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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ACORDEI NA NOITE


Acordei na noite, cerca das três e trinta da madrugada. Coisa rara em mim…

Levantei-me e fui à cozinha beber água, sem ter sede. Sem ter sede de água. 

Sem acender a luz caminhei pela casa e lembrei os ralhos da minha infância. A minha mãe assustava-se com tais  incursões, mas eu nunca tive medo do escuro. Foi aquele quarto interior entre o de meus pais e o de meu irmão, onde eu brincava aos caranguejos, escondida e calada, com os olhos de fora, tentando adivinhar os objetos, que nos tornou amigos.

O escuro é frágil. Tem medo da luz e esconde-se debaixo da cama. E tantas vezes me enfiei debaixo da cama a fazer-lhe companhia… Há crianças que têm um amigo imaginário. Eu tinha o escuro.

Ainda tenho. E em cada lado da noite, estendo as mãos e agarro o sonho que a luz adia.

2 comentários:

  1. De noite os sonhos são escorregadios e só umas mãos verdadeiramente hábeis os conseguem agarrar. Infelizmente não é o meu caso.
    :)

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    1. Tem muita razão, Rui. Os sonhos são escorregadios e paupérrimos. Em duas dimensões, a preto e branco, feitos à nossa medida. A realidade é bem mais aliciante... três dimensões, todas as cores do arco-íris, momentos imprevisíveis... supera a imaginação, mas cada um tem de viver com o que tem e saber ser feliz com isso.

      O Rui não precisa de agarrar os sonhos. Sorte sua.

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