À Janela, em Reguengo do Fetal....
Como a janela estava trancada, e nós sem meios para a abrir, pusemo-nos ao caminho...
"A Leste da airosa e
pitoresca povoação do Reguengo do Fetal, a dois passos de Leiria, Batalha e
Fátima, sobre um gracioso outeiro, donde se pode disfrutar surpreendente
panorama, com a concha do Reguengo aos pés e flanqueado pela estrada coleante
que das bandas do ocaso conduz a Fátima, encontra-se situado um dos mais
devotos e vetustos santuários marianos do centro do País: - Nossa Senhora da Fé
ou do Fetal.
A encantadora e ingénua
história da origem deste templo corre ainda hoje viva, de boca em boca, entre
os moradores e vizinhos desta terra, cheia de gloriosas tradições cristãs.
E reza assim:
Era uma vez uma
pastorinha, que apascentava o seu rebanho pelas encostas áridas e ermas do
Reguengo. Em ano de grande e apertada estiagem, andava ela, um dia ali no
cabeço, onde agora se encontra o santuário de Nossa Senhora, e, vendo-se ela
cheiinha de fome, as suas ovelhinhas tísicas de todo, só com pele e osso, sem
febra de verdura para retouçar, encheu-se de tristeza e largou-se a chorar.
Erguendo do regaço o
rosto magoado e com os olhos inundados de lágrimas, viu com surpresa, no meio
dum tufo de fetos, uma estranha Senhora, que lhe falou assim:
- Porque choras tu,
minha menina?
- Tenho fome ...
- Vai pedir pão à tua mãe.
- Já lho pedi, mas ela não o tem.
- Vai a tua casa, - insistiu a Senhora -,
e torna a dizer-lhe que te dê pão. Dize-lhe que uma Mulher te mandou dizer-lhe
que está pão na arca.
Efetivamente,
verificou-se que a arca estava inexplicavelmente cheia de fresco e saboroso
pão, que mais parecia ter sido amanhado por mãos de anjos do que por mãos de
hábil padeiro.
Voltando de novo, já
satisfeita e alegre ao sítio onde a Senhora lhe aparecera, eis que a pastorinha
mais uma vez a pôde ver e com Ela dialogar, recebendo então dos Seus lábios a
seguinte mensagem:
- Dize à gente do teu lugar que Eu sou a Mãe de Deus e quero que, no sítio
deste fetal, me edifiquem uma ermida, na qual Eu seja louvada e venerada." (www.leiria-fatima.pt/reguengo)
E assim aconteceu… e festeja-se.
A festa acontece em dois
fins de semana consecutivos. Este ano também se festejavam os quinhentos anos
da povoação.
Assim, no dia 28 de
Outubro, São Sebastião subiu em procissão, até à ermida da Senhora e convidou-a
a descer a ladeira, para uma estada de oito dias na Igreja Matriz.
A santa saiu da ermida e
desceu por um caminho iluminado por luminárias feitas com cascas de
caracoletas, até à Igreja Matriz, que se situa no povoado. Neste dia há menos gente,
quase só os residentes assistem e tomam parte, no evento religioso.
Dia 6 de outubro, a
Santa voltaria ao seu santuário.
A minha amiga Paula propôs-se receber amigos em sua casa, como de costume e eu fui uma das convidadas.
Chegados, para dar tempo
à “tia” Paula de se “pôr nos trinques” fomos passear pela aldeia para avaliar o
esforço que a população investia na festa.
Primeira paragem: O largo no centro da população
Monumento alusivo ao cinquentenário
A Igreja Matriz. À esquerda havia febras e à direita, no palanque em azul e vermelho, música para dar ao pé...
No largo, por detrás do monumento, vende-se café da avó. Há ainda filhós de prato e muitas outras coisas dietéticas...
No café da sra. Maria, também no largo, vendiam-se velas para a procissão
Pormenor de uma janela
S. Sebastião, na Igreja Matriz
Nossa Senhora do Fetal - imagem do século XVI - Igreja Matriz
Em que pensaria? A máquina pesaria muito?
Pormenor de uma luminária- na horizontal são fixadas com areia; na vertical com barro fino.
