“O meu ursinho, avó?””O meu está
aqui. Perdeste o teu?” – respondo abraçando o André, a espreitar junto da minha
cama improvisada, no seu quarto. Começava o dia. O último de agosto.
Levanto-me e abro a persiana do
quarto ao lado, aquele onde deveria dormir. O branco das casas brilha na luz da
manhã. Muitos carros já circulam na IC19. O vermelho das palavras Continente e
Conforama saúdam-me. “Antes queria ver o Tejo” – penso, lembrando a antiga casa
da sobrinha, situada uns metros mais à frente. É dia trinta e um de agosto.
Poucas horas faltam para que o mês se cumpra.
Agosto e S. Martinho são indissociáveis. S. Martinho de novo, este ano, num vai e vem de tardes. E as
amigas! “Já que ninguém nos cuida, temos nós de nos cuidar umas às outras” –
costumo lembrar.
Dia um, fui sozinha: saber da
barraca, levar as cadeiras e gozar de uma excelente tarde de praia. A maré alta
é propícia a bons banhos. Gosto de me sentir como que perdida, na imensidão do
mar, acariciada pela água e olhar para terra. Ali está o meu porto seguro. É
como quem arrisca, sabendo que ganha. Meia dúzia de gestos, sem necessidade de que
se enquadrem em qualquer estilo natatório e estou com os pés firmes, na areia
molhada e dura. Só em S. Martinho a areia molhada é dura.
Dia dois, o primeiro passeio a
Salir. “Avançamos? Voltamos para trás?” – (premonição...) e sorrio “voltamos”.
Acabara de descobrir que a borda daquela imensa concha materializava a minha
distância pessoal e que o mapa das “minas” com que a armadilhara era de fácil
leitura.
A partir de então as amigas
estiveram presentes, não temos companhia, mas estamos acompanhadas e as tardes
fizeram-se de risos e boa disposição.
Uma ida a Lisboa, para cuidar da neta. Um passeio a Viana do Castelo. “Nunca te cansas?” – perguntou a filha. Uma tarde de domingo a preguiçar, em casa, para retemperar e, de novo, S. Martinho.
E a maré alta a envolver-me e eu
a nadar até às boias, a rodopiar dançando na água, a esvoaçar sentindo-me
gaivota e, em vez de voar, nadando…
Dia vinte e seis, a mudança da
maré. “Hoje, não toma banho?!” – admiraram-se os vizinhos de barraca, “a água
não chega”.
“Anda daí, vamos a Salir apanhar
conchas cor-de-rosa” “conchas cor-de-rosa?!” – admirou-se a amiga, para, depois, se
encantar a apanhá-las. “Sempre a aprender! Não sabia que havia conchas
cor-de-rosa…” “só em Salir” – esclareci.
À noite, o telefonema da filha: “preciso
de ti”. E aqui estou. Cumprem-se os netos, por doença da mãe. Adiou-se, para o
próximo ano, o concurso de ginjinha, agendado para a tarde do dia vinte e sete.
Cumpriu-se S. Martinho. Está
quase a cumprir-se Agosto.
Sem comentários:
Enviar um comentário