E o Natal passou. Mais um que
aconteceu cumprindo-se em desvelos.
O André veio uma semana antes.
Presente antecipado do Pai Natal que atirou com os preparativos culinários para
horas habitualmente consideradas impróprias. Não por mim, que tantas vezes
trabalhei alongando-me nas horas em que, vulgo, se costuma descansar.
E cozinhei: “para um regimento” –
dizem as filhas - que depois se abastecem e levam para suas casas o comer em
excesso, poupando-se no trabalho de confecionar algumas refeições. Também eu
fico fornecida por uns tempos e, por vezes, até dá para as amigas provarem as
iguarias.
“A avó coseu o peru” e todos
pensando que o havia cozido não entendiam a admiração… “sim?!” – alguém
comentou condescendente. “Com agulha e linha e brincou com as asas; até parecia
que o peru dançava” – acrescentou o André. Foi então que se percebeu o espanto.
De todos os trabalhos, o André vira rechear o peru e prepará-lo para assar.
Comido o jantar do dia vinte e
cinco, começa a debandada. Primeiro parte uma, depois os outros todos. Volto a
ficar só. Pela casa parece ter passado o “fim do mundo” e eu começo a arrumar…
E continuo arrumando no dia vinte
e seis. Depois cedo lugar à tristeza. Há sempre algo em mim que se não cumpre. São
afetos – outros - que me faltam: uns que se foram, porque a vida se há já
cumprido, outros porque os não terei merecido. É a nostalgia do Natal: ataca,
sacudo-a, adormeço-a e a vida continua, na certeza de que mais ou menos sofrida
é o melhor presente que já me foi oferecido.
Ah! Sem presentes de outra ordem.
O Pai Natal chegou apressado. Bateu, deixou as prendas na varanda e escapuliu-se.
O André bem chamava. Pai Natal! Pai Natal! Este ano nem o vi… – lastimava-se e
ele nada, nem para trás olhou. Mas eu gritei-lhe da varanda: Acabe depressa com
a crise que eu também quero prendas… Tenho a certeza de que terá ouvido. Sou
professora e faço teatro, falo bem alto!
E chegámos ao fim de mais um ano.
Em trezentas e sessenta e seis folhas fomo-nos entretendo a escrever sem borracha.
Teremos escrito o melhor que pudemos, tantas vezes angustiados e sempre comprometidos
com as decisões que tomámos. E tantas vezes assaltados pela dura sensação de
impotência perante as situações em que não dependo só de nós a solução, não
conseguimos cativar os outros para ela.
A nível do coletivo ensombramos
negra nuvem. A palavra oportunidade, de tão vã, passou a significar demagogia e
só um povo de brandos costumes, teimosamente verde, consegue vislumbrar a
vontade de continuar a acreditar que o milagre acontece.
E eu, contagiada pela vontade
coletiva de que tudo se resolva a contento também acredito que terei a força, a
coragem e discernimento necessários para levar a vida por diante.
Que venham essas trezentas e sessenta
e cinco folhas brancas! Cá as espero de lápis afiado, pronta a escrever mais
um ano de vida, não como eu gostaria, mas da melhor maneira que for capaz.
Desejo a todos alento e coragem,
muita coragem para enfrentarem as vicissitudes que possam surgir, tantas delas
devidas a loucuras “outras” que não nossas, mas que nós teremos de sofrer na
pele como se de opções nossas fossem a consequência. E acreditem, acreditem que
dia a dia o ano cumprir-se-á e havemos de respirar aliviados. Só precisamos de
saúde e vontade de viver, o resto virá por acréscimo.
Para vós, os meus votos de um ano
de 2013 bem vivido e um abraço solidário.
«É a nostalgia do Natal» dizes bem! Também a sinto e cava fundo em mim. Mas também, logo sacudo as penas e me levanto impante para enfrentar seja o que for. Logo se vê! O que é preciso é acordar vivo!
ResponderEliminarBom Ano!
A mensagem não podia ser mais sincera e encorajadora. Muito obrigado.
ResponderEliminarBom Ano!
O meu abraço fraterno e solidário para todos vós.
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