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terça-feira, 13 de setembro de 2011

SILÊNCIO

Fechos os olhos e esqueço-me de mim. Plano alheada do mundo, inebriada dos sons que me rodeiam. O silêncio não é absoluto, mas a quietude é um estado de graça.

“Como podes viver nesta casa onde nada se ouve?” – perguntou tanta vez a minha mãe. É precisamente por nada se ouvir que vivo nela. Oiço-me melhor a mim, se estou calada. Oiço melhor o pensamento.

Os sons encantam-me. Oiço-os em conjunto e separo-os na mente para voltar a reconstruir as partituras com que a natureza me brindou. “Será que vou ouvir outra vez?” e fico expectante. Espero que o som se repita... O exercício distrai-me.

Gosto de brincar com os sons, como quem joga ao agarra-e-foge.



“Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco” Mia Couto , Venenos de Deus, Remédios do Diabo, Maio de 2008


Será?

6 comentários:

  1. Aproximo-me da noite
    o silêncio abre os seus panos escuros
    e as coisas escorrem
    por óleo frio e espesso

    Esta deveria ser a hora
    em que me recolheria
    como um poente
    no bater do teu peito
    mas a solidão
    entra pelos meus vidros
    e nas suas enlutadas mãos
    solto o meu delírio

    É então que surges
    com teus passos de menina
    os teus sonhos arrumados
    como duas tranças nas tuas costas
    guiando-me por corredores infinitos
    e regressando aos espelhos
    onde a vida te encarou

    Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas

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  2. Para escutar o silêncio e "voltar a reconstruir as partituras" não basta ter bom ouvido, é preciso saber música. No meu caso, que sou um leigo, fico-me pela primeira nota...

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  3. Eu então sou ao contrário.... se me oiço muito tempo, não me aguento!... E depois, não há psiquiatra que me ature!...

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  4. Olá, "euchavi". Que saudades!
    Mia Couto é uma ternura em todos os sentidos. Começa por já ter feito mais pela Lusofonia que algum acordo ortográfico algum dia fará, depois... depois ... é aquele mergulho na poesia mesmo quando escreve em prosa.

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  5. Rui:
    O meu caro amigo, não só sabe música, como é um extraordinário compositor. Só que a sua música não é para os meus ouvidos... :)
    Beijinho para si e para a Ana.

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  6. Olá, "carol". Se fossemos todos iguais era tão monótono...
    Eu atormento-me se acho que não "ouvi" os outros. Daí o que sofri com o caso da Piedade.
    A mim aturo-me bem. Ridicularizo-me inventando histórias das minhas debilidades. É assim como quem faz a festa, atira os foguetes e apanha as canas... e acabo por me vencer, umas vezes mais facilmente que outras. Até agora não me dei mal com o sistema. Quanto à minha esperança de vida... Quem me leu com um mínimo de atenção já descobriu onde a deposito.
    Agora sou eu que digo: sempre que te apeteça conversa, é só dizeres.
    Beijinho.

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