Uma professora primária, como é o meu caso, é essencialmente uma professora de português, por isso trabalha exaustivamente o texto quer como ponto de partida, quando pretende que os alunos oiçam e leiam (sejam receptores); quer como ponto de chegada quando pretende que falem e escrevam (sejam emissores).
Ao longo dos anos de actividade profissional para além de ensinar crianças, tive ocasião de desenvolver um vasto trabalho em formação inicial de professores e também em formação contínua.
Num qualquer ano lectivo, que para o caso nem vale a pena situar, aceitei um simpático convite da “Carol”, que a Dra. Fernanda Mota Pinto, numa qualquer noite, após as vinte e três horas confirmou, pondo-me em cinco minutos a dizer-lhe ao telefone o que queria ouvir e vi-me no papel de coordenadora pedagógica do primeiro ciclo do ensino básico. Esse trabalho, a realizar de parceria com outra colega, a F.S., à data do convite, embora previsto não estava planificado e a minha paciência não aguentava estar sentada à espera que o planificassem.
Convenci a colega em questão e autorizadas pelo staff, auscultámos as aspirações das professoras primárias a nível de formação, no distrito de Leiria e lançámo-nos num exaustivo trabalho de formação contínua de professores, programado por nós, que se estendeu desde Castanheira de Pêra ao Bombarral. Os temas escolhidos situavam-se no âmbito da Matemática e da Língua Portuguesa, tendo sido ”Composição Escrita” a acção que mais vezes repetimos para os colegas.
Era e sou defensora acérrima da redacção, entendida como texto que obedece a um plano e que passara a ser prevista nos programas contrariamente ao que acontecera até então, em que, em nome da criatividade, os meninos só escreviam composições de tema livre.
Muita gente enchia então a boca com a palavra criatividade sem ter descoberto que criar resultava da desmontagem dos conceitos nos seus elementos simples e nas diferentes montagens destes, de que é tão bom exemplo a Cabeça de Touro de Picasso, ou como exemplo mais fácil, a cadeira da sala que desengonçada se desmonta nos bocados que a formam, os quais pregados de outra maneira se convertem numa original escultura para o hall de entrada. Convenhamos que, tal como o Picasso sem selim e guiador não chegaria à Cabeça de Touro, nós sem a cadeira desengonçada não chegaríamos à escultura. Do nada só Deus criou o Mundo e mesmo assim consta que demorou sete dias. Ou seja para se saber escrever sem regras é preciso dominar as regras de bem escrever (lembram-se da “Guidinha” do Sttau Monteiro?).
Assim, quase diariamente, trabalhávamos o tema. A minha colega começava por uma abordagem aos programas e depois entrava eu em cena usando precisamente a mesma estratégia e materiais que usaria com uma turma de crianças. Distribuía por cada professor uma maçã lavada, pedia que me dissessem coisa acerca da mesma e ia fazendo o registo no quadro das frases que me iam dizendo, ditadas pelos diferentes órgãos dos sentidos, outras, produto da intelectualização de que já éramos possuidores. Essas frases depois eram ordenadas, de seguida estabelecia-se o plano de redacção, ou seja, estabelecia-se o que se escreveria na introdução, no desenvolvimento e na conclusão e depois, o que em formação contínua já não fazíamos, passar-se-ia a redigir o texto.
Os grupos de formandos chegavam a ter cerca de quarenta e cinco professores, que da surpresa inicial passavam à plena adesão à actividade e podem crer que houve turmas em que não surgiu uma única frase em que fosse utilizado o olfacto. Interroguei-me estupefacta: estaríamos a perder uma forma de comunicar?
Guardei os dados recolhidos porque a amostra era significativa. Durante aquele ano lectivo, nós demos formação a cerca de oitocentos professores, mas entretanto surgiu um concurso em que fui opositora e entrei para a ESEL e as intenções de trabalhar aqueles dados ficaram só pelas “boas intenções”.
Outro dia, como aqui contei, não tomei a iniciativa de dizer “bom dia” às pessoas com quem me cruzei no meu passeio ao longo do rio e poucos cumprimentos ganhei.
Agora pedi-vos um abraço. Quantos recebi?
Amigos, eu tomo banho todos os dias. Uso perfume, ou J’adore da Dior, ou Beauty de Calvin Klein e só deixei de usar Channel n.º 5 porque duas gotas já não chegam para me vestir (como dizia a outra senhora…).
Em tempo útil tomei a nova vacina da gripe, aquela que já é contra o H1N1
Além disso eram virtuais….
Poder-me-iam ter enviado abraços às molhadas.
Porque estamos cada vez mais fechados sobre nós próprios? Perdemos o cheiro? Perdemos o ouvido? Perdemos o sentido do outro? Nem virtualmente somos capazes de uma palavra terna? De um carinho? Aristóteles tem de nascer de novo? Já não somos seres sociais?
Quem é o outro? Quem somos nós? Quem nos desumanizou?
O ecrã do PC?
Bons tempos aqueles, não foram? Em que andámos pelas escolas a "vender" pedagogia e tudo o mais em que acreditávamos...
ResponderEliminarE já agora,um (outro) abraço!...
Por não encontrar palavras de consolo e coragem, acabo de dar um abraço sentido, bem apertado, aos pais que ontem perderam um filho. A vida real é assim…
ResponderEliminarGostei de a (re)ler. Bem haja!