Quando no fim da década de
oitenta, início da de noventa, me debrucei sobre o tema valores em educação,
pude concluir, embora esse não fosse o objetivo do trabalho, que, na década de
noventa, iríamos estar perante o boom
da comunicação.
Pois parece que aconteceu, como
previra. Hoje, dia 3 de Dezembro, contam-se vinte anos, sobre o envio da
primeira mensagem através de SMS, com votos de Feliz Natal. E, de então para
cá, como evoluíram os meios técnicos postos ao nosso alcance!
Pois nem mesmo com a perfeição da
técnica se evitam situações embaraçosas, resultantes de falhas humanas.
Aconteceu-me sábado. Descia as escadas. Ao ombro carregava o saco com roupa
para o fim de semana, na mão esquerda levava mais umas coisas e com a direita
ia escrevendo uma mensagem que pretendia enviar a um amigo. Como fiz não sei,
mas em vez de a enviar a uma pessoa, enviei a outra. Fico zangadíssima quando
sou protagonista de situações destas. Sinto-me info-excluída. Sei que nada mais
há a fazer senão pedir desculpa a quem incomodei e voltar a enviar a mensagem,
desta vez para quem pretendia, mas que fico zangada, é um facto.
Mas se fosse só isto que fizesse…
Uso o dicionário para gastar menos tempo e muitas vezes, por falta de atenção as
mensagens seguem com falta de palavras ou têm letras a menos. O meu amigo ASS, devolve-me as
mensagens com a recomendação.”Lê o que escreveste. Não entendo isto” E eu
apetece-me responder, “se não sabes, inventa”, mas encho-me de paciência e
emendo o que escrevi para que nada lhe falte.
Nessa tarde, eu ia para Lisboa. O
neto tinha feito sete anos durante a semana e o jantar da família seria nesse
sábado. Pois à mesa, a minha filha mais velha, queixa-se de cansaço e, segundo
dizia, andava tão mal que, em vez de mandar os apontamentos de Economia aos
alunos, como seria suposto, os enviara para o Jardim de Infância que a filha,
de um ano, frequenta. “E será que as crianças já apreenderam os conceitos?” –
perguntou o sogro. “Não sou só eu…” – pensei, associando-me à brincadeira que
tal facto ocasionou.
Pois, não acontece só com o SMS
nem só comigo. Também acontece com o servidor de email. Habitualmente recebo
emails que se destinam a uma advogada da zona do Porto. E o que passei até descobrir?!
Os primeiros emails eram assinados por uma tal Z., dando-se o caso de eu
conhecer uma pessoa com esse nome invulgar, sem que tenhamos a convivência
necessária para os desabafos que eu lia. Preocupada e desejosa de ajudar de
algum modo, perguntava a outros amigos “Tem visto a Z?” “Ela está bem?” a
resposta invariavelmente referia que nada sabiam dela, pois há muito que
ninguém a via, mas que constava que estava com problemas com o marido. “Mas que
problemas?” O texto dos emails referia problemas com “ele”… Ninguém sabia e
martirizava-me pensar que tinha merecido os seus desabafos e não conseguia
ajudar… Um dia encontro-a: “Então como vais? Ninguém sabe de ti…” “o meu marido
tem estado tão doente… Nem queiras saber o que tem sido”. Aquilo não encaixava
com as lamurias que, de vez em quando eu recebia. E os emails foram chegando
até que, num mais pormenorizado, me apercebo se tratava de questões laborais.
Só poderiam ser dirigidos a uma advogada. Respondo: Minha senhora não serei,
por certo, a Isabel Soares que pretende contactar. Recomendo que verifique, com
atenção o endereço de email…
Mas a porta pareceu abriu-se.
Atrás dos emails que refiro, outros vieram. Contas da referida advogada para
pagar; tricas de que os advogados por vezes necessitam para se situar;
relatórios de contas e por ai fora… Mas não ficamos por aqui. A Câmara de
Matosinhos já me mandou apresentar sem falta ao serviço, avisando que se não o
fizesse seria punida por lei e um agrupamento de escolas, situado também para
essas bandas, no início do ano letivo, multiplicou-se em planificações.
As planificações corrijia-as
sugerindo, quando as devolvo, as alterações que me parecem pertinentes. Fiz
esse trabalho durante tantos anos que nem consigo resistir. Também não deixo de
pasmar com o facto de os professores, nove anos após a minha aposentação,
estarem a planificar cada vez pior. Não posso generalizar, mas posso garantir
que, nas planificações que avaliei, há uma indesculpável confusão entre
objetivos e atividades e entre estas e as estratégias. Abstenho-me de referir a
gestão do tempo…
Nunca recebi resposta a não ser
do senhor das tricas, que se congratulava com o facto de ser discreto, o que me
levou a questionar o que seria ser indiscreto, do técnico de informática que
compusera o PC à advogada, jovem que me endereçou um pedido de desculpas,
absolutamente desnecessário, acompanhado da sua foto com a mulher e o cão,
provando-me, dizia ele, que era uma pessoa de bem, coisa de que aliás nunca
fora posta em questão. Com o responsável pela educação na Câmara de Matosinhos ainda troquei dois ou três emails bem dispostos e ficou-se por aí.
Para além de se apostar no
desenvolvimento da tecnologia, porque não apostar também, na reciclagem dos utilizadores.
Eu já estou na fila. Sou a primeira e como já estou cansada de estar sentada à espera, vou dormir e sonhar com os anjos.