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quarta-feira, 2 de julho de 2014

AMIGAS

A tia entrou e alongou-se pela sala, ocupando um lugar do lado direito. Ela encontrava-se já do lado esquerdo. Não se conheciam pessoalmente, mas sabiam da existência uma da outra.
Terminadas as exéquias, ela atravessou a sala. A tia era a única pessoa da família a quem ainda não apresentara condolências.

- Perdão.  – disse a senhora – Não estou a reconhecê-la.
- Chamo-me…
- Ah! Sei bem quem é… - (E os olhares acariciaram-se mutuamente.)
- Queria dizer-lhe…
- Sei que é uma pessoa alegre. Muito obrigada pelos momentos de alegria que proporcionou ao meu sobrinho.

Ela ficou sem jeito. Sorriu. Sorriu balbuciando:
- Gostei de a conhecer. Que pena ter sido nestas circunstâncias!
Depois, encaminhou-se para a porta e saiu atrás dos outros.

Ao sentimento de perda pela morte do amigo, aliava a falta daquela amizade que só não fora porque ela se esquivara a conhecer a família.
- Temos muito tempo. – dissera tanta vez.
Afinal o tempo fora escasso. Mas uma dor bastava, estrangulou aquele acréscimo de tristeza: “sabes lá se seriam amigas…”

Quanto tempo passou? Que importa?!

Há dias, aproveitando uma tarde amena, ela sentara-se na esplanada do café habitual e vagava pelas páginas de um livro. Alguém vindo por detrás enfiou-lhe os dedos nos cabelos acariciando-lhe o alto da cabeça. Nem se mexeu. Saboreou a carícia…

- Olá! – e a tia sorria – Há quanto tempo não nos vemos?!
Levantou-se e cumprimentou a senhora.

Seriam amigas, sim!



4 comentários:

  1. Gostei, como é bom sentir o afeto dos outros, esta leitura breve que me proporcionou, comoveu-me...
    A faculdade de nos comovermos é uma dádiva de Deus... Deus ...

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    1. Também a sua simpatia é comovente. Até hoje 106 pessoas viram este texto e 935 o anterior e só o meu caro amigo fez o favor de comentar... Muito obrigada pois, pela sua generosidade.
      Sei que tenho andado pouco ativa e não tenho visitado os blogues dos amigos. Logicamente, ninguém pode esperar dos outros mais do que dá. A gentileza do seu comentário resulta ainda mais engrandecida pelo meu descuido em relação ao seu blogue e aos dos outros amigos.
      "É bom sentir o afeto dos outros". Se é!
      Bem haja!

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  2. Essa questão de andarmos todos muito dispersos é um facto.
    A sensação que eu tenho, neste momento da minha vida, é que começo a ter mais projetos que tempo para os levar por diante. E pressinto que esse tempo se esgota a passos largos...

    Mas, que sabemos nós, humanos? Nada ... Limitamo-nos a confirmar que o tempo não para e que a vida continua, connosco ou sem nós!
    Quanto aos comentários que podemos esperar do que vamos deixando registado nos blogues, no FB e noutros suportes, não podemos esperar grandes atenções. É impossível manter um ritmo de produção e consulta que proporcione grandes intercâmbios.

    Assim sendo, cá vamos andando.
    A propósito , sempre lhe quero deixar aqui esta simplória informação: tenho registados à volta de 30 blogues na Blogger, 2 ou 3 no WordPress, várias páginas Web ainda do tempo em que as concebíamos duma forma artesanal e fazíamos os uploads por ftp direto. Nos finais dos anos 80, principio dos anos 90 (que digo eu?!) já eu usava, como radioamador, as chamadas BBS (Bulletim Board System) usando a internet (que nós nem imaginávamos que viesse a ser tão banalizada como é atualmente) via rádio. Material: emissor/recetor, modem, antena para modular/demodular sinais analógicos em digitais e vice-versa. Servíamo-nos duma rede de estações de radioamador espalhadas por todo o mundo. Uma SMS podia demorar várias semanas a chegar ao destino. Uma imagem (a maior parte das vezes de baixíssima resolução) era transmitida linha a linha e a sua transmissão dava-nos tempo para ir almoçar ou beber umas cervejas... quantas vezes até passar pelas brasas!
    Que tempos aqueles! ... Com que rapidez a tecnologia tem evoluído imparavelmente! Até onde é que vamos chegar?
    Esta geração, a que inventou a internet, é uma geração incrível! ... E gabamo-nos disso... será que conseguimos fazer uma ponte entre o passado romântico e o Futuro cósmico? Será que conseguimos um dia, em nossa vida, ainda vir a entender minimamente o Universo????! ...
    Desculpe, Isabel, estou-me a perder ... no Tempo ... e no Espaço ...
    Regresso à Terra....

    Um abraço muito afetuoso!

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  3. Os dias são para se viverem, calmamente. Para quê questionarmo-nos acerca do tempo? Ele será o que for... não precisamos de nos angustiar com a vida ou ainda a tornamos mais curta...

    A sua experiência é fascinante. Eu sou uma infoexcluída... :D

    Há muitos anos, talvez por morarem perto de mim, eu ouvia através da minha televisão a conversa do filho do taxista Sr. Fernando "cadelinhas" de alcunha, a conversar com as amigas e juro que detestava. Demorou até conseguirem resolver o problema que, por certo, também os perturbava. Talvez devido a esta situação estranha abominei durante muito tempo tudo o que fosse comunicar, sem se de viva voz ou pelo telefone. Agora, passou-me...

    Abraço também para si.

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