UMA BREVE EXPLICAÇÃO
Há um tempo que penso seriamente
dar algum espaço ao meu blogue. E quando escrevo: dar algum espaço, tenho em
mente, evidentemente, a não publicação de textos meus.
Algumas questões se me têm posto.
Uma dela prende-se com o título: HORIZONTE SEM HORAS. Será que ainda se
justifica? Na verdade continuo a gostar de me passear por uma paisagem larga,
com água por perto. Gosto do cheiro das manhãs. Gosto de caminhar sem cuidados,
como se possuísse o tempo e de facto até possuo. Possuo o meu tempo, o que já
vivi e o que me resta, seja lá quanto for também será incontestavelmente meu e
feito de vagares. Continuo a gostar do marulhar fininho das ondas na baixar
mar, mas naquela paisagem onde me saciava de esperança, morreu o sonho do cavalo verde.
Foi sofrido…
Bom e andando eu numa de escrevo
não escrevo, a que se juntaram as férias da Páscoa, a estada do neto em Leiria
e a saída da filha mais nova para o estrangeiro, ainda tive tempo para dar uma
saltada até à minimaratona de Lisboa e andar com tonturas (para além da
tonteira de que sofro habitualmente), com o mar nos ouvidos e os cardumes de
todos os oceanos à cabeça.
Pois hoje uma amiga abordou-me
“Isabel, há tanto tempo que não escreves no blogue! Todos os dias vou ver se
tens algo novo publicado. Gosto tanto de te ler. Vê lá se voltas a escrever.”
Eu sorri e limitei-me a
confirmar: “De facto, não tenho publicado.”
Desde pequena que me questiono
que falta faria se não tivesse nascido. Há quem garanta que todos temos um
papel específico a desempenhar. Cá para mim parece-me que isso é conversa de
quem nos quer de bem com a autoestima. Eu creio que se não tivesse nascido o
mundo passaria bem sem mim. Uma vez disse isto a um amigo e ele zangou-se: “já
contaste quantos alunos ensinaste a ler? Quantos alunos-mestres ensinaste a
ensinar a ler? A quantos professores ensinaste a melhorar as práticas letivas?”
“ Conversa. Se não fosse eu, era outra qualquer”. E ele ia-me batendo. Bom, mas
já que nasci e ando por cá e sem qualquer vontade de me “pôr a andar”, sinto-me
com algumas obrigações para as amigas e feliz e útil se, durante segundos, lhes amenizar o dia.
Então para quem gosta de me ler,
cá vai uma história verídica, de que me lembrei por ter consultado recentemente
o médico. Quem me conhece bem acredita que aconteceu mesmo.
A IDA AO MÉDICO
Quando as amigas ou os amigos
combalidos se queixam recomendo sempre uma ida ao médico “se os remédios se
inventaram são para serem tomados quando precisamos deles” costumo pregar-lhes
assisadamente, contudo, não é o que faço. Quando sou eu que me sinto mal,
espero que passe. E a situação vai-se arrastando e nunca passa sem uma consulta.
Sou, reconheço, uma péssima
doente. Aliás, filha de minha mãe, não teria muitas hipóteses, ou seria tal
como ela de cuidados extremos, para não dizer excessivos ou o seu contrário.
Pois saí o contrário.
Detesto mesmo ir ao médico,
porque, não sei como, acabo muitas vezes no papel do clínico e no fim eu pago a
minha consulta e o médico não me paga a dele. A minha mãe diz que é por eu não passar
receita. Possivelmente será por isso. Bom, eu sou daquelas pessoas que até me
automedico, confesso, mas cumpro as visitas anuais que o bom senso impõe que se
façam.
Uma dessas visitas é, como
acontece com todas as mulheres, a ida ao ginecologista. Há cerca de dois anos,
mal entrei no consultório, o meu ginecologista estava muito indisposto “Ai Sra.
Dona Isabel estou muito doente. Estou muito mal do estômago. Daqui a um ano já
cá não estarei para a consultar.” “Porquê? Deixa de dar consulta?” “Não. Já
devo ter morrido. Estou muito mal do estômago.” E continuou a lamuriar-se,
aiando e contorcendo-se, dizendo-se tão doente que eu confesso-me sem arte para
exprimir tal dor, tão terrível mal. Em cima da secretária a chávena da bica bem
curta que a Teresa, a empregada, tinha trazido do café que se situa no
rés-do-chão.
Eu ouvi, ouvi, ouvi… e quando o
médico repetia já não sei por que vez que ia morrer eu levantei-me da cadeira em
que estava sentava à sua frente, com a secretária de permeio debrucei-me sobre
ele com o indicador direito bem espetado no seu nariz e disse: “Livre-se! Por
que pensa que escolhi um médico mais novo que eu? (ele tem seguramente menos
dez anos) Julga que estou para andar a mudar de médico? Está proibido de morrer antes de mim. Pare de
beber café que melhora logo. E agora chame a Teresa e trate de me ir observar
que tem a sala de espera cheia de gente, que tem mais que fazer que estar ali à
espera que morra.” Ele obedeceu. Eu não precisei de passar receita para que as
melhoras fossem imediatas.
Agora digam-me, quem é que merecia
os setenta euros da consulta?
Bem, isto hoje foi dose dupla.
ResponderEliminar:)
Sabe que mais? Vou dizer-lhe o que disse a quem lhe ficou os os setenta euros: "Livre-se de deixar de escrever/publicar! Por que pensa que sou seu seguidor?"
Espero que a "Belita" faça como o médico... mas não me obrigue a pagar a consulta.
:)
Meu caro amigo, o tratamento de choque não resulta comigo. Só é eficaz com as pessoas mimadas. Eu tenho levado demasiados açoites da vida. Já estou muito malhadiça. :))
EliminarO que me surpreende é a simpatia gratuita, a amizade desinteressada, a generosidade.
Nem sou difícil de convencer, estás visto. :))
Para que não percam tempo a tentar adivinhar, convém esclarecer que o meu ginecologista não dá consulta na cidade de Leiria.
ResponderEliminar:))