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terça-feira, 31 de julho de 2012

A MINHA IDADE


No Ensino Primário é lei, ou pelo menos era, que cada professor iniciasse o processo de ensino /aprendizagem de uma turma de primeiro ano de escolaridade e o seguisse, sempre que possível, durante os quatro anos que dura o primeiro ciclo.

Assim, de quatro em quatro anos, os professores efetivos, recebiam um novo grupo de crianças. Essa sucessão de gerações obrigava a uma atualização constante, das abordagens possíveis do processo de ensino/aprendizagem e a uma renovação do estado de espírito de quem o orientava, muito mais difícil de conseguir que a atualização em métodos e processos. Perante as novas exigências, ao professor não restava senão a hipótese de se adaptar às circunstâncias da turma, para que os alunos encontrassem, gradualmente, as respostas necessárias ao seu crescimento harmonioso em cidadania, humanidade e conhecimentos básicos.

A renovação de alunos engana a noção de tempo e os professores nem se apercebem que envelhecem. Só o corpo, advogado do diabo, esse “desmancha-prazeres”, quando reclama “dói-me aqui, dói-me ali” lhes soma os dias…

Sou professora. Uso o tempo verbal no presente, porque embora aposentada, a escola vive em mim, faz parte da minha pele, das minhas vísceras, se quiserem, como dizia a Amélia Pais, até debaixo de água, como eu usava acrescentar.

Casualmente, no ano letivo em que completei trinta e cinco anos de idade, calhou-me ministrar uma turma de primeiro ano e assim, quando perfiz trinta e sete esse mesmo grupo frequentava o terceiro ano de escolaridade. Por essa altura, eu, acérrima defensora do ensino da redação, como texto que obedece a um plano, ou não trabalhasse com o Professor Eduardo Fonseca… ensinava às crianças a estrutura do texto começando pela descrição de objetos: o primeiro era uma maçã lavada e pronta a ser comida. Recolhiam-se os dado que a observação sugeria; no caso da maçã, todos os órgãos dos sentidos nos comunicavam saberes; ordenavam-se; elaborava-se o plano do texto; redigia-se. Tudo mercê de um trabalho bem mais moroso que a ligeireza das palavras faz parecer. 

A progressão do grau de dificuldade obrigava a que os objetos se fossem diversificando, até, numa etapa intermédia, chegarmos ao retrato. Então, como as crianças, por vezes, são cruéis em relação uma às outras, eu pedia que fizessem o meu e não o dos companheiros.

Por essa altura do processo ensino/aprendizagem, da turma que refiro, uma aluna a Ana Cristina, dois olhos de gente atrevidos a encimar uma boca irreverente, num corpo de enguia, com cabelos de andorinha, escreveu no seu texto “a minha professora tem trinta e cinco anos. Eu sei que ela tem trinta e sete, mas não quer que se saiba” Achei delirante e decidi, no momento, que não mais teria outra idade.
De então para cá, todos os anos e já lá vão muitos, no dia doze de Março, eu faço trinta e cinco anos.

Este ano, a minha filha mais velha, para quem a ordem é uma obsessão e a quem cabe providenciar o bolo, lamentava “com a brincadeira dos trinta e cinco anos, quando um dia olharmos as fotografias, nem saberemos quantos anos tinhas na altura” “quando olhares as fotos, não te preocupes com a cronologia; festeja o facto de eu estar viva no momento que recordas”.

Aqui para nós, aquele lamento era mesmo conversa de quem está mais velho do que eu… mas, não me pesa a consciência, eu avisei uma filha e outra e até o genro, que com a mania de somarem anos aos que tinham, chegaria o dia em que seriam mais velhos que eu. E, como atrás ficou provado, já aconteceu!

Na noite de sábado, dia vinte e oito de Julho, encontrei num jantar de beneficência, uma das minhas professoras primárias: a Sra. D. Deolinda Barbeiro, pessoa de quem gosto muito e que faz o favor de me atribuir algumas qualidades que não sei se terei o privilégio de possuir.

