quarta-feira, 27 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
AUTO-RETRATO

Em criança tinha um olhar pousado de olhos grandes, que nem sei se absorvia as coisas em que pousava, se eram as coisas em que pousava que absorviam o meu olhar.
Fui crescendo e com a pré-adolescência e o namoro do meu irmão, doze anos mais velho, com aquela que seria a minha cunhada, veio a crítica “não olhes assim, parece mal”. Ela não gostava daquele olhar castanho adocicado, fixo, absorvente, inquisidor, ao mesmo tempo meio tímido. Olhos de mata-borrão, como hoje os defino, sempre que me detenho nalguma foto desses tempos de menina.
Com os olhos e as mãos desbravei mundos e compus novos arco-íris, mas sobretudo com os olhos e a minha paixão de brincar aos caranguejos no “quarto escuro” que separava o quarto de meus pais do de meu irmão, onde a imaginação vogava sempre com vento a contento nas tardes de maior calma. Os sustos que a minha mãe apanhava! “Belita, onde estás?” e a Belita no escuro, quietinha, de olhos abertos a brincar aos caranguejos não podia responder, porque os caranguejos não falavam.
Desta brincadeira me ficou o desejo de voltar a ser caranguejo, quando a vida não me corre como quero e ficar enfiada na areia, só com os olhos de fora, à espera que passem as agruras que me apoquentam. Acontece que já não tenho os olhos grandes, o tempo apequenou-os, porque o tempo é assim, tira umas coisas e dá outras. E já não posso ficar à espera!
Este olhar de mata-borrão funcionava para os dois lados, para dentro e para fora de mim e isso mantém-se: a reversibilidade do movimento.
Quarta-feira, eu vinha preocupadíssima; “como estará hoje a minha mãe?”era a pergunta que me atormentava o espírito quando me dirigia a casa, antes da visita ao Lar, com o olhar virado na direcção dos afectos, vendo automaticamente as curvas do caminho, como se o carro tivesse vida e não necessitasse do meu comando. Foi ao virar para a Praceta que a Primavera me saltou à frente, ali num canteiro descuidado, um cântico à vida e Cesário Verde!
Na tarde, apeteceu-me uma tela, pincéis e tinta, engenho e arte para traçar o meu retrato. Meia dúzia de pinceladas: uns olhos tristes e um ramalhete rubro de papoilas.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
PASSEIO À RESERVA NATURAL DE S. JACINTO
terça-feira, 12 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
PASSEIO A...









sábado, 9 de abril de 2011
AMANHÃ
quinta-feira, 7 de abril de 2011
ERA UMA VEZ...
Je sais
quarta-feira, 6 de abril de 2011
MURMÚRIO
Um dia, nasceu o Homem tão inocentemente distraído, tão livre de cuidados, que a Fada Ironia não resistiu “Eu te fado, ó criatura, para que sejas um e todos”.
Assim, ao longo das eras, o fado vem-se cumprindo. Simultaneamente uno e múltiplo o Homem vem-se prolongando, partindo de dois princípios: as suas obras continuam-no; ele merece ser continuado. E, Alquimista em Verde, desejando o Elixir da Longa Vida, vai-se debatendo, ao longo do curto lapso de tempo que medeia o nascimento e a morte, visando a consecução dos seus projectos e do projecto de si. Oscilando o fiel da balança do pessoal para o social, dimensiona-se, o mais possível, nos dois campos fundindo tudo no projecto único: viver.
Como se de complexidade não bastasse a vida ser sinónimo de comportamento; como se fácil fosse ao Homem sonhar o projecto e executá-lo; como se fácil tivesse sido inventar o movimento para que o sonho fosse; a ironia rasteira-o de novo e inventa a morte.
Impedido de se adiar, condição tão bem traduzida pela sabedoria popular “não deixes para amanhã…” tomou no Homem consistência uma vontade nova; se antes o objectivo era agir bem, o presente exige que aja bem e depressa.
Multiplicaram-se as experiências, explodiu o mundo em tecnologia, caíram há muito as barreiras do espaço e do tempo. A vida passou a ser uma acção nova: comunicar.
E o Homem?
Cada vez mais só, ilude-se com o mundo à distância de um clic. Foi-se-lhe há muito o cheiro do outro, vai-se-lhe o tacto, ficou-lhe nos olhos somente a imagem recuada que o monitor displicente lhe permite, ouve, às vezes, um pouco distorcido o som da sua voz e ficou-lhe na boca o gosto a sal das lágrimas de cada madrugada em que acordou, na certeza de que se não acordasse ninguém daria pela sua falta.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
A ESCRITA
Ao longo da minha vida foram vários os momentos que me marcaram a escrita.
A memória recua até ao caderno de redacção da 2.ª classe e à paciência de meu pai, alinhavada na minha tentativa de resposta às questões sugeridas por dois gatinhos brincando com um novelo de lã. Lindos os gatos, pouca a vontade de escrever!
“Tens de responder com frases completas” e vencida esta crise graças à disponibilidade paterna, tomei o gosto à escrita ressalvando claro, aquele dia em que, tendo de escrever talvez aí pela centésima vez sobre um qualquer animal, resolvi, muito comodamente, copiar na integra a redacção da lousa da Cidália apresentada momentos antes à correcção e considerada boa. A professora lê, relê e sentencia: “será melhor escreveres tudo de novo. Isto nem parece teu. És capaz de fazer muito melhor”.
Voltei ao lugar sem entender muito bem o que se passava. “Cão ou gato, vaca ou cavalo, bom para a Cidália não servia para mim?” E a única resposta à medida da dúvida ecoava-me ao ouvido pela voz da professora: “isto nem parece teu!”
