“Sou uma mulher em verde. Verde
de verdade, porque a verdade, por síncope da sílaba intermédia, é verde e verde
de esperança, porque sendo a esperança o sentimento de quem tem como possível
aquilo que deseja, de quem confia numa coisa boa, para mim nada é melhor que a
verdade, utopia dos que, tal como eu, sabem que mais não possuem que factos
verdadeiros e mesmo esses sujeitos à subjetividade de quem os testemunha…”
Foi assim que iniciei a minha
intervenção, num jantar a que compareci a pedido da minha deputada preferida e
por impedimento desta. Ali havia entrado muda e dali pretendia sair calada.
Aconteceu porém que o senhor ex-ministro da educação, de um governo socialista,
palestrante naquele jantar de R. acusara os professores de tantos dos males
vindos ao mundo, quiçá de muitos outros que já se adivinhavam, que eu não
resisti. Confesso que a minha intervenção, profundamente dorida, mas nem por
isso menos assertiva, deu um rumo diferente àquele a que a palestra conduzira
os ouvintes e as intervenções alongaram-se bem mais do que se previra.
Há dias escrevi que a esperança
não se herda e fiquei a pensar no assunto. De onde vem a minha? Se a cultivo aonde
vou buscar a semente? E recordei-me desta intervenção.
Embora gostando de chamar as
coisas pelos nomes, de ferozmente fazer por elas, enfrentando as situações de
peito aberto, qual “gata assanhada” (expressão que ainda esta tarde foi usada
para me chamarem à ordem), pretendo sempre que tudo se resolve a contento, chego
a ser irracionalmente crente nas soluções ao ponto de não vendo saída, pensar
“Deus providenciará”. Depois, filha de meu pai e herdeira daquele detestável humor
cáustico que o caracterizava ser incapaz de prescindir da questão: “Como é que
Deus se irá safar desta? Será que tem gente suficiente a despachar por minha
conta?” Não sei quantos serão a despachar por minha conta, mas estou em
condições de garantir que Deus sempre providenciou e acredito que, quando me
vir aflita, voltará a providenciar.
E, face ao exposto, sou obrigada
a concluir que a culpa é de minha mãe. Em pequenina deixou-me cair na Arca de
Pandora quando lá não restava mais do que a esperança. Quando me tirou eu
estava contaminada e sem cura, irremediavelmente verde.
Hoje, andei a "roubar" por todo o lado...
ResponderEliminarO "TINTA COM PINTA" também não escapou... mas achei tão apropriado...
tintacompinta.blogspot.com/
SEXTA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2013
"Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental."
(Gilberto Freyre)