“Primavera em Paris”: lembro-me vagamente das
personagens do filme: Gisèle e Pierre. Recordo
ainda o furo na roda da bicicleta e de algumas peripécias de enamoramento
que à mistura com a paisagem escolhida como fundo para essa comédia romântica,
puseram Paris no meu imaginário de pré-adolescente. Ah, mas Gisèle, não! Eu
tinha uma amiga no Liceu de longas tranças que se chamava Gisela. Gostava da
amiga, mas não gostava do nome. Justine… Eu achava que se fosse francesa teria
de chamar-me Justine. E o meu cérebro sonhava a brisa daquelas semivogais, seguidas da vogal muda, soprada ao meu ouvido por algum cavaleiro andante, o tal do
cavalo verde, que havia de aparecer na curva do caminho: Justine… Justine…
Justine… Não havia nada mais melodioso e as folhas das árvores tremelicavam e
os passarinhos chilreavam num céu azul luminoso. Tal e qual como num conto de
fadas…
Esta manhã, acordei, pouco
passava das seis horas. A claridade entrava pela persiana mal fechada da janela
do meu quarto e eu senti que tinha um sorriso nos lábios. “Devo ter sonhado com
Paris”, pensei. Também eu fora numa primavera a Paris. Na verdade, durmo sempre
tão profundamente que só sonho acordada. Ah, e é sempre hora de sonhar… Saltei
da cama, fechei a persiana e voltei a deitar-me…
Justine fingindo-se adormecida esperava que a brisa soprasse ao seu ouvido…
Foi a chave na porta que me
alertou... O cavalo verde? Não. Eram oito horas, a Carma chegava para mais uma
manhã de limpezas…
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