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sábado, 27 de novembro de 2010

NATAL

Naquela terça-feira de arrumações, dedicada a rasgar papéis, encontrei muita gente. E, entre pedaços de uns e de outros também encontrei alguns meus.

Quantos dias faltam para o Natal? Que importa? Na escuridão da noite, lá fora, o frio aperta e ainda nem é Inverno!

Escrevi o poema numa noite de 24 de Dezembro de um ano qualquer, que aconteceu há muito tempo!
O mote é de Ary dos Santos "O Natal é quando um homem quiser". A mim apetecia-me que fosse hoje!


Quisera estar contigo este

momento

Desfrutando-te para além

do pensamento


Quisera dar-te a Boa Estrela

de presente

Beijando-te os lábios

levemente


Quisera viver contigo essa

magia

Que torna cálida uma noite muito

fria


Na pequenez do presente

magia

é tudo o que nos resta


Sobra-nos em amor

o que nos falta em tempo


A nossa vida é um momento


Na tal noite

Na tal madrugada

NATAL QUANDO TU QUISERES

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O CHAPÉU DE FELTRO VERMELHO

O chapéu de feltro vermelho faz-me lembrar o Sidónio Muralha: “O HOMEM BOM E JUSTO DO CHAPÉU VERDE”e quase me apetecia começar como ele “Já todos sabem o que é um chapéu, mas talvez nem todos saibam o que é um homem bom e justo… “

Bom, nem eu me posso comparar a Sidónio Muralha, nem pretendo falar de igualdade de direitos, embora o tema seja sempre pertinente, o chapéu de feltro é meu e não de um homem e ainda por cima é vermelho e não verde.

Banidas todas as hipotéticas semelhanças resta-nos o conceito original de chapéu, sobre o qual nem vale a pena dissertar, porque já todos sabem que é um objecto, mais ou menos rígido, que serve para proteger a cabeça.

Pois, há anos, comprei um chapéu. Um lindo chapéu de feltro vermelho! Foi “amor à primeira vista”; entrei na loja com outra intenção, olhei para ele, experimentei-o e decidi de imediato que seria meu.

Fiz a aquisição para nunca me esquecer de que a vida vive-se todos os dias. Usualmente, quando o “folgo” abranda, abro o roupeiro, retiro-o da prateleira onde o guardo e coloco-o na cabeça.

O espelho onde me miro é uma composição rectangular de quadrados que colei no interior da porta desse mesmo roupeiro e então, por muito triste que esteja (as tristezas em mim não duram muito) é impossível não rir da garridice da imagem daquele puzzle de quadrados que os anos tiveram um trabalhão a ajeitar.

O meu chapéu de feltro vermelho é o símbolo da coragem com que tento vencer as vicissitudes da vida. Felizmente, ao longo dos anos, tenho-o colocado poucas vezes na cabeça porque não desanimo facilmente.

O chapéu de feltro vermelho preservado numa redoma de vidro, merecia um lugar de destaque na decoração da minha casa.

No dia em que festejar o octogésimo aniversário, colocá-lo-ei na cabeça e, pela primeira vez, assim enfeitada, irei passear pela rua. Nesse dia, o chapéu de feltro vermelho simbolizará a alegria de ter atingido mais um objectivo na vida.

Para já, para que neste Inverno não me falte o estímulo, comprei uma boina vermelha. Com essa ver-me-ão andar por aí.

ARRUMAÇÕES

Numa passada terça-feira, deu-me para as arrumações.

Não há ninguém, a não ser o Pacheco Pereira que junte tanta papelada como eu. Não que ele me tenha convidado para ir tomar uma copo lá a casa e eu visse alguma coisa fora do lugar. Nada disso! Acontece que, numa qualquer revista, vi publicada uma foto do dito senhor na biblioteca e reparei que aquilo era um susto muito maior que o quarto azul, que foi como a minha filha mais nova apelidou a divisão onde divago, martelando no teclado do computador, local a que em tempos idos se chamaria escritório. Bom, o senhor citado é um intelectual ao pé de quem eu mal sei ler e escrever, o que justifica o amontoado de papéis; eu não tenho desculpa e vai daí e de vez em quando, lá trato de rasgar alguns.

