A Ana, depois de prolongada ausência,
retomara o serviço e eu, em vez de arranjar as unhas na manicure que trabalha no
salão da minha cabeleireira, marquei o serviço na Leiriestética. E lá fui…
Ela arranjava-me as unhas e eu
conversava com a O. que entretanto
aparecera para o mesmo e por me ver, invadira o espaço. A certa altura, a Ana
levantou-se e voltou com uma chávena de chá. É sempre assim: entre uma mão e
outra, ela oferece-me uma chávena de chá, porque para além de saber fazer o seu
trabalho, sabe cativar as clientes. E aqui cativar tem mesmo o significado de “criar
laços”, que Saint Exupérie lhe atribuiu, dado ela ser uma jovem sorridente e
afável. “Diga-me, no outro lado onde arranjou as unhas também lhe serviram um
chazinho…”- perguntou-me com ar malandro - “sua chantagista! “ - exclamei enquanto ela
servia o chá à minha amiga – “saiba que não me deram chá, mas ofereceram-me uma
taça de champanhe e uma fatia de bolo floresta negra” “porque foi o aniversário
do salão, senão não teria direito a coisa alguma” E a conversa continuou,
inconsequente enquanto a Ana tentava acabar o trabalho.
Reparei então que no fundo da
chávena, à semelhança do que acontecia antigamente, havia um pedacinho de folha
de chá, sem que se entenda por que artes terá conseguido escapar à embalagem que
se usara na máquina. “Gosto do chá” – ela servira-me um chá de pêssego - “mas
ainda gosto mais da mensagem que contém”- brinquei eu - “mensagem?!” Então
expliquei, com a anuência de O. que garante que ainda faz chá assim, que
antigamente não havia folhas picadas para a infusão, em saquetas, nem máquinas
que fizessem o chá, resultando daí que as folhas eram vendidas picadas em
pequeninos pedaços, pouco maiores que o que se podia ver na minha chávena e que,
depois de mergulhados em água a ferver, era necessário esperar que assentassem,
para se servir o chá. Se o acaso fazia com que algum desses pedacinhos
saltasse para a chávena, a feliz contemplada, sabia que ia receber uma carta. “Carta,
não. Já não se usa. Um email” – brincou por sua vez a Ana “ora tanto faz –
retorqui – é preciso é que seja um miminho, pois é do que bem preciso”.
Acabado o trabalho, despedi-me,
não sem antes pagar, obviamente, e saí.
Chovia e meia dúzia de passos
dados encontrei a dona L. que parecia passear-se à chuva. As boinas que ambas usávamos
tornavam-nos “atletas” do mesmo clube, mas de modalidades diferentes, dado ser
tigresa o padrão da minha e de ser preta a cor da dela, com aquele ar de
sofisticação que a pregadeira, colocada no lado mais baixo lhe dava. Um dedinho
curto de conversa e seguimos, cada uma para seu lado, dado que achando que não
chovia, se recusou a que a acompanhasse a casa, sob a proteção do meu chapéu-de-chuva.
A conversa tida na Leiriestética fora completamente esquecida.
Só depois de aberta a caixa do
correio, à entrada do prédio aonde habito, à visão de uma carta diferente, me lembrei
do chá. Lá estava a carta! Era mesmo uma carta, não um email conciso. Só poderia ser a carta que o chá anunciara! Abro-a…
e que mimo!
Era uma carta das Finanças… alguém
nos ama mais? Alguém se lembra mais de nós? Poderei eu queixar-me com falta de
mimo? Quinze euros de coima por ter comprado o selo do carro, respeitante ao
ano de dois mil e oito, nos primeiros dias de Novembro em vez de o ter feito
até trinta e um de Outubro. Que outro mimo me deixaria mais efervescente? Quem não ficaria “com
asa leves e brincos na alma"?
Ah! Depois do que conto ainda
haverá alguém que duvide das premonições das folhas de chá?
Por falar em Finanças... chegou a pedir recibo?
