Recomecei, Segunda-feira, as minhas caminhadas pela beira-rio, no diálogo ameno das manhãs que as férias haviam feito esquecer: o chilrear dos pássaros, o grasnar dos patos nadando no rio, o vento a sibilar de mansinho por entre a folhagem das árvores e o ronronar mais ou menos apressado dos carros, a que os bons-dias daqueles com quem me cruzo dão o toque de humanidade por que a minha alma anseia.
Começam a instalar-se as rotinas.
Nem o par de velhotas, Testemunhas de Jeová, faltou ao encontro, caminhando em passos lentos, irregulares, num para-arranca-conversa, que os joanetes não permitem pressas “posso dar-lhe este papel que a ensina a ser feliz?” Estendo a mão para um pequeno desdobrável. “Se gostar de ler, dou-lhe esta revista”. Recuso com o melhor sorriso “para não levar na mão” adianto como desculpa esfarrapada metendo o desdobrável no bolso das calças e continuo em passos largos a minha caminhada, depositando o desdobrável, longe da vista das velhotas, num recipiente de lixo.
Sorrio irónica: “Como queres ser feliz se desprezas os ensinamentos?”
E, Terça-feira, no Diário de Leiria, por Vera Xavier, o horóscopo: “Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias” (Fernando Pessoa) Hoje é dia de sentir, de ouvir e de falar com o seu coração.
Terça-feira e todos os dias. As previsões são válidas ad aeternum. Como o óbvio pode ser original! Vou passar a ler o horóscopo todos os dias (que me lembre).
E Quarta-feira, a amiga tão doente, a garra a apertar-me o peito e a noite sem lado para me virar… sem mão para agarrar a minha.
Rotina não parece que combine contigo...Mas não te quero evangelizar:)
ResponderEliminarAs falas da Raposa em "O Principezinho" é que me evangelizaram :)
ResponderEliminarCuidado com a solidão! Em Setembro acontece...
ResponderEliminarSe precisares de umas gargalhadas, diz e encontramo-nos!
Obrigada, Carol, pela tua disponibilidade.
ResponderEliminarNão é propriamente a solidão. Há tanto tempo que estou comigo... e felizmente não sou dada a depressões.
Não tenho é disponibilidade emocional para a eventualidade de perder mais amigas.
Por manifesta falta de palavras deixo-lhe aqui esta canção.
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=IgFCSDf8T90&feature=player_embedded
Bem haja, Rui.
ResponderEliminarGilbert Bécaud é sempre um óptimo sedativo para a alma.
Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio
ResponderEliminarComo um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,
entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas: