Acordei na noite, cerca das três
e trinta da madrugada. Coisa rara em mim…
Levantei-me e fui à cozinha beber
água, sem ter sede. Sem ter sede de água.
Sem acender a luz caminhei pela casa
e lembrei os ralhos da minha infância. A minha mãe assustava-se com tais incursões, mas eu nunca tive medo do escuro.
Foi aquele quarto interior entre o de meus pais e o de meu irmão, onde eu
brincava aos caranguejos, escondida e calada, com os olhos de fora, tentando
adivinhar os objetos, que nos tornou amigos.
O escuro é frágil. Tem medo da
luz e esconde-se debaixo da cama. E tantas vezes me enfiei debaixo da cama a
fazer-lhe companhia… Há crianças que têm um amigo imaginário. Eu tinha o
escuro.
Ainda tenho. E em cada lado da
noite, estendo as mãos e agarro o sonho que a luz adia.
De noite os sonhos são escorregadios e só umas mãos verdadeiramente hábeis os conseguem agarrar. Infelizmente não é o meu caso.
ResponderEliminar:)
Tem muita razão, Rui. Os sonhos são escorregadios e paupérrimos. Em duas dimensões, a preto e branco, feitos à nossa medida. A realidade é bem mais aliciante... três dimensões, todas as cores do arco-íris, momentos imprevisíveis... supera a imaginação, mas cada um tem de viver com o que tem e saber ser feliz com isso.
EliminarO Rui não precisa de agarrar os sonhos. Sorte sua.