Páginas

segunda-feira, 1 de julho de 2013

PRAXÁGORA



(…) O que tenho a fazer é pôr a coroa na cabeça e encarregar-me, eu, da vossa defesa.

Aos deuses suplico que levem a bom termo os nossos projetos. Esta terra é tanto minha como vossa. E aflige-me, dá-me engulhos, ver a podridão que vai por essa cidade. O mal está em que a vejo sempre deitar mão a governantes da pior espécie. Se por um dia que seja, aparece um que se aproveite, a fim de dez fica igual ao anterior. Confia-se noutro e é pior a emenda que o soneto. Sem dúvida que é difícil abrir os olhos a gente cabeçuda como esta.

Dos que vos são dedicados, vocês têm medo; dos que não querem nada convosco, andam atrás deles que nem cordeirinhos.

Se um fulano se cose com as massas cobrem-no de elogios; se não se aproveita, diz-se que quem procura ganhar a vida como membro da assembleia merece a morte.

E são vocês, meu povo, os culpados de tudo. Quando recebem em salário os fundos do Estado, só pensam no próprio interesse. É ver quem se enche mais! E o Estado lá vai tem-te-não-caias. Mas acreditem no que vos digo, ainda se podem salvar. É às mulheres, na minha opinião que se deve confiar a cidade. Tanto mais que, nas nossas casas, é a elas que entregamos a administração doméstica.
Que os hábitos delas são melhores do que os nossos é o que passo a demonstrar.


Fazem os seus grelhados sentadas, como dante; trazem fardos à cabeça, como dantes; cozem bolos, como dantes; estafam os maridos, como dantes; metem os amantes em casa, como dantes; compram gulodices, como dantes; gostam de uma boa pinga, como dantes; pelam-se por fazer amor, como dantes. Por isso é a elas, meus senhores, que temos de confiar a cidade, sem mais discussão, sem sequer nos preocuparmos com o que pensam fazer. Dêmos-lhes carta-branca para governarem.  Consideremos apenas estes pontos:

Primeiro, que se são mães, vão dar tudo por tudo para salvarem os soldados;

Segundo, no que respeita a comida, quem mais solícito que uma mãe para reforçar uma ração?

Ninguém mais furão que uma mulher para arranjar umas massas; no poder não há quem lhes faça o ninho atrás da orelha, porque a fazer o ninho atrás da orelha quem é que lhes leva a palma?! Bom, adiante! Vão pelo que vos digo, que ainda hão de levar uma vidinha regalada.

Aconteceu no Teatro Miguel Franco, a 18 de Junho de 2013, pelas 15h 30m

As Mulheres no Parlamento, Aristófanes

Introdução, versão do grego e notas de Maria de Fátima Sousa e Silva, JNIT - Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1996



Bléfiro, Teresa Sá Pessoa, "meu marido", eu e Cremes, Manuela Figueiredo



"São as mulheres a governar! São as mulheres a governar!"
Da esquerda para a direita: Eu; Alda - outra mulher; Lurdes Frazão - primeira mulher e homem, Esmeralda Sapinho - escrava; Manuela Figueiredo - Cremes; Teresa Sá Pessoa - Bléfiro; Altina - segunda mulher, que não se vê nesta foto


Com a Dra. Isabel Aragão, a professora de teatro e encenadora e Dra. Helena Carvalhão - Presidente de Sempraudaz - Associação Cultural


A Altina - segunda mulher, contracenando comigo

2 comentários:

  1. Alegro-me saber que ainda existem mulheres de barba rija... quando outras já se renderam à depilação definitiva.

    (Ainda não foi desta que tive o prazer de a ver em palco.)

    ResponderEliminar
  2. Se existem! As minhas filhas quando eram garotas costumavam dizer: Mulher barbuda seu "home" ajuda.

    Fartei-me de fazer barbas, porque além de "star", ainda sou aderecista e ponto, quando não estou em palco. Por isso mesmo ganho melhor. :)Temos de ser nós a fazer tudo.

    Todas as "stares" se portaram muito bem e a nossa "agente" já está a negociar a futura participação nas novelas da Globo. Vejamos se por lá terão dinheiro para nos pagarem o cachet... :)

    Ainda não foi desta vez?! Será de outra. "Há mais marés que marinheiros".

    ResponderEliminar