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terça-feira, 1 de abril de 2014

OUTRO ANIMAL DOMÉSTICO


Jantávamos os quatro: o André, de oito anos, a Rita de dois, o Afonso, um dos seus primos direitos, com três anos de idade e eu. Circunstâncias adversas haviam-nos juntado nessa tarde de domingo, dia trinta de março, cabendo-me cuidá-los até que os pais chegassem.

A Rita aproveitava magistralmente a circunstância de o Afonso se encontrar pela primeira vez ao meu cuidado, pois isso fazia com que eu atendesse às suas exigências, dado que era necessário que ele não sentisse a falta da mãe e do pai. Ora se eu fazia todas as vontades ao Afonso, também podia atender às dela… Como ele não gostava de sopa, ela a comê-la com apetite, também não gostava; o Afonso não gostava de cogumelos, ela farta já de os comer, também não queria… E o jantar ia decorrendo entre colheres de sopa e garfadas de arroz com a minha paciência à mistura.

A certa altura, O André dirigiu-se ao Afonso:

- Diz o nome de um animal selvagem. 

E da boca cheia do Afonso saiu “leão” embrulhado em bagos de arroz e bocadinhos de carne.

- Avó, como se chamam os animais que podem estar em nossa casa?” - perguntou-me o André.

-  Domésticos.

- Afonso, diz um animal doméstico.

- Doméstico. - respondeu este pronunciando mal a palavra.

- Não é para repetires, é para dizeres o nome de um animal doméstico. – esclareceu André.

Eu apercebendo-me que Afonso não dominava o conceito, dei uma ajuda:

- Gato, cão…

-Cão. - repetiu Afonso.

- Não digas avó. - Afonso, diz o nome de outro animal doméstico.

Então a Rita, de nariz no ar, sentencia:

- Outro cão.