Ela chegou tarde, acompanhada do marido e de uma amiga, todos os presentes já jantavam. Logo que pude, levantei-me e fui cumprimentá-la “a senhora continua linda (e não exagerava), como gosto de a ver!” “linda?! Sabes quantos anos já tenho?” “trinta e cinco, é da minha idade” – ela riu e acariciou-me a bochecha – eu estava acocorada junto da cadeira em que se sentava, com receio de que ouvisse mal e sem querer que olhasse para cima. “Só tu!” E as tuas filhas?” “Já estão mais velhas do que eu. A Íris fez, há poucos dias, quarenta anos e a Zara fará trinta e sete em Novembro”. E, a conversa continuou com a leveza que a intimidade permite à ternura, para cessar com a retoma obrigatória dos acontecimentos em volta. Voltei ao meu lugar, de onde a fui mimando com sorrisos que me retribuía.

Na verdade, eu não menti à Sra. D. Deolinda. Tenho momentos em que sou mais nova que as minhas filhas, muitos mais em que não ultrapasso a idade do meu neto e outros, raros felizmente, em que sou mais velha que os noventa e quatro anos de minha mãe.

O meu bilhete de identidade jura, a pés juntos, que nasci em mil novecentos e cinquenta, contudo, a Germana, que exibe um número igual no seu, diz-se mais velha dez anos…

Vá lá saber-se quem fala verdade!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A PROVA





Jovem irreverente, sempre que a minha mãe me impedia de concretizar algum projeto, normalmente alguma saída com amigas para a qual não dava o aval, pois o meu pai deixava isso inteiramente ao seu critério, como último argumento eu declarava “sei muito bem que não gosta de mim. Abandonaram-me à  vossa porta e ficaram comigo, porque gostaram do cesto”. A minha mãe ficava exasperada, mas nunca a demovi com a irreverência. Antes pelo contrário; ela tinha a mão pesada e alguns tabefes me foram caindo em cima, sem que eu apreciasse a frequência e o peso da carícia.

A vida foi-se cumprindo obrigando-me a outras irreverências e eu esqueci esta. Não mais repeti aquela afirmação bombástica até ao dia que cheia de tonturas o médico diagnosticou tensão baixa. Já era uma mulher e ao chegar a casa de meus pais, morávamos próximo, interpelei de imediato a minha mãe “ lembra-se da minha desconfiança de terem ficado comigo por gostarem do cesto em que me abandonaram à vossa porta? Para além da prova documental que constitui a fotografia, posso exibir agora uma prova material de que não faço parte da família: tenho a tensão a 100/60 e vós sois todos hipertensos” “a falta de juízo tem é prova; nós somos todos ajuizados” respondeu a minha mãe que deixara há muito de dar importância às minhas tolices e ficara preocupada com a minha saúde.

Os anos passaram e eu fui vivendo muito bem com a situação. O que era a tensão baixa para uma jovem de vinte e sete anos preocupada em criar e educar duas filhas pequenas, uma de cinco, outra ainda sem ter feito dois anos, que o pai deixara inteiramente ao seu cuidado?

Os anos sucederam-se, pontapeando dificuldades, somando os êxitos possíveis, até que um dia, senti uma garra a oprimir-me o peito. “Estarei deprimida?” E, sem saber responder à questão, resolvi consultar o meu amigo Grilo, médico neurologista e antigo colega de Liceu, na tentativa de um bom diagnóstico dado que, conhecendo-me há tantos anos, saberia comparar o meu estado normal, com aquele em que me encontrava.

Naquela tarde eu era a última doente. Quando cheguei, já não estava mais ninguém na sala de espera e a Gracinda, rececionista, pediu-me que aguardasse. O Grilo abriu a porta a doente consultada saiu, olhou-me sem ver e disse “agora é a senhora, faça o favor de entrar” “mau – respondi – então venho cá para me dizeres se estou doida e o maluco és tu?”. Rimo-nos, entrei no consultório e começou a consulta.

Depois de análise cuidada dos dados que ia fornecendo e daqueles que ele, como clínico, ia procurando, o meu amigo Grilo sentenciou: “minha querida, não estás doida, tens a tensão alta” “não pode ser”- exclamei -  “pode, pode”.

A vida rindo-se de mim, vingando as tolices que fizera ouvir a minha mãe!





















Olhando as estrelas, de mão dada com a mãe...


Enternecendo-se com o pai...