Nada fica por iluminar. Pormenor de umas velhas escadas
Pormenor de um pequeno largo
Pátio do Jardim de Infância. Foi aqui que conheci a sra. Maria, a dona do café onde se vendiam as velas. Meti conversa, para saber pormenores. E não é que a sra. Maria me estragou a festa? Pensava eu que as pessoas enfeitavam a povoação por pura devoção à Virgem e não é que ela disse que havia prémios para a melhor decoração. Não achei graça nenhuma à novidade.
E sobre os muros...
E sobre as sebes...
O barro fino secara. Repunham-se as luminárias caídas.
No espaço que estas duas fotos documentam, mora a sra. Maria e a família: cerca de três mil caracoletas para os dois dias de procissão. Sim, as luminárias da procissão de sexta-feira, quando a santa desce, não são aproveitadas para o sábado da semana seguinte, quando a santa sobe, porque se queimam. Nesse sábado faz-se tudo de novo.
E vá de subir a ladeira... A Susana? Onde está a Susana?
Esta, foi só porque as flores eram bonitas. :)
O jardim do taxista da Paula
A "pequena" não chega aos pedais, mas lá se equilibra. Pormenor do jardim do taxista da Paula.
Também trocámos dois dedos de conversa. Fiquei a saber que de Peniche vieram cerca de vinte mil cascas de caracoletas porque as que se apanham nos campos são mais pequenas e por isso não são tão boas.
O que estariam estes dois a conspirar?
E chegámos ao cimo do outeiro. Neste espaço realizam-se os festejos de domingo.
O santuário de Nossa Senhora do Fetal (uma pequena ermida onde permanece a imagem - ou a sua réplica dado o valor desta - não sei ao certo - durante o ano)
Gosto de sinos...
E nem o cemitério escapou ao meu olhar curioso. E o simbolismo desta campa?
A "tia" Paula tinha ordenado o recolher para as dezanove horas. Era hora de descermos.O Paiva fez parar a viatura de um casal idoso: "Muito obrigada por terem parado, mas nós preferimos ir a pé, para cumprir a penitência." O casal achou piada. Sorte a dele...
Uau! A "tia" Paula já tinha feito a toilette... Eis os sete magníficos. A oitava estava atrás da câmara.
(A foto está tremida, porque fiquei com os olhos em bico)
As entradas já estavam na mesa. E nós não nos fizemos rogados... O pernil estava ótimo (não há quem o faça tão bem como a Paula), a salada de marisco nem se fala, o paté e o queijo da Serra, deliciosos. A massinha de frango, com ananás era especial para a Nini, por conta das alergias e as ovas não provei, mas ouvi dizer que também estavam maravilhosas.
E o que se seguiu? Um bacalhau com os pimentos esquisitos, cujo vaso eu carregara no dia da Feira Medieval da Batalha (os "tormentos" por que a "tia" Paula me faz passar...); presunto com feijão; etc, etc etc nem digo o resto para não salivarem mais... e aquele doce? "Floresta negra"... que este ano foi confecionado com a ginja daquela garrafita que me tombou na perna?!! Eu também levei uma torta de noz e os figos em calda de que a "tia" gosta muito.
Depois do jantar - dietético - como se adivinha, fomos à procissão.
Já se acendiam as luminárias, a procissão estava a quase a sair.
Nas sebes
Nos muros... Por todo o lado havia luz, muita luz.
Gente, muita gente. Gente a mais para o meu gosto, o espaço e... pouca devoção.
O pátio do Jardim de Infância
O sítio onde mora a sra. Maria e a família
O jardim do taxista da Paula
A tal "pequena" que não chega com os pés aos pedais...
Pormenor do lado esquerdo em frente do jardim
E os campos ao longe
Finalmente a Senhora chegou ao santuário, à pequena ermida onde permanecerá mais um ano e o céu ribombou em cor
E virou verde. Vestiu-se da esperança de quem pediu à santa algum milagre.
Acabara a procissão e no muro, em frente à ermida, as pessoas começaram a depositar as velas.
Havia imensa gente, mas eu queria ouvir a ladainha e fui entrando na ermida. Os amigos ficaram para trás. Junto à imagem, perto do altar, um coro de vozes femininas cantava e no coro alto, alguns músicos da filarmónica das Cortes acompanhava. Um jovem tocava flauta prodigiosamente e de um lado algumas vozes femininas associavam-se a outras masculinas e respondiam ao coro situado em baixo.
A Paula, a Nídia e a Susana, professoras de História, insurgiram-se contra a inovação, constituída pela introdução das vozes masculinas, por admitirem que a festa seja a cristianização de um rito à deusa da fertilidade. Que "resmunguice"!
