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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

É O FADO

Um amigo, que já não via há imenso tempo, telefonou. Que ia ser operado ao olho direito, que queria ver-me enquanto me via bem, pois poderia ficar cego e ficar a ver-me só pela metade. Além disso, no Verão vira ginjas à venda, lembrara-se de mim, comprara, pusera-as em infusão em aguardente e pretendia dar-mas, para que eu fizesse licor.

Sugeri que viesse merendar comigo no Domingo, se queria olhar para um cromo em vez de esperar pela hipótese de ficar a ver mal e depois imaginar-me uma estampa e que trouxesse as ginjas na aguardente que eu tinha “Zabelinha Borrachona” e “Zabelinha Princesa”, dois dos afamados licores produzidos no Zabeleiria Laboratórios - SA, para a troca.

Apareceu com dois sacos de plástico. “Costumam dar-me lâmpadas para a empresa, como sei que compras, trouxe-te algumas”. Eram dois sacos porque umas tinham casquilho grosso e outras fino. Agradeci.

Pusemos a conversa em dia, comemos torradas e bebemos café com leite. Dei-lhe dos meus licores e uma taça de marmelada para levar.

Depois do meu amigo partir, quando ia arrumar as lâmpadas lembrei-me do candeeiro do escritório. No escritório, a que a minha filha mais nova sempre chamou pomposamente "quarto azul", talvez por a cor existir parcamente na decoração, há um candeeiro de tecto com cinco túlipas. Desde que inventaram a moda das lâmpadas economizadoras que o dito nunca mais dispôs de lâmpadas iguais, porque, por sovinice, recuso-me a comprar de uma vez todas as necessárias, que ainda por cima dão uma luz que detesto. Assim cada vez que compro uma lâmpada nunca recordo o desenho das que já tenho, resultando por isso, que o candeeiro tenha, desde há algum tempo, cinco lâmpadas diferentes, o que constitui motivo de riso para quem repara no pormenor. Eu justifico-me como posso “será que sabiam que existia tantas espécies de lâmpadas? Isto não é descuido, é informação, é cultura”, mas, justificavelmente, ninguém acredita nas minhas boas intenções.

No saco das lâmpadas de casquilho grosso escolhi cinco lâmpadas iguais, mas… não havia. O meu amigo dera-me conjuntos de quatro.

O candeeiro lá continua no tecto do quarto azul, desta vez com quatro lâmpadas de nove e uma de onze, são todas torcidas muito pomposas, só que a de onze tem mais uma volta. Não são todas iguais, mas são parecidas.

Má sorte ser candeeiro em minha casa! É fado ter lâmpadas diferentes!

16 comentários:

  1. Assim contado, de facto, não será lá boa sorte ser candeeiro aí em casa!
    De qualquer modo, esses candeeiros não terão lá muitas razões para maldizerem do seu fado. É que dados os sucessivos aumentos da electricidade (que grande roubalheira, já começa a ser incomportável nos orçamentos familiares) os candeeiros de todo o país também têm razões de queixa deste fado.

    Tudo isto é vida
    Tudo isto é fado

    Fadário o nosso...
    (estou a ouvir - por acaso à luz dum candeeiro com uma dessas ditas lâmpadas economizadoras(?!) - uns tipos que se dão ao arrojo de falarem em nosso nome...e nada contente com o nosso fado...lá está o PPC a falar de apagar fogos...etc etc antes de nos pormos a conversar sobre reformas estruturais, bla bla bla...)

    Bom Natal, Isabel, cá vamos andando.

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  2. Lâmpadas todas iguais?? Para quê??...
    Troco todas pela luz de uma lareira, numa cabana de madeira,num monte,algures,sem eira nem beira.

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  3. Olá, António.
    Seja bem-vindo.Há quanto tempo... Anda lá pelo seu blog a postar fotos invejáveis (para nós regalarmos os olhos) e nem visita as amigas.

