo enviuvado e casado segunda vez, sem que a história nos tenha feito chegar
o nome do segundo marido, Cristóvão Santos ficcionou parte da vida, dando-nos a
apreciar, numa leitura agradável, as dificuldades e a relevância económica da
colonização, a necessidade de reconhecimento político dos novos territórios e
de como o reconhecimento social, posterior a todos os outros, passava sempre
por uma política de casamentos.
Desejo que vos seja
tão grata quanto para mim, foi a leitura desta novela.
Isabel Soares
(1) Mircea Eliade, Aspectos do Mito
Se essa Ana for como "as minhas" muito haverá para dizer...
ResponderEliminar:)
Venha de lá esse livro!