É uma injustiça a foto estar tremida. O senhor de bigode tinha bem colocada a sua bela voz de tenor e o que cá em baixo cantava ao meu lado, também.
Acabou a ladaínha e apareceu o Rodrigo dentro da ermida: "Isabel vamos embora" "Não Rodrigo, ainda falta o terço." E entrei na sacristia, dei esmola à santa e trouxe...
Acabou a ladaínha e apareceu o Rodrigo dentro da ermida: "Isabel vamos embora" "Não Rodrigo, ainda falta o terço." E entrei na sacristia, dei esmola à santa e trouxe...
o terço.
Acabou a cerimónia religiosa. Cá em baixo, começava o arraial. A Paula estava cansada. Uns dirigiram-se a casa, outros ainda foram beber um café da avó e, simpaticamente, não se esqueceram de trazer as filhós para quem ficara.
Não vou dizer que gosto muito de festas... receio ser mal-entendido.
ResponderEliminar:)
Bela reportagem.
Como eu o compreendo, Rui!
EliminarHá festas e festas... E de umas, que não destas, até os bichinhos gostam... (como eu costumo dizer)
Muito obrigada por ter gostado da reportagem. Sou péssima fotógrafa e conclui que é muito difícil fotografar as luminárias acesas. Tenho de perguntar a alguém que entenda de fotografia, possivelmente já ao comentador que se segue.
Um dos amigos foi equipado com uma máquina decente, só que, quando pretendeu disparar, descobriu que a bateria não estava carregada. Eu, por acaso, já tinha visto um filme parecido, na semana anterior.
A reportagem não podia ser mais completa e festiva.
ResponderEliminarNão consigo descortinar a Isabel. Será que foi ofuscada pela Santa?
António,eu era o olho curioso atrás da câmara fotográfica.
EliminarÀ porta da Paula um dos amigos trocou comigo, mas eu preferi publicar a foto em que stão todos eles.
Sabe-me dizer porque será que algumas fotos ficaram aos riscos de luz. Terei sido eu que tremi? Tremeram as luzes das luminárias? Nas fotos que retratam a decoração dos campos nota-se o que refiro.
Faltou lá o António com a objetiva em punho como já o vi na cidade.
Ora vejamos.
EliminarO problema das ditas fotos pode ter origem numa das seguintes hipóteses:
1- a focagem não foi ajustada ao objeto a fotografar;
- por vezes convém selecionar a focagem manual;
2- já há máquinas com estabilizadores mas que, claro, não resolvem tudo;
2a- o fotógrafo pode ter-se assustado instintivamente com alguma coisa eheh
3- a resolução das fotos pode não ser a melhor (mas não me parece que possa ser o caso);
Meu caro amigo,
EliminarHá entre as suas observações algumas escritas em chinês :))
O problema deve situar-se ao nível da resposta 2a e 3. De onde concluo que não há nada a fazer para melhorar a qualidade dos registos.
Não pensará também que tenho uma câmara de jeito?! A minha máquina é uma Nikon Cooplix 5200, das primeiras que apareceram e precisa de ir para o arranjo, pois o LCD, se a máquina está ligada muito tempo, fica negro em metade da superfície o que tem as suas vantagens... o que fotografo é sempre uma agradável surpresa, nunca sei bem o que vai sair :)). Traduzindo: deveria substituir a máquina fotográfica, mas acontece que à época, foi (um bocadinho) carota e eu estou cheia de pena de a deitar fora, embora saiba que hoje há, no mercado, preços convidativos. Também ainda não procurei saber se o arranjo valerá a pena. Enfim, sou um desastre de fotografa...
Muito obrigada pelas suas dicas.
Bom fim de semana.
Abraço.
disfrutar.....????? A leitura parou aqui!
ResponderEliminarOlá, Anónimo. Que nome tão original!
EliminarPara desfrutar terá de ir à festa. As cavacas do Fetal também são ótimas. Diferentes de todas as que conheço.
Entusiasme-se e vá. No próximo ano há mais.
Ou será que quer ler mais coisas no blog? Para isso terá de clicar sobre "Mensagem antiga" que está mesmo aqui em baixo à direita ou clicar no topo esquerdo por baixo dos seguidores, onde diz"Arquivo do blog". Tente, não custa nada. Se era o que pretendia, espero que se divirta com os textos.