Acresce confessar que gosto de ler de lápis na mão e que vou fazendo anotações das passagens mais interessantes dos livros que vou lendo, por vezes sabe-se lá onde!

Hoje, ao abrir um caderninho de capa dourada e lombada preta salta-me à vista Manuel Alegre

“Meu amor é marinheiro

quando as suas mãos me despem

é como se o vento abrisse

as janelas do meu corpo”

Esta é a quadra de que mais gosto do poema: Trova de Amor Lusitano e a sua leitura deu-me uma vontade quase irreprimível de ouvir Adriano Correia de Oliveira. E o disco? Bom, à falta de gira-discos, que há muito já não possuo, está com todos os outros arrumado numa estante que possuo na garagem. Ainda pensei, vou à Net e delicio-me, mas fiquei num vou, não vou, que nem sequer chegou a merecer honras de talvez, por me lembrar que Adriano não cantava esta quadra.

Abril de setenta e quatro deu som à palavra liberdade, que antes não passava de um suave murmúrio, mais adivinhado que ouvido por cada um de nós e a partir de então vá de gritá-la ou cantá-la pelos anos em que a desejámos em silêncio.

Por isso, se bem me lembro, esta magnífica quadra, que tanta sensualidade transmite, não é cantada no disco. Ele canta, se a memória não me atraiçoa,

Meu amor disse que eu tinha

na boca um gosto a saudade

e uns cabelos onde nascem

os ventos e a liberdade

E sabem o que vejo sempre que lembro esta quadra? Aquele magnífico trabalho de Augusto Mota que estava no café Colipo, colocado na parede em frente à porta, “A Lenda do Lis e do Lena”. Não me perguntem porquê, pois não saberei responder; o quadro não terá nada a ver com a quadra, ou talvez tenha, mas não me vou pôr à procura de razões. O que posso garantir é que quem alguma vez o contemplou ficou bem mais rico de sensações pois é nuns cabelos assim que “nascem os ventos e a liberdade”.

E neste contraste de rasgar papéis e compor divagações, com a imaginação a levantar voo sem plano ou vento a favor, deu-me uma fome terrível. Eram dezasseis horas e ainda não tinha almoçado.

Largo papéis e poemas, avanço para a cozinha, atiro-me aos tachos e afins e dou comigo a almoçar pataniscas de bacalhau.

O que Freud não diria disto?!

domingo, 7 de novembro de 2010

UMA VIAGEM AO CONTRÁRIO

TEIAS DA VIOLÊNCIA

Teve lugar hoje, dia 6 de Novembro o Seminário Teias de Violência , no Hotel Eurosol, em Leiria, promovido por MULHER SÉCULO XXI - Associação de Apoio às Mulheres, sita na Av. Marquês de Pombal , Lote 25 -1.º A.

Com muita pena não consigo publicar aqui o magnífico cartaz.

Para uma sala cuja lotação era de cento e setenta e quatro pessoas houve duzentas inscrições. Estive presente em representação da Junta de Freguesia de Marrazes e pude comprovar que, num magnífico Sábado de sol, o público era maioritariamente jovem. As intervenções que versaram a igualdade de género, a violência doméstica, a violência no namoro e a violência contra os idosos foram interessantíssimas.

Se os números de que ouvi falar me constrangeram, tal como a tomada de consciência de que também para mim chegará a velhice, coisa em nunca tinha pensado tão seriamente, alegrou-me o facto de ouvir que muito já se faz em defesa de quem precisa de ajuda e encantou-me sobretudo o entusiasmo com que as equipas presentes defenderam os seus projectos. Fico sempre fascinada quando oiço alguém falar com amor do trabalho a que se dedica.