ResponderEliminar:)
Pois! Economia paralela!15,00 € por dois dias. Em vez de comprar o selo no dia 31 de Outubro de 2008, comprei no dia 2 de Novembro. Fiquei mesmo zangada. Estava com esperança de escapar... mas as Finanças amam-nos tanto quer nunca se esquecem de nós...
EliminarPremonições à parte, ora acontece que o prazo para a cobrança dessa multa acabava precisamente no final deste ano. De modo que, 4 anos depois, aí estão a chover as coimas das infrações de 2008. É que ainda são uns milhões. Nessa época "longínqua" quem é que se incomodava a cumprir prazos para pagar essa taxa? Era mais mês menos mês, o que interessava é que fosso do ano.
ResponderEliminarSão em barda, essas coimas! Pois está claro!
Pela minha parte também já tive a minha dose, há dias. Uma multa por ter estacionado a impedir a formação de fila de trânsito! Mentira, podia-se circular à vontade e não se vê nenhuma placa de estacionamento proibido.
Vou para tribunal? Vale a pena? Há justiça?
A caça às multas é uma fonte de receita do Estado que tem um valor significativo no Orçamento.
Quanto a esquecer, isso era dantes! Agora são as bases de dados que cruzam informações umas com as outras! E como elas são implacáveis!
Vamos mas é a mais um chazinho, que com as Finanças não nos safamos!
As Finanças levaram-me os Euros, não há dinheiro para chá :) Já imaginou os chás que eu tomaria na Praça Rodrigues Lobo, com o dinheiro da coima?! Ainda apreciava a paisagem, usufruía das amizades e poderia vê-lo por lá em terno namoro com a objetiva. :))
EliminarCreia-me "piursa" com o assunto. Ainda ando a remoer a questão, mas já paguei para não agravar a coima com juros, pois as Finanças são mais persistentes que o mais apaixonado dos amantes... :))
Ora aí está uma dedução lógica, racional, mas também muito humana.
ResponderEliminarSeria muito mais racional, até do ponto de vista da gestão de expectativas dos cidadãos, consequentemente estaríamos muito mais motivados para investir o nosso dinheiro duma forma mais produtiva e que pudesse contribuir para o desenvolvimento económico, se não olhassem para nós, cidadãos deste país em desassossego, como meros contribuintes (sujeitos passivos, como a lei fiscal se compraz em nos tratar a partir do momento em que temos um número de identificação fiscal) sempre de carteira aberta para depositar a perder de vista, os poucos euros que ainda nos vão restando.
E as Mega fraudes fiscais, económicas e financeiras que vão para os "nossos" tribunais? E os recursos atrás de recursos, para fingir que há lei que está a ser cumprida até às últimas consequências? E que só está ao alcance de meia dúzia de gurus? Para o comum de nós, valerá a pena recorrer aos tribunais? É que nos ficamos pela 1ª instância, onde sistematicamente somos condenados, quando em litígio com o Fisco! E dinheiro para prosseguir com a ação quando já estamos depenados?
Pois, pois, Democracia!
Venha lá a IV República, Snr. Jardim! O snr. é "muito esperto", mas olhe que às vezes até somos tentados pela serpente do paraíso para ir na sua "conversa"!
É lá! Fiquemo-nos por aqui, que ainda me recrutam para a FNR.
(Já sabe o que é a FNR?)
FNR??? Acrónimo de Fachagentur Nachwachsende Rohstoffe, a Agência de Recursos Renováveis da república Federal da Alemanha?????
EliminarTenha dó. Tudo o que neste momento vem da Alemanha deixa-me num destempero capilar tal que, na rua, as pessoas fogem com medo ao olhar-me para a cabeça. :) Enquanto espero que me esclareça prefiro dar uma voltinha às letras e pensar que se referem ao Ford Reactor Nuclear da Universidade de Michigan. :)
FNR - Frente para a Nova República.
ResponderEliminarAssim "brincou" D. Alberto da Madeira!
Mas acha mesmo que eu dou importância ao que diz esse senhor? Nem a simples curiosidade me faz ouvi-lo. :)
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