com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
Emanuel Félix (Angra do Heroísmo, 1936 - 2004) A Palavra O Açoite (1977)
Hoje, não há chá.
Que belo poema! Gosto muito de chá, mas acho que gostei mais deste poema, em vez do chá.
ResponderEliminarNão conhecia - já copiei! Obrigada.
Beijinho
Só o chá...
ResponderEliminarNa vida!
Já sem Vida?
Esperança perdida?
Memória esquecida?
No tempo sem tempo
Só um sentimento...
Tristeza sofrida.
Que belo, Olímpio! Às vezes o chá é mesmo uma tristeza sofrida.
ResponderEliminarBem haja.