Hoje cheguei ao Lar e a minha mãe
estava nas instalações sanitárias. Enquanto aguardava dirigi-me ao bar. A D.
Irene, a voluntária que aí faz serviço, justificou o fim da conversa que
mantinha com um utente fora do local de trabalho:
- Vou atender esta senhora, que nem sei quem é
- depois riu-se e acrescentou - só nos conhecemos há quarenta e um anos.
- Impossível - declarei eu – só
tenho trinta e cinco de idade.
- Mas a sua filha mais velha deve
ter um pouco mais.
Rendi-me à verdade dos factos. A
D. Irene, uma mulher da minha idade, era funcionária da Escola do Magistério
Primário de Leiria quando aí fui colocada como professora, mudou-se depois, tal
como eu para a Escola Superior de Educação, voltei a encontrá-la quando como
aluna frequentei o curso de Solicitadoria na Escola Superior de Tecnologia e
Gestão e não sei por que sortilégio persegue-me ainda, no Lar Emanuel, onde já
aposentada, faz serviço voluntário.
A minha filha mais velha e o seu
são da mesma idade, pois na altura em que nos conhecemos, estávamos as duas
irremediavelmente grávidas. Hoje, ela só não lembrou o meu vestido amarelo. Eu
tive no verão em que a minha filha nasceu, um vestido de linho amarelo,
enfeitado a azul, comprado em Madrid (tempos idos em que havia dinheiro para ir
a Madrid, agora nem há para comprar um vestido), que eu usava bem curto, apesar
da enorme barriga, equilibrada em cima de uns sapatos brancos às tirinhas,
compensados e altíssimos. Se eu caísse do alto dos sapatos, morria antes de
chegar ao chão… Aos vinte e um anos eu era uma rapariga elegante e engraçadota (a
modéstia é uma coisa maravilhosa…) apesar da barriga estilo bombo de festa e o
vestido amarelo era mesmo bonito e sobretudo, embora de grávida, fora do
vulgar. A D. Irene sempre que refere esses tempos costuma dizer com voz
ternurenta “parece que ainda estou a ver a senhora com o vestido amarelo”, mas
hoje escapou-lhe e eu tive pena que lhe tivesse escapado.
Apetecia-me o mimo…
E a mim, hoje, apeteceu-me deixar aqui um ar da minha "graça"...
ResponderEliminarÉ mesmo só para dizer olá, como vai, Isabel?
Parece que está a ficar complicado, para mim, regressar do princípio do séc.passado....
Amanhã diz que é domingo...
Olá, António. Seja muito bem vindo.
EliminarAndamos todos atrapalhadíssimos com este retorno ao passado. Ninguém sabe como viver. Andamos todos a improvisar.
Hoje é mesmo domingo. Um dia lindo de sol. Esperemos que ele aqueça os nossos corações para que a palidez da esperança se transmute num verde luminoso.
Abraço fraterno.