Está de parabéns a Dra. Maria Isabel Gonçalves, Presidente da Mulher Século XXI, pela extraordinária forma como decorreram os trabalhos.

Não posso deixar de felicitar também a jurista Dra. Filomena Baptista que, de forma brilhante, coligiu as conclusões dos trabalhos do dia.

sábado, 6 de novembro de 2010

MOLESKINE

Ontem, comprei o meu Moleskine para 2011.
Tenho a mania dos cadernos de capa preta. O preto resulta da ausência de cor e eu acredito que assim vou colorindo os dias a meu belo prazer. Anos atrás costumava mesmo usar dossiers de arquivo negros, em que fazia colagens de frases, gravuras e recortes vários de jornais e revistas. Depois cobria tudo com papel autocolante transparente e, modéstia à parte, o produto final era muito interessante.
Mas ontem eu ia com a ideia fixa “o Moleskine tinha de ser diferente”, receava era que a Arquivo me traísse. Entrei e, atrás do balcão estava uma menina estilo bolinho de coco, daqueles com muitas gemas, que não vão ao forno e levam muito açúcar, disse ao que ia e antes da pequena ter tempo de abrir a boca dirigi-me ao expositor e servi-me “é mesmo isto que quero”. Entretanto ela já estava atrás de mim, possivelmente receosa de que com tanta genica eu fugisse com a livraria às costas, “também temos outros, depende do tamanho que deseja”, disse-me ela, “é mesmo isto que quero, cor, tamanho e modelo”. Ela condescendeu e premiou-me com o seu sorriso mais simpático, digo eu que nunca lhe vi outro, e desandou para trás do balcão, para que ultimassemos o contrato de compra e venda.
E assim me tornei proprietária de um lindo Moleskin de capa vermelha, em que os dias não estão divididos por horas, mas onde não me faltam folhas para escrever. Que me importam as horas! Desde que me reformei que os relógios cá em casa não atinam, mais cinco ou dez minutos, tanto faz, mas este ano, com a entrada na Junta de Freguesia o stress voltou a apoderar-se do meu dia-a-dia. Isso vai mudar. Não volto a correr à frente das horas! Contudo, 2011 ainda não pode chegar, primeiro porque estão por cumprir muitos dias de 2010, e depois porque ainda não personalizei o meu novo Moleskine, ainda não fiz o meu 2011.
O meu Moleskine de 2010 abre com Pessoa (Ricardo Reis, Odes)”Cada dia sem gozo não foi teu/Foi só durares nele. …Feliz a quem, por ter em coisa mínimas /Seu prazer posto, nenhum dia nega/ A natural ventura!”
Para o Moleskine de 2011 balanço entre Saramago “É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já…… é preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e parar traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre” e Manuel Alegre “O que é preciso é poesia dia a dia”.
E para o dia dos meus anos o que vou escolher? Não conheço nada que quadre tão bem comigo como Pessoa, Tabacaria “Não sou nada/Nunca serei nada/Não posso querer ser nada./ À parte isso, /Tenho em mim/todos os sonhos do mundo”. Foi o que escolhi para Março passado. Depois, pelo que de bom me foi acontecendo ao longo do dia, passado sobretudo a brincar com o André por conta da varicela, não resisti a acrescentar “Qui vit sans folie n’est pas si sage qu’on croit (La Roche Foucauld), (Quem vive sem loucura não é assim tão sábio como se julga).
Bom tenho de parar para pensar, ir até S. Martinho do Porto, sentar-me no “Pato Bravo” ou na esplanada do “Bohemia”, conforme o tempo, mergulhar numa chávena de chá, e dar duas braçadas porque continuo a “andar espantada de existir”.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CRUZEIRO À ILHA DA MADEIRA



Setembro desfolhou-se numa agonia lenta...
Acabaram-se as férias de Verão.
Para o ano haverá mais - cruzeiros NÃO!!!!!! (Estou fornecida de forte ondulação de noroeste por uns tempos largos...)

