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quarta-feira, 10 de julho de 2013

JANELAS


Castelo de Vide



Marvão



Pormenor da foto anterior


Viana do Castelo

Aquele que olha de fora através de uma janela aberta, não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante do que uma janela iluminada por uma candeia. O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa por detrás de uma vidraça. Neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.

Para além do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, já com rugas, pobre, sempre debruçada sobre alguma coisa, e que nunca sai. Com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada, refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda e, por vezes, a conto a mim mesmo chorando.
Houvesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua igual facilidade.

E me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que não eu mesmo.

Vocês talvez me digam: "Tem certeza de que esta lenda é a verdadeira?" Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?

Charles Boudelaire

2 comentários:

  1. Uma bela crônica (conto?), de Charles Boudelaire. Muito bem ilustrada. Adoro janelas e o que se vê, a partir delas. Obrigada, pela partilha, Isabel.
    Um beijo,
    da Lúcia

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  2. Muito obrigada Lúcia, pelo seu comentário. É sempre um prazer lê-la aqui. Também gosto imenso de janelas. São uma moldura de vida, uma promessa de comunicação, a hipotética visão do sonho de quem olhando de fora, vislumbra quem está do lado de dentro.
    Um beijo,
    Isabel

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