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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

TERROR DE TE AMAR


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo 

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

8 comentários:

  1. Gostei de a ver (especialmente hoje), muito apaixonada, de mão dada, com uma alegria indisfarçável e contagiante...
    :)







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    1. Engano seu! Não é paixão. É amor. Amor puro, incondicional, amor que nem lastima não ser capaz de inventar palavras novas, porque nem precisa de palavras para dizer que ama. Amor pela minha medida, assim, sem medida. Amor como eu gosto de amar.

      Amor que não trai, que é sempre amor mesmo quando parece que não é. Amor que ama porque sim, que é a melhor razão porque se ama.

      É um amor que protejo me protege. Dormimos de mão dada para não nos perdermos nos sonhos e fazemos conchinha saboreando a geografia dos corpos.

      Costumo dizer, brincando, que nunca ninguém se mostrou tão feliz ante a perspetiva de dormir comigo como ele. Não se importa que tenha rugas, que tenha cada vez mais rugas. Só quer o meu tempo e os meus afagos.

      É um amor que não regateia beijos nem abraços apertados.

      Os netos, amigo, são a oitava maravilha do mundo, à frente das outras todas.

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    2. Venho dar a mão à palmatória, peço que me desculpe, o meu léxico é muito parco.
      Queria apenas dizer-lhe que, ao vê-la com o seu neto (André ?), me transmitiu uma enorme alegria.
      Não duvido uma única palavra do que escreveu, especialmente da última frase.
      :)

      Um Feliz Natal para si e para os seus.

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    3. Muito obrigada por confiar. Tenho a certeza que um dia, lembra-se-á de mim e, com a sua experiência, dar-me-á razão.
      Ele chama-se André, 7 anos e ela (que não conhece) Rita, 1 ano de "mau feito" a lembrar nem sei quem...

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  2. Muito bonito! Mesmo à Sophia... Obrigada por trazeres (mais) este belo poema aqui.

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  3. Ó Rui, a nossa querida amiga Isabel, não deixa passar muitos "deslizes" (lapsus linguae, fui confirmar se era mesmo assim que se escreve...), portanto, levou a retórica apropriada (ou não). Mas, como eu gosto de pessoas assim! O que tiver de ser dito, seja, logo, ali no momento. Isto é que é amizade na verdadeira aceção da palavra. E o direito ao contraditório nem sequer é preciso que esteja previsto nos códigos!

    Amizade, amor, paixão.

    Pois eu arrisco em dizer que, não poucas vezes, tenho dado comigo a exceder-me nas minhas manifestações de amor pelos meus netos. A ponto de ultrapassar
    (dou por ela mais tarde, já sem poder emendar-me)
    os limites do razoável
    (e existe esse aparelho de medida dos limites da razão, do razoável?).

    -

    A Sophia estaria mesmo a falar só de amor, no sentido mais romântico do termo?
    Que belo poema! Que melhor maneira de cantar a vida senão sentindo a poesia que ela encerra e liberta ao mesmo tempo através do poema!

    Bom Natal cheio de poesia para todos...

    :)

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    1. Olhem só, nesta conversa com O Rui, que jeitinho manso de me “bater”… :)

      Creia-me grata pelas suas palavras e pela amizade que subentendem, não sei se mereço tanto, mas é sempre tão bom sentir que nos estimam, que nem contesto. Aceite que as retribua, com a maior consideração e estima. Também o considero um bom amigo.

      Pois! Os netos! Sou uma avó irremediavelmente rendida aos seus encantos, mas não deixo de ser uma educadora normativa, que ensina lançando mão de valores absolutos (em tenras idades não se entendem outros), facilitando um pouco nas pisadelas do “risco”, treinando a consciência de que se pisa, para se saber voltar a pôr os pés atrás. Tudo se aprende na vida, até a ponderar. Eduquei assim as filhas, ensinei assim os alunos. Acredite que nunca me dei mal. Só eu sou um caso perdido... :) As filhas dizem-me agora muito “mole”, mas não é verdade. Elas é que ainda não perceberam que o meu papel agora é outro. Que troquei o de mãe pelo de avó, incomparavelmente mais fácil de desempenhar.

      O afeto torna fácil o mais árido dos caminhos. E podemos esbanjá-lo à vontade. Nunca se acaba. Há sempre mais beijos e abraços e palavras redondas. A "fábrica" de qualquer um é inesgotável só é preciso emoção para que funcione. E se não nos emocionarmos com os nossos emocionamo-nos com quem?

      Nem queira saber as coisas que já se inventaram nesta casa… Beijinhos de vaca, de aspirador, prrtttss, histórias da galinha qualquer coisa (já esqueci como se chamava), e as personificações... o joquinha (relógio despertador) punha-nos fora da cama; o Chiquinho pirilau (canário) cantava quando chegávamos… tudo à mistura com reflexão dura (ah! Como às vezes me apetece bater com a cabeça na parede! – não pense que ando sempre a rir, nem que me acho muita graça) e normas muito precisas. E no meio de todas as desditas, acredite que me considero afortunada pela refilonas das filhas que tenho e pelos netos que vejo crescer.

      Quem ler isto vai chamar-me doida, mas que me importa? Eu sou doida mesmo. Pela vida que me calhou em sorte. Não é lá grande coisa, admito, mas como não tenho hipótese de a trocar por outra melhor vou-me divertindo com esta, seguindo as regras que defini, sendo que a mais importante é de que o que quero é negociável; o que não quero não é. E sei lá quanto tempo ainda tenho para me cumprir…

      “Aconteceu-me do alto do infinito esta vida” – disse Pessoa. A minha não aconteceu. Sou eu que faço todas as tolices…

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