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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

VALE A PENA SER PROFESSORA...

Não sei há quantos anos não entrava numa escola primária pejada de alunos, pais, encarregados de educação, professores e auxiliares, todos em festa. Aconteceu hoje.

A Carma, a minha empregada doméstica, hoje de manhã avisara: “vai haver exposição de coisas antigas na escola onde trabalha a avó do meu “torrãozinho de acúçar”. “A Gracinda”, como se eu soubesse quem era … “foi lá fazer rodilhas e eu emprestei muitas coisas que tinha na casa da Guia. Inscrevia-a para o jantar, são cinco euros e tem de estar lá às sete horas, fiz mal?” Ela nem me deu tempo de responder e continuou. “Também inscrevi as suas colegas: Cremilda, Isabel e Adelina. Podem ir todas juntas ou tem outra coisa para fazer à noite? O jantar é caldo verde e grelhados mistos”.

O meu pensamento já estava na minha mãe. Ninguém, a não ser ela me dera uma ordem assim tão explícita, alguma vez na vida. Fiquei surpreendida mas achei piada e anui “está bem, eu vou ao jantar”

E foi assim, que de boleia com a Adelina, na companhia da Isabel e da Cremilda acabei o dia a assistir ao desfile etnográfico da escola do primeiro ciclo do Ensino Básico da Cruz d’Areia , onde trabalha a avó do “torrãozinho de açúcar”, ou seja, onde a Odete, avó da Maria de vinte meses de idade, dá aulas.

Comi o jantar previsto. Vi a exposição. Fui à casinha dos doces. E o melhor de tudo foi rever colegas e antigos alunos.

Mal vi a Fernanda, hoje jurista, após os cumprimentos habituais, perguntei logo pelo irmão. O Orlando foi um dos alunos mais inteligentes que te tive o prazer de ensinar. Foi meu aluno, acerca de três décadas, na escola da Ortigosa. Era uma criança alegre, mas muito determinada, não pretendia seguir os estudos, o seu sonho era empregar-se para juntar dinheiro para comprar uma mota.

O professor é um projecto sem geração, que molda e sonha os projectos de todas as gerações. Os alunos, que encontra ao longo dos anos de profissão, são projectos de futuro pelos quais luta afincadamente. Para todos almeja o êxito, que tem a consciência de saber graduar.

Eu tinha aspirações para o Orlando que a teimosia da mota contrariava.

Afinal o Orlando e a vida conseguiram dar as voltas necessárias para cumprir o meu sonho e o dele. Não foi fácil, mas teve a mota e é engenheiro. Fiquei felicíssima, quando me explicou onde trabalhava e o que fazia. Riu-se “continuo a quer dinheiro”, “Mas usas uma forma sofisticada de inteligência para o conseguir, não se desperdiça nada. Dá-me mais um abraço que estou felicíssima por isso”.

Este jantar existiu para me lembrar que vale a pena sonhar com o futuro.

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