Ontem, regressara do concerto de
Jazz, que aconteceu uns decibéis acima do recomendado para a sala intimista que
é a do Teatro Miguel Franco e chegada a casa, ficara em ameno cavaqueio com um
amigo no chat do Facebook. Ele reconhecido intelectual cá do burgo concedeu-me
o privilégio de ler, em primeira mão, um dos seus poemas, acabado de escrever:
- Meu Deus! Estás triste? – quis saber.
Como resposta enviou-me um poema de amor:
- Zangas-te se “mandar bocas”? –
perguntei, achando estar a falar de amor “sob as tílias” quem talvez nunca
tivesse amado em tal sítio.
Sugeri algumas alterações, deixando espaço e tempo para que quem lesse o poema se apoderasse dele e
saboreasse o beijo como lhe apetecesse.
- E a mancha gráfica?
Eu disso gostava, mas não enjeitei
a ocasião de referir que detestava o fim que entretanto lhe acrescentara, confessando
humildemente que quem sabe, escreve e quem não sabe, opina acerca daquilo que
os outros escrevem.
- Deixa-te de merdas – escreveu ele
– conhecemo-nos há anos de mais para cerimónias. Se não quisesse a tua opinião
não perguntava.
De facto somos amigos desde garotos,
mas eu naquele momento não sabia se o meu amigo queria mesmo a minha opinião, se
a minha companhia, num momento de solidão que talvez não lhe apetecesse e se não perguntaria
só para me manter ali, conversando mais uns minutos . Daí o meu pudor opinativo.
E neste vai e vem de versos
deitei-me às duas horas da manhã.
Invariavelmente, acordo um pouco
antes das oito e assim aconteceu hoje. Como era quarta-feira, dia da Carma vir
limpar a casa, deixei-me ficar na cama até que a ouvi abrir a porta da rua. Então,
pulei fora da preguiça.
Acordara com o "mar nos ouvidos",
um cansaço enorme na alma e uma vontade ainda maior de me “atirar ao rio”.
- Hoje não pode ser – garantiu a
Carma – temos de ir a minha casa buscar um saco de terra para os vasos e tem de
me ajudar a mudar as flores.
E quem pensa que na minha casa
mando eu, que se desiluda. Quando a Carma dá ordens, refile eu o que refilar,
não me resta senão obedecer. O temporal levara as malvas-rosas das floreiras da
varanda e a ela decidira substitui-las por amores-perfeitos que trouxera do
viveiro da prima. “E toca andar que a manhã é curta” - não disse, mas pairou implícito
e eu obedeci.
A tarde, passei-a debruçada sobre
a má disposição, fechada em casa, a receber mensagens lembrando a vinda a
Leiria de António José Seguro e só por volta das dezanove horas fui ao
Continente às compras, para depois jantar e ir ouvir o líder.
O P da C veio cumprimentar-me mal
me viu aproximar da entrada de ESECS e eu brinquei:
- Não precisavam de vir todos receber-me.
- Bastava vir eu, não era?
Entrei, atravessei o átrio, cumprimentando
sem me deter e dirigi-me ao anfiteatro onde pacatamente tomei assento, esperando o início da sessão.
Era o Dia Mundial da Felicidade,
mas eu não sou feliz por decreto.
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