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sábado, 7 de dezembro de 2013

ESTÁ QUASE AÍ...

Pois é, está quase aí, se houver mecenas, um novo livro do Cristóvão. E não é que ele me elegeu como "madrinha" desta guerra pacífica que mantém com as letras?
Vai daí calhou-me o prefácio, mas como eu não gosto de prefácios, resolvi chamar-lhe outra coisa...

A Expansão no feminino

Ana de Chaves

Quem é Ana de Chaves? Poderão perguntar alguns, tal como eu perguntei a Cristóvão Santos, pois que dela apenas sabia ter dado o nome à baía e ao Pico, em tempos considerado o mais alto de São Tomé, quando este, febril de entusiasmo e já com a investigação iniciada me abordou no sentido de trocarmos impressões sobre o novo trabalho a que se propunha.

Na pesquisa histórica a que essa conversa com Cristóvão Santos me levou fui descobrir mais que uma mulher fascinante, sobre a qual, em muitos aspetos, os investigadores ainda não chegaram a acordo, talvez um mito, se se considerar como mito “uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares”(1), mais um nome feminino absolutamente incontornável na expansão marítima portuguesa, mais uma mulher que, e não menosprezando o facto do maior papel das mulheres na expansão ser sem dúvida o de mães, ter sido o de dar aos mares os homens aventureiros e destemidos que o afrontassem, logo seguido de, em terra, assegurarem o trabalho que a ausência dos homens lhes deixava como obrigação, se terá notabilizado por mais feitos do que esses, próprios do destino comum e por isso injustamente banalizado das mulheres da sua época, dado que o tempo a agigantou e a memória coletiva que a trouxe do século XVI ao século XXI a perpetuará no futuro.

É pois em plena época da expansão marítima portuguesa, mais precisamente na segunda metade do século dezasseis, no reinado de D. João III, que se situa esta história da História, já que de uma novela se trata, tendo por cenário, como pelo título facilmente se adivinha, a ilha de São Tomé.

Ana de Chaves, bisavó de uma outra mulher com o mesmo nome, que entre muitos bens terá tido terras doadas em 1535, em regime de sesmaria, seria de origem europeia, não se sabendo se judia, se filha do rei D. João III ou aia da rainha, que esta por ciúmes teria feito desterrar, chegando mesmo alguns depoimentos a mencionarem Cezilia Chaves (falecida em 1540), sua mãe mandada para São Tomé acompanhada da filha, com alargado dote constituído por possessões territoriais. Sabe-se contudo, que teve uma vida de grande senhora, que recebeu em sua casa viajantes influentes de todo o mundo conhecido que aportaram a São Tomé e que terá criado e protegido instituições de caridade.

É esta Ana de Chaves que vamos encontrar ao longo das páginas deste livro. Foi a essa mulher que, tendo enviuvado e casado segunda vez, sem que a história nos tenha feito chegar o nome do segundo marido, Cristóvão Santos ficcionou parte da vida, dando-nos a apreciar, numa leitura agradável, as dificuldades e a relevância económica da colonização, a necessidade de reconhecimento político dos novos territórios e de como o reconhecimento social, posterior a todos os outros, passava sempre por uma política de casamentos.

Desejo que vos seja tão grata quanto para mim, foi a leitura desta novela.
Isabel Soares




           (1) Mircea Eliade, Aspectos do Mito                 

1 comentário:

  1. Se essa Ana for como "as minhas" muito haverá para dizer...
    :)
    Venha de lá esse livro!

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