Com o dobro da idade. Já "uma senhora".

domingo, 29 de julho de 2012

WALL YUO NEED IS LOVE

OS MEUS TEXTOS


Há dias, alguém escrevia que havia humor nos meus textos. E eu, que nunca tinha pensado nisso, remeti o facto à circunstância de ter nascido no seio de uma família de gente bem-disposta, independentemente de eu, há muitos anos, achar que o meu pai era severo e a minha mãe também, embora um pouco menos.

Em casa todos os assuntos eram falados à mesa de refeição e todos, eu incluída, tinhamos o direito de ser ouvidos. Riamos com facilidade, também chorávamos se era caso disso.

Quando eu, criança ainda, ia com a minha mãe, de comboio, à Figueira da Foz, visitar a Maria Manuela, amiga de minha mãe, proprietária da casa em S. Martinho do Porto, onde pela primeira vez pernoitei, o meu pai, à entrada do comboio, avisava sempre: “não te esqueças de, ao chegar, desceres do comboio, olhar para o chão, ver uma porcaria e começar logo a gargalhar. Ferró fó fó,  ferró fó fó.” A minha mãe ria e quando chegávamos à Figueira ainda ria mais. “Ri-se de quê?”- perguntava-lhe (porque será que nunca tratei a minha mãe por tu e o fazia com o meu pai?) “estou a fazer o que o teu pai mandou” e ria mesmo com gosto, possivelmente por se lembrar da recomendação e eu ria com ela, feita tonta, porque o seu riso era contagiante.

Quando na viagem de regresso saiamos do comboio, em Leiria, a primeira novidade que dava ao meu pai era essa: “cheguei à Figueira e fiz o que me mandaste. Fartei-me rir. ”Ouviu-se cá” – respondia invariavelmente o meu pai: “Ferró fó fó, feró fó fó”.

Quanto ao meu pai, era senhor dum humor cáustico, absolutamente demolidor. Não há como ouvir as histórias da boca do meu primo José Carlos que, alguns anos mais novo que eu, lembra coisa de que nem tenho memória.

O meu irmão era uma simpatia. Tinha sempre uma anedota para contar, uma brincadeira para promover. A sisuda da família era eu. Pousava os olhos no mundo e absorvia até o que não entendia, para mais tarde questionar a vida.

Já na primária, fui aluna da Sra. D. Maria Rosa Pires, amiga da minha mãe e possuidora de um sentido de humor inigualável. Nunca, ao longo dos anos que já tenho, encontrei quem escarnecesse das agruras da vida como ela. O humor com que analisava a desdita, tecendo histórias engraçadas, era insuperável. Até a minha mãe calava o "ferró fó fó", prostrada de admiração. E foi assim, enquanto viveu. Nunca faltaram as partidas originais de Carnaval, nem os ditos jocosos, cantando loas à vida, nem deixou de empurrar-me para a frente quando me adivinhava triste.

“Rir de si próprio é uma boa forma de cair” – disse-me um dia o malogrado Zé Luís, meu colega de liceu e médico pneumologista que seguia a minha filha mais nova – “Não. É uma forma de nos levantarmos” – respondi eu, que entretanto já aprendera a rir-me da vida, vingando o facto de ela se rir de mim.

Comecei a ler os textos publicados, desde o primeiro, coisa que nunca tinha feito. Um texto escrito e publicado deixa de pertencer a quem o escreveu, passa a ser de quem o lê, ganha asas e voa. A universalidade bate-lhe à porta. Tenho consciência de que o blog torna a universalidade enganadora. Texto que é publicado poderá nem ser lido… A quem poderá interessar? E, o que escrevo não têm qualidade para quem quer que seja poder encontrar resposta para as suas angústias, para se rever nas historietas, para se maravilhar com o estilo. Poder-se-á, ao menos, divertir por uns breves instantes?

Tenho rido com gosto, confesso, com o que tenho lido. Não pelo que escrevi, mas com os comentários que mereceu à benevolência de alguns dos meus amigos.

