A tia entrou e alongou-se pela
sala, ocupando um lugar do lado direito. Ela encontrava-se já do lado esquerdo.
Não se conheciam pessoalmente, mas sabiam da existência uma da outra.
Terminadas as exéquias, ela
atravessou a sala. A tia era a única pessoa da família a quem ainda não apresentara
condolências.
- Perdão. – disse a senhora – Não estou a reconhecê-la.
- Chamo-me…
- Ah! Sei bem quem é… - (E os
olhares acariciaram-se mutuamente.)
- Queria dizer-lhe…
- Sei que é uma pessoa alegre.
Muito obrigada pelos momentos de alegria que proporcionou ao meu sobrinho.
Ela ficou sem jeito. Sorriu.
Sorriu balbuciando:
- Gostei de a conhecer. Que pena
ter sido nestas circunstâncias!
Depois, encaminhou-se para a
porta e saiu atrás dos outros.
Ao sentimento de perda pela morte
do amigo, aliava a falta daquela amizade que só não fora porque ela se esquivara
a conhecer a família.
- Temos muito tempo. – dissera tanta
vez.
Afinal o tempo fora escasso. Mas
uma dor bastava, estrangulou aquele acréscimo de tristeza: “sabes lá se seriam
amigas…”
Quanto tempo passou? Que
importa?!
Há dias, aproveitando uma tarde
amena, ela sentara-se na esplanada do café habitual e vagava pelas páginas de
um livro. Alguém vindo por detrás enfiou-lhe os dedos nos cabelos
acariciando-lhe o alto da cabeça. Nem se mexeu. Saboreou a carícia…
- Olá! – e a tia sorria – Há quanto
tempo não nos vemos?!
Levantou-se e cumprimentou a
senhora.
Seriam amigas, sim!