Quando era pequenina... pois é verdade, também já fui pequenina... diziam que era o Menino Jesus que me dava as prendas no Natal.
Eu colocava o sapatinho na chaminé, já em camisa de dormir, prontinha para entrar na cama e a curiosidade tomava conta de mim naquela noite de vinte e quatro para vinte e cinco de dezembro, até conseguir a muito custo adormecer, para só de manhã me aquietar e comover com a generosidade do Menino Jesus.
Eu achava o Menino Jesus altruísta. Na verdade, nem sabia que a palavra existia, mas achava-O muito bonzinho, porque Ele, um Menino que gostaria de brincar, dava os brinquedos a todos os outros. Parece-me até, que foi graças a este conceito de generosidade, que minha mãe conseguiu que eu desse, com o coração em chaga, todos os brinquedos a uma menina da Carreira, de que nem lembro o nome, quando ela entendeu que eu não tinha idade de brincar com eles. Foi pois com dor, que aprendi a dar aos outros, se calhar acontecia o mesmo em cada Natal ao Menino Jesus. E a minha mãe, bem na linha de minha avó Isabel, sempre foi assim: capaz de dar até a camisa, desde que achasse que ela servia alguém, que ela tinha uma função social ao serviço do próximo.
Nunca entendi muito bem como é que o Menino Jesus transportava tanto brinquedo e os distribuía pelas chaminés de cada casa, mas como o serviço aparecia feito e bem, nunca me preocupei muito em desvendar o mistério.
Muito mais tarde, o Menino Jesus, talvez devido ao cansaço, fez-se substituir pelo Pai Natal. Este vinha de trenó, puxado pelas renas e distribuía as prendas. Como figura mais possante, percebia-se melhor que aguentasse a trabalhar a noite inteira sem enganos e canseiras.
Mas as chaminés foram sofrendo alterações. Encheram-se de antenas e algumas até de heras. "Como entrar?" - questionava-se o Pai Natal.
Optou por escadas de corda...
tentou subir a pulso...
Aprendeu até aquele novo desporto urbano, que a ignorância não me permite saber o nome, e pulou até à varanda desta casa...
Noutras usou o trapézio do Circo Moderno que está lá em baixo no espaço da Feira de Maio, para dar um ou outro espetáculo, na esperança de que o içassem para dentro.
O Pai Natal, embora com muitas horas de ginásio, não tinha preparação física à altura do esforço exigido. Ao fim de tantos anos por aí numa azáfama destas, os músculos não são o que foram e ele é contra as substâncias artificiais com que muitos obtêm aquele aspeto de "dinamite".
Creiam, foi um desepero esta Noite de Natal.
Desesperado, caindo de cansaço, perdeu o saco e acabou enforcado, em indecente e má figura, na varanda do primeiro andar esquerdo do prédio onde habito.
Eu moro no segundo direito... Percebem agora por que fiquei sem prendas?
Por acaso não gosto nada de ver estes Pais-Natal tipo boneca insuflável a trepar pelas janelas! Depois esquecem-se de os tirar e ali ficam, pobrezinhos, à chuva e à intempérie. Não gosto, pronto(s)!!!
ResponderEliminarBom Ano!
Olá, Gracinha! Obrigada por vires aqui dar um ar da tua graça. :)
EliminarTu já reparaste bem que o que se enforcou na varanda do meu prédio até tem os "interiores" à mostra? Uma "sem vergonhice", é o que é.
Desejo-te uma Ano Novo MUITABOM, com MUITAMASSA e MUITASAUDE. Beijinhos