Todas as tardes, cumprida a
visita diária a minha mãe, rumo a S. Martinho do Porto, cerca das quinze horas.
E o mês de Agosto vai acontecendo num vai e vem sem parança.
Há sempre amigas interessadas no
passeio o que me faz trair Michael Bubllé, cujo CD, escolhido há imensos dias
ainda não conseguiu fazer-se ouvir até ao fim. As canções começam a tecer-se
nos curtos minutos que separam a minha casa da de PS, para se calarem assim que
esta entra no carro. Que sorte! Quando a OC aparece à minha porta e me
acompanha, nem sequer começam a ser ouvidas. A conversa leve e inconsequente
com as amigas é bem mais interessante.
As tardes de praia, com sol quente
e a preia-mar, têm resultado fabulosas para quem, como eu, gosta de tomar banho e
espojar-se ao sol. Nado até às boias e por lá rodopio, sonhando-me Odete, livre
da maldição do bruxo Von Rothbart e sem Siegfried que me perturbe.
O mar em S. Martinho é um lago
calmo. A água fria, num tom esverdeado, envolve-nos, acariciando-nos a pele e qualquer
gesto é suficiente para nos manter à superfície. “Que será feito do senhor
Machado?” Lembrei-me há dias, quando, brincando sozinha junto às boias vi
aproximar a Rute, a Laura e a Marta, jovens de quinze, treze e onze anos
respetivamente. “Outra geração” – pensei. O senhor Machado, aos oitenta anos
ainda me acompanhava nestas deambulações mar adentro, com a minha amiga Z., sua
vizinha de barraca, na fila atrás da minha. Agora a Z. recompõe-se da doença, com
que o inverno passado a vitimou e este é o terceiro verão em que nada sei do
senhor Machado. A vida a caminhar a passos largos indiferente aos meus afetos!
As amigas que me acompanham desde
Leiria, não gostam de fazer praia como eu. Normalmente passeiam, vão ao café e
aparecem quando lhes apetece. Então, juntas, esperamos que a praia fique
deserta. Os vizinhos de barracas, à medida que vão embora, recomendam “feche a praia
bem fechada” e nós, hábito meu bem velho, deixamo-los partir com a promessa de
que se dará três voltas à chave, para então estendermos os olhos,
regaladamente, pelo espaço até Salir. Elas também gostam da paisagem…
Cerca das vinte horas, quando não
é mais tarde, saímos da praia, jantamos no Ocean Place e depois rumamos a casa,
onde nunca chego antes das vinte e uma horas, para, alguns dias, ainda ficar na
conversa com a OC, à minha porta, atitude plenamente justificável pelo facto de
não termos conversado nada (pouco) a tarde inteira.
Hoje, havia vento, muito vento. “Vamos
aos anéis” – decretei eu, mal chegámos. “não há como tu para adivinhar as
coisas que me fazem falta” – brincou a OC, “avalio pelas minha próprias
necessidades” - contrapus, “primeiro tomamos café” – exigiu a PS. Cumprido o
programado café e, tendo cada uma, depois de voltarmos a loja do avesso, adquirido
uma extraordinária joia, pela exorbitância de três euros, rumámos aos pastéis
de nata. “Estão quentinhos!”- admirou-se a PS. Claro que estavam quentinhos, há sempre pastéis
de nata quentinhos, se fossem iguais aos que se comem em Leiria, não teria
valido a pena levá-las ao “Cantinho II”.
Quando, finalmente, rumávamos à
praia, a chuva começou a cair. “Quanto pagam para vos deixar ir debaixo do meu
chapéu?” - perguntou a PS, exibindo a sombrinha que tirava do saco. “Quem te
disse que desdenho andar à chuva?” – quis saber - “Os chuvisco de S. Martinho
tornam as mulheres mais belas”, “receio que não sejam chuvisco…” lastimou a OC,
caminhando á chuva, tal como eu. Mas foram e ficámos na praia até às vinte
horas.
Como acontece em cada ano, o
inverno chegara a S. Martinho para passar o verão, mas que nos importara? Fora, simplesmente, mais
um veraneante.
O que tu gostas de S. Martinho do Porto!... Hábitos antigos, não é? Nunca nos deu para aí... Mas olha que hoje a chuva já se foi e esteve um belo dia de praia!
ResponderEliminarS. Martinho é uma forma de estar na vida. É o sítio onde sonho melhor. É o sítio onde desato os nós ao pensamento e onde a minha alma se sente aconchegada. Não tem a ver com os hábitos antigos, tem a ver com a minha relação com o espaço.
EliminarHoje, em S. Martinho esteve uma extraordinária tarde de praia, mas antes de descer ao areal, pretendi que a Paula e a Odília provassem as bolas de Berlim, que saem na hora, quentinhas com ou sem creme, as areias de S. Martinho e as empadas de galinha que são as melhores que alguma vez comi. Levei-as também a ver uma coisa, não te digo o quê, porque talvez escreva sobre isso.
Elas deliraram...
A cisne no seu lago.
ResponderEliminarUma autêntica Margot Fonteyn sem Rudolf Nureyev...
EliminarQue continue a somar todos os êxitos que merece.
Nao quero contrariar a sua convicção, mas circulam boatos sobre outras parcerias mais satisfatórias da Margot. Seja como for, não posso crer que nesse lago de magia, a rainha cisne nao tenha gerado um diversificado e solicito corpo de baile.
ResponderEliminarBoa vontade sua, caro amigo! Não se passou ainda do início do primeiro ato. Festeja-se o príncipe por outras paragens. Ele sim, possui um corpo de baile diversificado e solicito.
EliminarAcha que nessas condições Siegfried vai reparar em Odete?
(Aqui para nós... A cisne branco anda mascarada de cisne negro...)
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