Era uma vez uma menina que gostava muito de um porquinho cor-de-rosa, meigo e fofinho como só ele sabia ser.
Xubi, assim se chamava o porquinho, habitava algures na floresta de cimento e cumpria os seus dias, pardos uns, mais coloridos outros, numa sequência de bolas enfiadas num cordel.
Menina dera, na Primavera, o coração a Xubi e agora, que se aproximava o Natal queria dar-lhe uma prenda e não sabia o quê. Bem lhe tinham ensinado que prendas só se dão nas alturas certas, mas o coração fora uma prenda que ela dera sem pensar quando, nem saber como ou porquê. Dera e pronto. Não havia nada a fazer, a não ser… procurar outra prenda para oferecer no Natal. Mas lá que era difícil, era…
Menina queria oferecer uma coisa diferente. Uma coisa que inquietasse Xubi, que lhe tirasse o medo de errar quando quisesse fazer diferente, que lhe desse a meio a fúria de chegar ao fim, ou a clarividência de voltar ao princípio para começar de novo.
- Mas onde arranjar uma prenda assim?
- Que coisa terá tais funções? - Perguntou Menina aos botões do bibe.
- Hum, isso são funções de mais para uma coisa só. – Resmungaram os botões que só sabiam estar à janela.
Menina estava atrapalhada.
- O Sol! – Exclamou de repente. - Como é que não me lembrei antes? O Sol é tão bonito! Renova-se em cada manhã sem se importar que o dia acorde rabugento. É sempre quente, amarelo, luminoso.
- Sol, entra nesta caixa, vou embrulhar-te em papel colorido, colar-te dois caracóis de fita e dar-te ao Xubi, neste Natal.
- E quem faria o meu trabalho? Mal me deito aqui, logo me levanto acolá. Sem mim enregelariam as mãos de todos os meninos; os seus olhos perderiam o brilho; os dias seriam noite sem esperança e a Terra uma monótona bola preta. Quando nasço sou para todos. Não podes dar-me ao Xubi.
- Pois é, o Sol tem razão. Vou procurar outra coisa.
-Gotinha de orvalho entra nesta caixa, vou embrulhar-te em papel colorido, colar-te dois caracóis de fita e dar-te ao Xubi, neste Natal.
- E quem faria o meu trabalho? Não tenho um segundo de descanso. Sou o espelho onde o Sol se penteia; a frescura dos pássaros da floresta; a alegria das florinhas do campo; o bordado da teia em que me baloiço; a musa dos poetas que cantam a leda madrugada. Sou de todos Menininha. Não podes dar-me ao Xubi.
- Gotinha de orvalho tens razão. Terei de procurar outra coisa.
- Sementinha entra nesta caixa, vou embrulhar-te em papel colorido, colar-te dois caracóis de fita e dar-te ao Xubi, neste Natal.
- E quem faria o meu trabalho? Vês-me aqui quieta, mas não estou a dormir, ensino as pessoas a esperar; com a ajuda da gotinha de orvalho ensino a vontade firme de olhar o Sol e depois de abrir caminho e olhá-lo nos olhos fabrico o ar que respiras e o perfume que te regala. Sem mim não haveria diferença. Como vês sou de todos. Não podes dar-me ao Xubi.
- Também tu sementinha?
-Também eu Menininha.
- Talvez a Terra me ajude.
- Terra entra nesta caixa, vou embrulhar-te em papel colorido, colar-te dois caracóis de fita e dar-te ao Xubi, neste Natal.
- E quem faria o meu trabalho? Guardo fresquinha a água que bebes; conservo o calor do Sol; embalo a vida que explode em cada Primavera; sou a certeza onde pisam os teus pés.
- Também tu és de todos?
- Sim, também eu e com o Sol, a gota de orvalho e a sementinha somos a esperança, o eterno retorno, o sentido do teu sonho.
- Mas o Xubi? Deixo-o sem prenda neste Natal?
- Fecha os olhos e deseja.
Então Menina fechou os olhos e desejou. Desejou com muita força…
Aconteceu o sonho.
Menina virou borboleta e a partir deste Natal, que ninguém sabe quando aconteceu, até ao fim do tempo, Xubi será o único porquinho cor-de-rosa, meigo e fofinho com uma borboleta na ponta do nariz.