VILA NOVA DE SANTO ANDRÉ



Rabiscando uma notas sobre Vila Nova de Santo André

LONDRES




A "tia" Elisabete emprestou-me o automóvel e foi assim que me passeei por Londres

S. MARTINHO DO PORTO



Finalmente descobri como dar um novo colorido ao blog. E, claro está, teria de começar por publicar uma foto de S. Martinho do Porto.
Quem adivinha de onde foi tirada a foto?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NATAL DE 2004 OU 2005?

Ela aproximou-se da mesa onde eu jantava e no melhor dos seus sorrisos sentenciou “este ano não tens direito a prenda"”homessa!“ reclamei de imediato “obriguei cerca de cem velhinhas a atravessar a rua, mudei as fraldas ao Menino Jesus, escrevi atempadamente ao Pai Natal e vens tu agora com essa de que não tenho direito aquela malga jeitosa que o João Pedro anda aí a distribuir?! Como é que vou viver sem aquilo?"

Permitam-me um parêntesis - Acho que foi até por ter ouvido esta minha reivindicação que o publicitário (nem sei qual) inventou aquela “eu vivia sem isso, mas não seria a mesma coisa”.

Ela continuou a rir desenfreadamente voltou as costas e eu continuei a jantar e claro, tive direito à malga e ainda escolhi uma oval que achei mas original que a circular que me calhara em sorte, embora entre uma e outra bem pudesse ser o diabo a escolher. Convém acrescentar em abono da verdade que a beleza das prendas, a utilidade, ou o seu valor material é absolutamente irrelevante, importante é o Conselho Directivo do Agrupamento da Escola se lembrar dos colegas e por isso se dar ao trabalho de adquirir uma lembrança, de a embrulhar e enfeitar com um lacinho. A malga, oval ou circular, bonita ou feia simbolizava gentileza, simpatia, dedicação, entrega, disponibilidade, sentido do outro. Isso sim é relevante, isso sim é louvável.

Mas no fim do jantar ela voltou à carga “larga a malga, que não a mereces” e eu, “pois, queres duas é para poupares nos presentes deste ano” e ela ria e eu nem achei o riso desproporcionado à piada, porque os professores quando confraternizam brincam como se fossem adolescentes.

“Foste má para o Diomar e ele não merecia.” E continuava rindo.

“Má?! “ Eu cada vez percebia menos e a Piedade explicou que quando eu chegara e cumprimentara o Diomar, este gentilmente dissera “estás um pão, Isabel”, ao que eu respondera prontamente, para notória decepção dele “duro!”.

Reconheço que qualquer outra senhora teria agradecido com um sorriso simpático. Era o que eu deveria ter feito, mas eu sou neta da minha avó Joaquina Joana que adorava rir-se dela e ainda herdei o humor cáustico do meu pai e depois se eu tivesse dito “que gentileza, muito obrigada” de que se teria rido a Piedade durante dias e dias a fio? De que estaria eu escrevendo agora? E o Hotel Cristal, da Marinha Grande teria para mim algum significado especial?

É com este sorriso alegre que a minha resposta intempestiva pôs na face da Piedade que eu vou guardar a sua imagem.

Até sempre amiga!

O Diomar era um bom amigo que mesmo depois de deixarmos de trabalhar juntos arranjava tempo, todos os dias, para me enviar e-mails. Certa manhã de Domingo, tinha acabado de lhe enviar algumas piadas, quando recebo um e-mail da Cila “ O Diomar está mal. Disseram-me que deu entrada no hospital” e ainda eu não tinha acabado de redigir a resposta a tentar saber mais alguma coisa, quando recebi outro “ O Diomar morreu”. E assim abruptamente fiquei com menos um amigo.

Que descanses em paz!