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quarta-feira, 3 de abril de 2013

A IDA AO MÉDICO


UMA BREVE EXPLICAÇÃO

Há um tempo que penso seriamente dar algum espaço ao meu blogue. E quando escrevo: dar algum espaço, tenho em mente, evidentemente, a não publicação de textos meus.

Algumas questões se me têm posto. Uma dela prende-se com o título: HORIZONTE SEM HORAS. Será que ainda se justifica? Na verdade continuo a gostar de me passear por uma paisagem larga, com água por perto. Gosto do cheiro das manhãs. Gosto de caminhar sem cuidados, como se possuísse o tempo e de facto até possuo. Possuo o meu tempo, o que já vivi e o que me resta, seja lá quanto for também será incontestavelmente meu e feito de vagares. Continuo a gostar do marulhar fininho das ondas na baixar mar, mas naquela paisagem onde me saciava de esperança, morreu o sonho do cavalo verde. Foi sofrido…

Bom e andando eu numa de escrevo não escrevo, a que se juntaram as férias da Páscoa, a estada do neto em Leiria e a saída da filha mais nova para o estrangeiro, ainda tive tempo para dar uma saltada até à minimaratona de Lisboa e andar com tonturas (para além da tonteira de que sofro habitualmente), com o mar nos ouvidos e os cardumes de todos os oceanos à cabeça.

Pois hoje uma amiga abordou-me “Isabel, há tanto tempo que não escreves no blogue! Todos os dias vou ver se tens algo novo publicado. Gosto tanto de te ler. Vê lá se voltas a escrever.”

Eu sorri e limitei-me a confirmar: “De facto, não tenho publicado.”

Desde pequena que me questiono que falta faria se não tivesse nascido. Há quem garanta que todos temos um papel específico a desempenhar. Cá para mim parece-me que isso é conversa de quem nos quer de bem com a autoestima. Eu creio que se não tivesse nascido o mundo passaria bem sem mim. Uma vez disse isto a um amigo e ele zangou-se: “já contaste quantos alunos ensinaste a ler? Quantos alunos-mestres ensinaste a ensinar a ler? A quantos professores ensinaste a melhorar as práticas letivas?” “ Conversa. Se não fosse eu, era outra qualquer”. E ele ia-me batendo. Bom, mas já que nasci e ando por cá e sem qualquer vontade de me “pôr a andar”, sinto-me com algumas obrigações para as amigas e feliz e útil se, durante segundos, lhes amenizar o dia.

Então para quem gosta de me ler, cá vai uma história verídica, de que me lembrei por ter consultado recentemente o médico. Quem me conhece bem acredita que aconteceu mesmo.


A IDA AO MÉDICO

Quando as amigas ou os amigos combalidos se queixam recomendo sempre uma ida ao médico “se os remédios se inventaram são para serem tomados quando precisamos deles” costumo pregar-lhes assisadamente, contudo, não é o que faço. Quando sou eu que me sinto mal, espero que passe. E a situação vai-se arrastando e nunca passa sem uma consulta.

Sou, reconheço, uma péssima doente. Aliás, filha de minha mãe, não teria muitas hipóteses, ou seria tal como ela de cuidados extremos, para não dizer excessivos ou o seu contrário. Pois saí o contrário.

Detesto mesmo ir ao médico, porque, não sei como, acabo muitas vezes no papel do clínico e no fim eu pago a minha consulta e o médico não me paga a dele. A minha mãe diz que é por eu não passar receita. Possivelmente será por isso. Bom, eu sou daquelas pessoas que até me automedico, confesso, mas cumpro as visitas anuais que o bom senso impõe que se façam. 

Uma dessas visitas é, como acontece com todas as mulheres, a ida ao ginecologista. Há cerca de dois anos, mal entrei no consultório, o meu ginecologista estava muito indisposto “Ai Sra. Dona Isabel estou muito doente. Estou muito mal do estômago. Daqui a um ano já cá não estarei para a consultar.” “Porquê? Deixa de dar consulta?” “Não. Já devo ter morrido. Estou muito mal do estômago.” E continuou a lamuriar-se, aiando e contorcendo-se, dizendo-se tão doente que eu confesso-me sem arte para exprimir tal dor, tão terrível mal. Em cima da secretária a chávena da bica bem curta que a Teresa, a empregada, tinha trazido do café que se situa no rés-do-chão.

Eu ouvi, ouvi, ouvi… e quando o médico repetia já não sei por que vez que ia morrer eu levantei-me da cadeira em que estava sentava à sua frente, com a secretária de permeio debrucei-me sobre ele com o indicador direito bem espetado no seu nariz e disse: “Livre-se! Por que pensa que escolhi um médico mais novo que eu? (ele tem seguramente menos dez anos) Julga que estou para andar a mudar de médico?  Está proibido de morrer antes de mim. Pare de beber café que melhora logo. E agora chame a Teresa e trate de me ir observar que tem a sala de espera cheia de gente, que tem mais que fazer que estar ali à espera que morra.” Ele obedeceu. Eu não precisei de passar receita para que as melhoras fossem imediatas.

Agora digam-me, quem é que merecia os setenta euros da consulta?
  

3 comentários:

  1. Bem, isto hoje foi dose dupla.
    :)
    Sabe que mais? Vou dizer-lhe o que disse a quem lhe ficou os os setenta euros: "Livre-se de deixar de escrever/publicar! Por que pensa que sou seu seguidor?"
    Espero que a "Belita" faça como o médico... mas não me obrigue a pagar a consulta.
    :)

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    Respostas
    1. Meu caro amigo, o tratamento de choque não resulta comigo. Só é eficaz com as pessoas mimadas. Eu tenho levado demasiados açoites da vida. Já estou muito malhadiça. :))
      O que me surpreende é a simpatia gratuita, a amizade desinteressada, a generosidade.
      Nem sou difícil de convencer, estás visto. :))

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  2. Para que não percam tempo a tentar adivinhar, convém esclarecer que o meu ginecologista não dá consulta na cidade de Leiria.

    :))

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