Na profusão de textos guardados neste PC, quando procedia à leitura sem recurso ao blog encontrei, por acaso, este:

O meu marido achava ser altura de termos um filho e embora eu discordasse das razões que ele alegava, embora muito jovem, conseguia perceber que com a sua forma de estar na vida “nunca seria altura” e “nunca” é o termo exacto, mesmo para quem acha que “nunca” é muito tempo…

Na primeira ida ao obstetra sugeriu que minha mãe nos acompanhasse. A consulta foi tarde, depois de jantar e quando chegou à minha vez de ser atendida ele já não estava no consultório. Tinha descido para apanhar ar. Chegada ao carro, parado junto à entrada do prédio, feliz com a certeza de que ia ser mãe, encantada por ter ouvido bater o coração do meu bebé, aguardava-me um bilhete colocado no pára-brisas: “Encontrei o M. e fui ao cinema. Vai para casa de táxi” E fui; com a alma estrangulada pela desilusão, mas disposta a viver as alegrias da maternidade sozinha, sem deixar que nada nem ninguém perturbasse aquele prazer novo. Quando ele chegou, eu dormia. Não o ouvi entrar, nem me apercebi que se deitara.

Acho que foi nessa noite que comecei a desenvolver uma nova técnica de meditação. Logo que me deito para dormir, fecho os olhos, acomodo o corpo, o bem-estar físico é importante, esvazio a mente e deixo fluir do meu íntimo toda a paz que sou capaz de inventar e assim adormeço na melhor das beatitudes.

Também por esta altura, desenvolvi uma extraordinária relação afectiva com trapos, agulhas, linhas, fios de lã e material afim. Sempre me disseram habilidosa de mãos e foi com fios de lã que, ao longo de nove meses, fui tecendo alegremente o amor à minha primeira filha. Nasceu no Verão, no fim do mês de Julho e possuía uma quantidade incrível de casacos e mantas, muitos dos quais nunca chegou a estrear. Chegada a altura de os vestir, aqueles eram pequenos e eu já havia tecido outros. A esta chamei Íris, juntando a leveza dos lírios à magnitude da deusa dos céus nos dias de chuva. Sim, eu gosto da chuva benfazeja!

Três anos depois, tudo se repetiu. E sabendo que se repetiria, havia dado toda a roupa da Íris e voltei a tecer com fios de lã todo o amor e alegria da minha segunda gravidez.

A minha segunda filha nasceu no fim do Outono. Deus premiou-me com mais uma ruiva, tão linda como a primeira, a quem chamei Zara, juntando a beleza da flor de laranjeira com o mistério da moura que, segundo a lenda, terá vivido no Castelo de Leiria.

O texto não foi concluído: Porquê? Sei lá porquê… Talvez achasse que as minhas filhas não precisavam de correr o risco de ler isto, embora saiba que não leem o que escrevo. 

Sei que o passado só define quem somos e que a vida se faz vivendo. O Cavalo Verde cavalgará algures. Espero-o, se for necessário, até ao fim da vida. Não abro mão do encontro.


sábado, 28 de julho de 2012

O MAR FALA DE TI





Eu nasci nalgum lugar
Donde se avista o mar
Tecendo o horizonte
E ouvindo o mar gemer
Nasci como a água a correr
Da fonte

E eu vivi noutro lugar
Onde se escuta o mar
Batendo contra o cais
Mas vivi, não sei porquê
Como um barco à mercê
Dos temporais.

Eu sei que o mar não me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Que te levei ao mar quando te vi
Eu sei que o mar não me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Quem dele se perdeu
Assim que te perdi.

Vou morrer nalgum lugar
De onde possa avistar
A onda que me tente
A morrer livre e sem pressa
Como um rio que regressa
Á nascente.

Talvez ali seja o lugar
Onde eu possa afirmar
Que me fiz mais humano
Quando, por perder o pé,
Senti que a alma é
Um oceano. 

Tiago Torres da Silva

S. Martinho do Porto: o local onde sonho melhor...

YOU'll NEVER WALK ALONE






Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
 Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!
F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra

terça-feira, 24 de julho de 2012

CAMINANTE NO HAY CAMINO






SIGO


Sigo
À margem de mim
mergulho os pés
na frescura do dia

As mãos acariciam
A latitude da ausência
Os passos marcam a cadência…

Marulham ondas
Negam-se os silêncios
Que o vazio das vozes não vestiu

E a solidão sorriu…


A paisagem reverdece
É primavera?
E que acontece?

