Jantávamos os quatro: o André, de oito anos, a Rita de dois, o Afonso, um dos seus primos direitos, com três anos de idade e eu. Circunstâncias adversas haviam-nos juntado nessa tarde de domingo, dia trinta de março, cabendo-me cuidá-los até que os pais chegassem.
A Rita aproveitava magistralmente
a circunstância de o Afonso se encontrar pela primeira vez ao meu cuidado, pois
isso fazia com que eu atendesse às suas exigências, dado que era necessário que
ele não sentisse a falta da mãe e do pai. Ora se eu fazia todas as vontades ao
Afonso, também podia atender às dela… Como ele não gostava de sopa, ela a
comê-la com apetite, também não gostava; o Afonso não gostava de cogumelos, ela
farta já de os comer, também não queria… E o jantar ia decorrendo entre
colheres de sopa e garfadas de arroz com a minha paciência à mistura.
A certa altura, O André
dirigiu-se ao Afonso:
- Diz o nome de um animal
selvagem.
E da boca cheia do Afonso
saiu “leão” embrulhado em bagos de arroz e bocadinhos de carne.
- Avó, como se chamam os animais
que podem estar em nossa casa?” - perguntou-me o André.
- Domésticos.
- Afonso, diz um animal doméstico.
- Doméstico. - respondeu este pronunciando
mal a palavra.
- Não é para repetires, é para
dizeres o nome de um animal doméstico. – esclareceu André.
Eu apercebendo-me que Afonso não
dominava o conceito, dei uma ajuda:
- Gato, cão…
-Cão. - repetiu Afonso.
- Não digas avó. - Afonso, diz o
nome de outro animal doméstico.
Então a Rita, de nariz no ar, sentencia:
- Outro cão.