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terça-feira, 9 de julho de 2013

AQUELA CAIXA DE TRUFAS

Olhei a caixa, elegante nas proporções e no negro de que é feita. Se é certo que o preto significa ausência de cor, não é menos verdade que tal característica dá asas à imaginação deixando adivinhar, antes de qualquer estímulo, que todas as sensações serão possíveis. Foi com esta promessa que avancei.


 Acariciei a caixa. A diferença de texturas misturou-me no tato uma leve rudeza com a finura dos cachos de uvas do Rocim.



Levantei a tampa. Saltou-me à vista, num branco translúcido a explicação de "DELICIOSAMENTE DOCE" e neste contraste da ausência de cor exterior para o branco da mensagem, cor que resulta da mistura de todas as outras, reforçou-se a promessa de excelência.






Quando venci a última barreira, levantando mais uma tampa, ficou-me nas mãos, em proporções perfeitas, a lonjura da planície alentejana e bem no centro, qual tanque de pisa, o tesouro que procurava. Com os desvelos que a terra merece, as trufas, simbolizando os torrões toscos da Herdade do Rocim, esperavam, acondicionadas em celofane, que eu as descobrisse e extraísse delas o sabor do excelente vinho que essa terra produz. 







O cheiro forte e quente contrastava com a sonoridade do celofane, que me remeteu para o crepitar da lenha na lareira, para quietude do lugar.

No paladar não me detenho, já outros, com finura e engenho, o fizeram antes de mim, só me resta confirmar o já descrito. Em cambiantes de gosto, a trufa desfaz-se-nos na boca, como a terra acariciada se desfaz entre os dedos.

Estas trufas só "pecaram" (falta minha!) por não terem sido saboreadas do alto daquele terraço que encima a adega, virado à entrada, onde a sugestão do feminino, com uma velada ideia de fecundidade faz com que qualquer mulher se sinta inteira, mesmo antes de descer ao interior, à "catedral" de altas colunas onde todas as sonoridades são possíveis. 

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