Espero a vida?
A vida espera-me?


Um dia e outro dia
Sigo assim
Não caminho na praia
Mas em mim

terça-feira, 17 de julho de 2012

ESTAREI DOENTE?


Andei preocupada com uma situação para a qual não vislumbrava solução a meu contento. Diria mesmo que andei angustiada, rabugenta e zangada comigo própria. Às amigas, nem uma palavra sobre o assunto. Só gosto de falar dos problemas depois de restabelecida a normalidade, para me rir deles.
Em alturas destas, costumo correr para  S. Martinho. O passeio pela praia, na baixa-mar, a par e passo com o marulhar fininho das ondas e com a brisa a beijar-me a face, desata-me as ideias e os raciocínios fluem com mais rapidez… Sinto a praia deserta como se tivesse parado o mundo, saísse um bocadinho para voltar a entrar, logo após ter-me encontrado. Nesta altura do ano, adivinhava S. Martinho cheio de gente e eu não poderia desfrutar daquele espaço só para mim. 
Posto de parte o passeio à beira-mar, o que resta a uma mulher para refrescar a cabeça? Ir às compras! A época apresentava-se propícia. Por todo o lado se anunciavam promoções. Se bem o pensei, melhor o fiz. Meti-me no carro e, num ápice, estava no Shopping.
Montras e mais montras, um “entra e sai” de loja em loja. Apalpei tecidos, experimentei sapatos, apreciei malas, brincos, pulseiras e tudo o mais que havia para ver e mexer… Compras? Não fiz nenhuma, nada me agradou, nada vi que precisasse.
Na verdade eu não precisava senão da solução para o problema que me atormentava, contudo não é menos verdade que uma mulher encontra sempre alguma coisa imprescindível onde gastar os trocos. Quando tal não acontece, "algo de grave se passa" – garante uma das minhas amigas.
Estarei doente?

domingo, 15 de julho de 2012

LER


Ler! Que vício incrível! Não sei se por deficiência profissional, se por qualquer outra razão, ou se por razão nenhuma, tenho o vício de ler tudo, absolutamente tudo, em que os meus olhos tropeçam.

A amizade pusera-me a ler, no PC, obras não publicadas, mas eu sou do tempo (como a expressão sabe a anos de hábitos) em que se lia na horizontal, em que não bastavam os olhos, em que as mãos intervinham no ato de ler. Era preciso virar as páginas…

E que saudades eu tinha do papel! Pegar num livro e sentir as folhas, virá-las, sentir o cheiro, comendo sofregamente as palavras, saciando o tato…

Fui à “Boa Leitura”, procurava um Goleman, há muito adiado: “não temos, mas mandamos vir”. A menina puxou do bloco de encomendas; escreve, não escreve… Os olhos espraiaram-se pelas bancas, onde imensos livros se mostravam despudoradamente. Foi “amor à primeira vista”. Os nomes da autora, em letra alaranjada, em degradé, na capa escura de um livro de bolso, chamaram-me a atenção. Escrito assim, Tami Hoag justapunha-se à cor e tamanho do título da obra: “Águas Calmas”. A promessa de intriga fervilhava… Peguei no livro. A mão deslizou pela capa; o livro era maneirinho, como todos em edição de bolso. Que delícia ao tato!  “Vou levar este”.

Aconteceu dia cinco. Oito dias depois, as cerca de seiscentas páginas de leitura condensada estavam cumpridas, sem descuidar amigos e confraternizações.

Quem me conhece dirá que trai Irving Wallace, meu escritor preferido para este género literário, mas eu não precisava de ler, eu precisava de mexer num livro. Deixei-me seduzir pelo tato…

quinta-feira, 12 de julho de 2012

FATALIDADE



Não sei tecer
senão espumas,
nuvens
e brumas.
Coisas breves,
leves,
que o vento desfaz.

Como prender-te
em teia tão frágil?

Luísa Dacosta

sábado, 7 de julho de 2012

PARA OS AMIGOS


..............................
E de vós me levanto
e vos levo pesando
e ardendo até onde
me ajudais a ser
melhor ou talvez
menos só.

Vítor Matos e Sá, in 'Companhia Violenta'