“Venham amanhã” - sugeriram as amigas e os
amigos que anualmente encontro naquela fila de barracas, em S. Martinho do
Porto, no mês de agosto, quando, com as amigas de Leiria, me despedia disposta a partir.
“A Patrícia oferece-nos o dia de bónus” – acrescentaram. A Patrícia é a
concessionária que nos aluga a barraca de praia. “Não! Mês e meio de S.
Martinho, chega! E despedimo-nos. “Adeus. Até à Festa da Senhora do Fetal” –
Disseram, tal e qual como haviam dito o ano passado, para só nos
voltarmos a encontrar, este ano, em pleno mês de agosto, na praia.
Antes o Rui fora a Turquel buscar
queijadas à fábrica do pai e aconteceu outra confraternização. Tirámos fotos e
viemos. Os outros ficaram. Possuem lá casas, não precisam de respeitar o
calendário, mas para mim, já é tempo de repor as rotinas.
Desci até ao centro. A cidade
continua despida, quase não há gente nas ruas, talvez por ser domingo, um
domingo de sol, sem vento. E eu gosto da cidade despida da fauna habitual.
Lembro-me sempre da cantilena “Que é que você vai fazer domingo à tarde?...
Passear por aí, numa rua qualquer da cidade…” a cadência é triste e a canção
fala de solidão, mas eu gosto de deambular pela cidade despida de quotidiano,
olhá-la na nudez dos fluxos que lhe dão vida, como se a visse lamber-se nas
feridas para sarar-se de mágoas e encontrar um novo sentido, esquecidos
interesses. E sinto-me a fada madrinha que estalando os dedos ilumino os sítios
mais cinzentos, planto malvas-rosas em todas as janelas e deixo que os gatos se
espreguicem ao sol.
Não ia calçada para grandes passeios,
mas não foi isso que impediu que me alongasse pelo rio, cidade fora. Subi a
ponte pedonal, que ainda não conhecia e debrucei-me sobre o rio. “Que pena” –
pensava – “não haver dinheiro, para a limpeza do leito. Para a recuperação das
casas junto à margem…” e detive-me. Detive-me enamorada daquela velha casa com
escadas para o rio onde tanto desejei morar, quando menina. Ri-me à lembrança
dos tratos que dava à imaginação no sentido de convencer a minha mãe a
deixar-me tomar banho no rio, se algum dia ali morasse. E da forma simples como
me consolava: “se não me deixar tomar banho, vai deixar que me sente no degrau
com os pés de molho”. Hoje a água já nem chega aos degraus e quem, para além
dos patos, quereria tomar banho neste rio tão pouco convidativo?!
As ruínas falam de abandono, de
outros interesses, de vidas que foram, já não são. Aquela casa projeto Korrodi
a cair aos bocados…
E eu calmamente a regredir no
tempo, contrariando o curso do rio, anos a fio em tão poucas horas, a sorrir ao
que foi e feliz por poder voltar para trás e seguir em frente na expectativa do
que virá depois.
É setembro.
A praia algum dia tinha de acabar... e ainda bem!
ResponderEliminar:)
E eu a pensar que o Rui era meu amigo... "Mais vale um desengano na vida que andar toda a vida enganada..."
EliminarPois tenho bem pena que a praia tenha acabado. As tardes estão ótimas para rodopiar no meio do mar feita "cisne branco de toucado azul", como dizia a minha amiga Gláucia e as marés vivas estão quase aí e eu gosto...
Então, um bom Setembro também para vós. :)