Palavras de outros, esperando o mar, num qualquer horizonte sem horas...
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.
Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.
E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.
E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.
Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.
Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
Mia Couto, in "idades cidades divindades"
Depois de um intervalo, por falta de saúde, cá estou de novo embora não totalmente recuperada:(
ResponderEliminarAo abrir o seu blog e ao ler este poema cheio de "interioridade" tentei adivinhar o autor mas, não pensei nunca que era de MIA COUTO, escritor que muito aprecio...
Portanto, fiquei FELIZ, pois no meu regresso saboreei e, muito gostosamente, um poema que não conhecia de um escritor que faz as minhas delícias :) leva-me a mundos para mim, desconhecidos e onde sinto um enorme prazer de ENTRAR pelas suas MARAVILHOSAS e SáBIAS MÂOS! :)
Beijinho Isabel
Olá, Maria Helena.
EliminarLastimo que tenha estado doente. Fico contente por já se encontrar restabelecida e por ter gostado da minha postagem.
Há na escrita de Mia Couto uma faceta intimista. Reflete-se e reflete sobre si mesmo assumindo-se como um fazedor de palavras para melhor traduzir os seus estados de alma.
Sou uma apaixonada incondicional deste escritor.
Olá!
ResponderEliminarFoi um grande prazer conhecer seu blog.Aproveito meu tempo para navegar e ler textos e poemas feitos por pessoas que gostam de escrever.
Que bom que você é uma delas.
Grande abraço
se cuida
Olá, VIDA!
EliminarVocê é tão parecida com uma outra Isabel que ao ver sua foto pensei ser ela...
Bem vinda ao meu sítio! Muito obrigada pelas sua palavras. Volte sempre.
A vida é sem dúvida uma lição de amor.
Um abraço.
In(temporal)... ou bonança?
ResponderEliminarIN temporal e bonança :)
EliminarComigo nada é monótono!!!!!!!!!!!!! (lol)
Muito bonito e sofrido. A amor que estraçaha a alma e mesmo assim cantado esperado desejado,profano e sagrado..simplesmente amor
ResponderEliminarSimplesmente o amor...
EliminarOlá amiga!
ResponderEliminarFico imaginando o encontro do céu e mar.
Porque ambos se completam na imensidão.
Adorável seu poema.
Grande abraço
se cuida
No horizonte que se alarga à medida que crescemos em humanidade.
EliminarÉ sempre importante e interessante, revisitar Mia Couto.
ResponderEliminarUm beijo,Isabel,
da lúcia
Olá, Lúcia.
EliminarHá quanto tempo, não aparecia por aqui! Seja bem vinda!
Bj.
Este Mia Couto, Isabel ...! E belíssimo conversador, pessoalmente.
ResponderEliminarE o que é engraçado é que afirma que só escreve porque é tímido.
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