Um dia, nasceu o Homem tão inocentemente distraído, tão livre de cuidados, que a Fada Ironia não resistiu “Eu te fado, ó criatura, para que sejas um e todos”.
Assim, ao longo das eras, o fado vem-se cumprindo. Simultaneamente uno e múltiplo o Homem vem-se prolongando, partindo de dois princípios: as suas obras continuam-no; ele merece ser continuado. E, Alquimista em Verde, desejando o Elixir da Longa Vida, vai-se debatendo, ao longo do curto lapso de tempo que medeia o nascimento e a morte, visando a consecução dos seus projectos e do projecto de si. Oscilando o fiel da balança do pessoal para o social, dimensiona-se, o mais possível, nos dois campos fundindo tudo no projecto único: viver.
Como se de complexidade não bastasse a vida ser sinónimo de comportamento; como se fácil fosse ao Homem sonhar o projecto e executá-lo; como se fácil tivesse sido inventar o movimento para que o sonho fosse; a ironia rasteira-o de novo e inventa a morte.
Impedido de se adiar, condição tão bem traduzida pela sabedoria popular “não deixes para amanhã…” tomou no Homem consistência uma vontade nova; se antes o objectivo era agir bem, o presente exige que aja bem e depressa.
Multiplicaram-se as experiências, explodiu o mundo em tecnologia, caíram há muito as barreiras do espaço e do tempo. A vida passou a ser uma acção nova: comunicar.
E o Homem?
Cada vez mais só, ilude-se com o mundo à distância de um clic. Foi-se-lhe há muito o cheiro do outro, vai-se-lhe o tacto, ficou-lhe nos olhos somente a imagem recuada que o monitor displicente lhe permite, ouve, às vezes, um pouco distorcido o som da sua voz e ficou-lhe na boca o gosto a sal das lágrimas de cada madrugada em que acordou, na certeza de que se não acordasse ninguém daria pela sua falta.
Um texto bastante triste, demasiado real…
ResponderEliminarPrometa que não irá privar-nos da sua escrita, nós ficávamos a perder...
Bem-haja!
Um prazer ler-te. Não há muitas como tu!
ResponderEliminarSubscrevo a apreensão do Rui...
Não ouses!!!
Malfadada tecnologia que tudo devora! Que nos está a transformar depressa demais. Que está a exigir que vivamos a um ritmo que não é nosso. Não fomos concebidos para viver desta maneira.
ResponderEliminarAté quando é que nos vamos tolerar com estes comportamentos que nos estão a matar lentamente, inexoravelmente?
Impôe-se uma grande reviravolta!
Isto assim não é viver!
ps: voltei ao «post» anterior. Nada de especial.
Um abraço, António
A tristeza é um estado de alma que não casa com a sua coragem. Lê-la é algo de que não quero prescindir e por isso lhe peço que continue a escrever,citando Cecília Meireles:(a próposito
ResponderEliminardo título do texto)
MURMÚRIO
Traz-me um pouco de sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia
Um pouco de sombra apenas
Vê que nem te peço alegria
Traz um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração
A alvura apenas,dos ares
Vê que nem peço ilusão
Traz um pouco da tua lembrança
aroma perdido, saudade da flor
Vê que nem te digo-esperança
Vê que nem sequer sonho-amor
Acho que não ajudei nada mas acho este Murmúrio
lindo
Que bonito Isabel. E vai de encontro ao que me disse no comentário ao blogue: o tempo não volta atrás, há que aproveitar a vida.
ResponderEliminarContinue a escrever tão bem, não falta quem goste de a ler!
Faz bem "euchavi", não peça ilusão. A ilusão é inimiga da VIDA.
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