Abandonado “Teatro de Sabbath”, de Philip Roth, ou pelo menos em largo repouso, para além de mais de meio lido, não por ser demasiado escabroso, mas sim catastroficamente libidinoso e muito próximo do limiar da loucura e da extinção, aventurei-me por outras leituras.
Carlos Ruiz Zafon foi-me apresentado por “A Sombra do Vento” onde, embora me parecendo faltar ritmo ao suspense, desabrochou a minha curiosidade. Por isso não hesitei perante a reedição (Setembro de 2011) de “O Príncipe da Neblina” (prémio Edebé 1993).
Li todo o livro à espera de me deparar com o romance, para chegar ao fim e concluir que teria gostado muito da obra quando tinha doze anos. Talvez então me tivesse identificado com Alicia e lastimasse a perda de Roland, mas, de momento, o meu espírito sentiu a trama tão pouco elaborada e ficou tão sedento de qualidade, que só a poesia, forma privilegiada da expressão, me poderia lavar a alma.
A Demora
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
E eu já com saudades e a sentir falta de ter tempo e paciência para ler, devagar, com vagar, a pensar no que leio, os livros por ler a amontoarem-se, que nem registados estão, os dos últimos 2 meses, talvez...
ResponderEliminarÉ caso para parafrasear:
"Tanto livro, tão pouco tempo!"
(Será só (in)disposição momentânea?)
Olá, António.
ResponderEliminarComo pode ter tempo para ler quem anda sempre a espreitar a vida pela objectiva?
Os livros, em minha casa também se amontoam. Os que estão na mesa de cabeceira ameaçam chegar ao teto...
Depois há os novos e os que me apetecia reler e as fichas de citações que gostaria de fazer e há tantas coisa a ficar só pelas intenções...
É preciso é ir vivendo a vida.
Tudo de bom para si, neste novo ano.
Fui Sabendo de Mim
ResponderEliminarFui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas