Texto publicado em Jornal de Leiria - 19-08-2010
Fui hoje ao Museu Escolar de Marrazes, não para visitar o acervo, mas por imperativos da minha actividade na Junta de Freguesia.
Franqueei a porta e avancei disposta “ao que ia”, sem delongas. De passagem, uma menina-de-cinco-olhos pousada em cima de uma mesa prendeu-me o olhar e fez-me sorrir. Absolutamente desprevenida tinha acabado de esbarrar na memória.
Vivi oito meses no Minho, tendo concluído a primeira classe na escola de Quintiães. A professora, Helena de seu nome, possuía um instrumento semelhante àquela menina-de-cinco-olhos, com que desancava quase só o irmão, seu aluno da quarta classe, cujo defeito, único por sinal, era ser irmão da professora, o que tinha inerente a obrigação de ser o melhor aluno e o mais bem comportado.
A escola era um edifício de primeiro andar, no rés-do-chão do qual havia um estábulo, possivelmente para que o calor dos animais aquecesse a sala de aula situada em cima. Na verdade nunca ali vi as vacas; fui para o Minho em Março e talvez à hora da escola as vacas estivessem no pasto, mas espreitei o estábulo através do alçapão que se situava por baixo da secretária da professora e mesmo por cima de uma lareira que havia no andar de baixo. Daí, já nem lembro como, vi-me integrada no grupo que teve a brilhante ideia de atirar a menina-de-cinco-olhos para a lareira na esperança de que ardesse. Mas não ardeu! Para nossa decepção, apareceu de novo na secretária da professora. “A menina-de-cinco-olhos caiu na lareira do Sr. Manuel” comentou a D. Helena. Silêncio absoluto na sala de aula. Ninguém se atrevia a levantar os olhos dos cadernos, receava-se o que viria a seguir. Nada! A professora deixou esquecer o assunto, certa de que o silêncio, nomeadamente aquele a que não faltariam as palavras, reconheço hoje, é muitas vezes mais eficaz do que tudo o que poderia ser dito.
Porque vos conto isto? Porque hoje, por uns momentos, mesmo conhecendo bem aquele espaço esqueci ao que ia, esqueci a pressa e fui de novo criança graças ao poder de um espaço, o MUSEU ESCOLAR DE MARRAZES, menina-dos-olhos da Freguesia e um legítimo motivo de orgulho para todos nós leirienses que, tendo-o aqui tão perto, poderemos desfrutá-lo a nosso belo prazer.
Poderemos, como aquele emigrante que o visitava na companhia dos amigos, procurar a terra natal no mapa, poderemos fazer a pesquisa que antecede um estudo científico específico ou poderemos, como aconteceu comigo, deixarmo-nos arrastar e mergulhar no tempo, para ser de novo meninos de escola.
Não quero falar-vos da exiguidade deste espaço face ao espólio que possui, nem da necessidade de um outro, que sonhamos polivalente e que há-de chamar-se “O Centro Cultural de Marrazes”.
Mas, porque a educação é o repositório das experiências mais marcantes do homem; porque (parafraseando António Lobo) possuímos uma memória colectiva que através do tempo vamos construindo, sujeitos intencionalmente a solicitações “de pura validade ou dignidade”; porque somos uma sociedade com história, quero desafiar-vos:
. Visitem o Museu Escolar de Marrazes e reconheçam a sua dignidade, inscrevendo-se na Liga de Amigos.
Imagina que eu até já mandei "peças" para o Museu e ainda não fui lá! Sou uma preguiçosa inveterada! Mas agora é que tenho mesmo de lá ir!
ResponderEliminarObrigada por mo lembrares.
Lá te esperaremos de braços abertos.
ResponderEliminarAté lá.