Professora inteligente a minha que assim me fixou a primeira regra da escrita e me levantou a primeira questão: Teria de ser ou parecer meu, mas o que era ser meu?
Não me dei ao incómodo de procurar resposta e lá fui escrevendo, umas vezes melhor outras pior ao sabor dos temas sugeridos e conforme o comprovaram as classificações que os professores foram atribuindo aos meus textos.
Chego então à aula do Dr. Amadeu. Homem esquisito, achava eu. Ele, o professor de matemática e o de Ciências formavam um grupo com o qual eu não simpatizava, nem um bocadinho.
Um dia o senhor chegou à aula dizendo que quem quisesse poderia apresentar trabalhos para o jornal do Liceu, “O Despertar”. Eu caí nessa e escrevi um conto cheio de sentir íntimo. O professor teve a triste ideia de se rir do texto com os amigos e isso fez nascer em mim a aversão que durante muito tempo lhe dediquei de alma e coração. Rejubilo contudo na lembrança do texto “A tempestade” escrito numa aula de teste que lhe pôs no ouvido o rugido furioso do mar, vingando assim o riso “crítica” às emoções que o meu conto anterior extravasava.
Estabeleci aqui o que achei ser a segunda regra, levantou-se-me a segunda questão e tomei a primeira opção. O que escrevia, para ser bom, não poderia ser subjectivo, mas teria eu de constatar os factos, descrevê-los e não opinar sobre eles? Pois bem, eu escreveria com a cabeça para os outros; escreveria com o coração para mim. E lá fui escrevendo ou tentando fazê-lo, arriscando mesmo o privilégio da poesia em rasgos de um Abril, deserto o areal de S. Martinho, onde então passava as férias da Páscoa.
Os anos fazem-me tropeçar na Filosofia, aprendo a estruturar o pensamento e também que opinar é um direito que me assiste desde que oiça e respeite a opinião dos outros.
Caio então na Escola do Magistério Primário. Alertam-me para o texto, ensinam-me a didáctica da redacção e mandam-me à vida apta a ensinar os outros a escrever sem se preocuparem com o que eu escrevia. Não desisti. Abençoada paciência de meu pai no dia em que dois gatos me arranharam a inércia.
Casei-me entretanto.
Interregno. Para trás ficaram quilómetros de cartas trocadas com os amigos e namorados e uma grande variedade de textos que a memória rasgou. Só lembro vagamente a carta de filosofada mágoa dirigida à Madalena sobre o casamento.
Nasceram as filhas. O tempo foi pouco. A vida complicou-se.
Pesou de solidão o quotidiano.
Num dia sem data, um qualquer de entre tantos, peguei no bloco e verti no papel o coração inteiro. Desnudado, enfiei-o num envelope selado e enderecei-o ao João. Recebi um cheque de vinte contos.
Incrível! O meu marido pagara a minha prosa, mas azar dos azares, com o dinheiro quebrara-se-me a corda e não fora a teimosia, parente directa da persistência e não mais pegaria na caneta, mas continuei a escrever, cartas longas, tristes, negras como a visão que tinha da vida no momento em que as escrevia, só não as endereçava a ninguém, fechava-as no envelope e escondia-as – os contos de reis que teria ganho do João! Bom, mas se me faltou o sentido para o negócio, tive pelo menos o bom senso de concluir não valer a pena recordar tristezas e rasgar as cartas logo que as encontrei.
Partindo do princípio de que não precisava de recordações do que não pretendia esquecer, deixei de escrever. Os Natais sucederam-se sem retribuir “Boas-festas”; os amigos ouviam-me pelo telefone; as conversas de ocasião multiplicavam-se; pegar na caneta, nem pensar.
Um dia, acontece por acaso, uma história numa tarde de Biblioteca Infantil, depois tento outra e mais outra…
Então, num qualquer momento com a Esmeraldina, submersas no mar de dias que os seus (muitos) diários testemunham, uma frase baila-me nos olhos “o gato da vizinha está com cio”. Rio-me com vontade e num misto de ingenuidade e confusão, a minha mente recria a noite de insónia de uma amiga a que as necessidades de um gato dão um cunho humorístico.
Não sofrendo de insónias e não havendo gato ou cão na minha vizinhança, no dia 20 de Março de 1990, comprei um caderno. Ter-me-á outro gato arranhado a inércia?
sábado, 2 de abril de 2011
SELOS
Quem não se lembra daqueles rectangulozinhos picotados, com cola por trás, que algumas vezes lambíamos com a ponta da língua, se não tínhamos à mão um frasco de goma-arábica, para colar na carta que pretendíamos fazer seguir no correio?! Ficávamos com a boca a saber a “papéis de música” mas as notícias lá iam! As enviadas por mim, que morava na Sismaria da Gândara e era filha de um ferroviário, seguiam no Comboio-correio das vinte horas porque, para que não houvesse atrasos, eu ia colocar as cartas na carruagem do dito comboio, à estação do caminho-de-ferro.
Pois já não há mais selos como antigamente. Agora os selos são autocolantes, dispensam a goma-arábica e estamos livres da temeridade de os humedecer com a língua.
Estes são aqueles com que nos taxam o desejo de comunicar.
Aconteceu que ao abrir o meu blog, deparei-me com um novo selo que a “carol” me atribuiu, este de amizade, de simpatia. Não é taxa, é um prémio. E é a segunda vez que a “carol” me atribui um selo!
Quem merece esses mimos és tu "carol" pela assiduidade, pela pertinência, pela assertividade e pela actualidade dos assuntos que tratas no “Picos de Roseira Brava”. Eu sou uma mera “aprendiz de feiticeira” absolutamente “out”; limito-me a falar do que quero, quando e como me apetece, tantas vezes volteando o tempo…
Com o meu reconhecimento pelo teu trabalho diário, fica o meu agradecimento pela tua generosidade.