    Eu não acredito nessa do fado. Acho que poderá haver um certo determinismo nas circunstâncias, perante as quais nós acabaríamos por agir sempre do mesmo modo. Nesta matéria estou com Sartre. Até porque se pudéssemos voltar atrás no tempo e perante as mesma circunstâncias agir de forma diferente, hoje não seriamos quem somos, seríamos pessoas diferentes.
    Às vezes pergunto-me: estaria escrito nalgum lado que seria professora? Não acredito. Amei a minha profissão, mas há mais coisas que acho que teria sido capaz de fazer com o mesmo empenho: agrónoma ou advogada.
    Acredite que o meu candeeiro está mais bonito. Pelo menos já tem as lâmpadas quase todas iguais. Estás-se-lhe a virar as maré do azar

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  4. Ora aqui está, Olímpio, um cenário em que ainda nunca tinha pensado. "Sem eira nem beira" é que me parece um pouco excessivo. Será que não depende tudo do motivo pelo qual necessitamos de luz?

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  5. Sem luz, não haveria vida!... ...
    A Luz,ao homem,faz-lhe tanta falta quanto lhe falta - perdeu-se,logo,no segundo instante - após a chegada da consciência e da eira e da beira.

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  6. Olá, Olímpio.

    Essa ideia da luz como símbolo do conhecimento vem do helenismo. Eu confesso que tenho a mania de andar por casa com a luz apagada, tolice com que a minha mãe sempre embirrou.
    O Olímpio anda excessivamente rebuscado para quem, como eu, só tem um neurónio e ainda por cima, meio torcido.
    "A cabana junto à praia, entre as dunas e o canavial", no condomínio do José Cid, acho boa ideia e a lareira acesa também, porque os dias já estão mais frios.

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  7. Quèro pàràbênizarr tão gràndje mòdèsstiàrr, màis èssa, não pèga,NÃO! - (N.A.O.),(LOL)-agora acertei!Caramba!
    -No segundo instante...na saída do Paraíso...na perda da inocência...no conhecimento do Bem e do Mal...na prática,consciente,do último - a Gula pelo palácio e a Vertigem do uso do poder. ... ...

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  8. Quem é o José Cid??
    Junto à praia??É poético... Quase tropical...
    Mas... e a eustasia?
    A seguir à Savana, só há a Montanha!
    (e os transmontanos, caraças!)... (LOL) - agora já sei!Caramba!

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  9. Quem quer pàràbênizarr sou eu. Não ao meu caro amigo, mas a quem o conseguiu ensinar a falar esse outro português. Uma brasileira desfaz em vinte minutos, por vezes nem tanto, o que toneladas de livros durante anos de estudo se viram e desejaram para conseguir. (looooooooollllll)

    O José Cid é aquele senhor que se diz "a mãe do rock português". Aquela do condomínio foi para fazer espírito. Esqueci as aspas e estraguei tudo (lol)"A cabana junto à praia" é uma das suas canções, que eu gosto.

    Quanto à Gula pelo palácio e a Vertigem pelo poder... Que sei eu? Cresci batendo diariamente com os olhos num quadro que dizia "Se soubesses o que custa mandar preferias obedecer toda a vida" (era a legenda que encimava a porta do gabinete do reitor no Liceu Nacional de Leiria), por isso, o poder não me causa vertigens, não gosto de mandar. Prefiro que me obedeçam (lol)

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  10. Ah! E já agora, mais uma acha(zita) para a fogueira. Na minha modestíssima opinião, Bem e Mal são extremos opostos de uma mesma dimensão (acho que acabei de tropeçar no Nietzsche)(lol).

    Imperdoavelmente, para quem gosta tanto do mar visto da terra, quase esquecia a eustasia... O Olímpio tem medo de molhar os pés? Que teme? O degelo? Nem acredito que não saiba nadar.

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  11. Mais... Gula?! Só por chocolate. De preferência trufas de champanhe.

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  12. Medo??????????!!!!!!!!!!!!
    Sim!- Apenas da estupidez humana.
    Nadar? Como não?! É o que se faz toda a vida - demais agora! - Nas vagas alterosas!

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  13. Até nas vagas alterosas da vida é possível nadar. O problema é se os tubarões que nos geram os destinos nos abocanham e teimam em puxar-nos para o fundo.

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  14. ...No ar, - sê falcão!
    - Na terra pantera!
    - No mar tubarão!

    ...No Coração... - Sê Irmão!!

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