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quinta-feira, 24 de maio de 2012

JARDIN D' HIVER

Fui ao concerto e fiquei maravilhada.
Convido-vos para dançar.




quarta-feira, 16 de maio de 2012

À BEIRA DE ÁGUA

Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.



Eugénio de Andrade
Os Sulcos da Sede

segunda-feira, 14 de maio de 2012

VENTO


VENTO

As palavras
cintilam
na floresta do sono
e o seu rumor
de corças perseguidas
ágil e esquivo
como o vento
fala de amor
e solidão:
quem vos ferir
não fere em vão,
palavras.

Carlos de Oliveira (1921-1981)

DA NOITE AO SILÊNCIO

quinta-feira, 10 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

AINDA ABRIL

A 25 de Abril, um amigo enviou-me um poema.


tarde cinzenta em abril



da minha aldeia vê-se o mar e a orla branca namorando a duna
que submerge na bruma pendurada nos pinheiros que ecoam
o som cavo das águas que adivinho revoltas como a chuva caída

é hora de estender o olhar e encontrar para lá da janela embaciada
a ternura doce e suave deste cravo onde o meu peito se aconchega

orlando cardoso
25.04.12


  • E a resposta que me mereceu:


    O tom baço da tarde esperava por ti…

    A orla branca adquiriu a cor do sol poente, quando o teu olhar aqueceu a distância. 

    E mais cravos floresceram na duna...

domingo, 6 de maio de 2012

sábado, 5 de maio de 2012

O PEDIDO


Eu brincava, no PC, literalmente. Entretinha-me com um qualquer jogo de cartas quando a campainha tocou. Facto inédito! A campainha da porta enferma de um mau contacto que a impede de funcionar nas devidas condições por isso, quem se quer fazer ouvir, normalmente bate à porta com os nós dos dedos. Pois a campainha tinha acabado de dar um ar da sua graça.

Levantei-me e fui espreitar. O meu amigo VL, que reside a duas escassas centenas de metros, aguardava.

Abri a porta e ele, com um largo sorriso começou por me avisar “tenho muita pressa, mas não quis deixar de passar por aqui. Não me esqueci do seu pedido”. A minha cabeça rodopiou - pedido? - e eu comecei a espremer os neurónios enquanto ia fazendo os cumprimentos, como ia a saúde, a família… - pedido? mas que pedido? - E eu tentava retroceder a uma velocidade supersónica para lembrar-me a que pedido o meu amigo se referiria - eu fizera um pedido? Eu, prima direita da supermulher, com a mania da autossuficiência, fizera um pedido que o meu amigo vinha satisfazer? – “Entre, sente-se um bocadinho. Não vai ficar à porta” “não me diga que já não se lembra do que me pediu?! Não vim antes porque não estava em condições de satisfazer o seu desejo” – Santa Bárbara! Socorro! O que terei pedido? Ah! Já me falha a memória! Que tristeza! - E enquanto tentava ser agradável com o meu amigo VL, com quem até faço alguma cerimónia, debatia-me ferozmente comigo própria.

O VL entrou, sentou-se e sempre com o mesmo riso divertido tirou do bolso o meu presente: um pequeno saco de plástico da farmácia com alguma coisa dentro. “Se é da farmácia só pode ser remédio e sendo remédio far-me-á bem à saúde” disse eu em desespero de causa, fula por não conseguir lembrar-me do hipotético pedido e tentando disfarçar o mais possível a falha que estava a cometer com o meu amigo, por não me lembrar do episódio que este referia.

Então o VL, homem dado a eloquências infindáveis, ensaiou um discurso pomposo cuja conclusão, para não estar com mais delongas se pode resumir na simples frase: cada um dá o que tem e a mais não é obrigado, princípio a que ele naquele momento dava cumprimento, pela grande amizade e consideração que me tinha e, finalmente, tira do saco da farmácia a panaceia de todos os meus males: um barquinho de plástico verde e amarelo, um speedboat, com uma argola atrás, presa a um fio que o faz mover velozmente, com o qual eu, no próximo banho de imersão, chegarei num instantinho às Sheychelles.


Já tenho iate próprio, só falta a tartaruga para me passear na praia…

terça-feira, 1 de maio de 2012