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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O ATO CRIATIVO - ANA FERNANDES


A Mindocha convidara. A amiga Ana Fernandes expunha ontem, em Leiria, a sua nova coleção de bijuteria e pratas. Décimo primeiro andar, no Centro Comercial D. Dinis. “Décimo primeiro?” – Interrogara-me eu depois – “terei ouvido bem?”

Pouco faltava para as dezoito horas quando, com a LF me aventurei pelas escadas rolantes e depois pelas outras que faltavam, até ao último andar do edifício. Sem dúvida, tinha ouvido bem. A exposição era mesmo no décimo primeiro andar. Uma linda porta vermelha, reinventada de uma porta antiga facultou-nos a entrada num espaço de cowork, conceito que não sabíamos que já existia em Leiria.

Recebidas pela simpatiquíssima gestora de “GRUPO”, assim se denomina o espaço, fomos encaminhadas para a sala onde decorria a exposição.

Ana Fernandes recebeu-nos atenciosamente e percorreu com o nosso olhar os seus interessantes e originalíssimos trabalhos de bijuteria e peças de prata, demorando-se, à medida do nosso espanto, em cada peça. Que tentação! As pregadeiras eram lindas e havia dois pares de brincos que tinham precisamente “a minha cara”. As caixas de prata eram de perder a cabeça.

Conversámos, convivemos com quem estava, muita gente conhecida, reconheça-se, e vimos os catálogos de outras exposições.

Olhámos com Ana Fernandes o catálogo “Memórias” em que as fotos mostravam os trabalhos criados ora desfuncionalizando objetos, ora associando os atributos de conceitos de objetos vulgares, de forma impensável para o comum dos mortais. Talvez, por vias do trabalho do Cristóvão que irei apresentar no próximo dia oito, e faz com que olhe com atenção tudo o que é caixa ou a isso se assemelhe, a minha atenção deteve-se com mais empenho numa das fotos.  “Que pretendeu com este trabalho? Qual a ideia subjacente?” – perguntei curiosa. Ana Fernandes explicou: “era uma resistência de fogão, do meu primeiro fogão, que a minha sogra me deu, um boneco que andava lá por casa e de velho tinha adquirido esta cor maravilhosa e um martelo de cozinha que também usara.”  Assim com aquela simplicidade, a artista dizia-me que juntara objetos do seu universo pessoal, com que estabelecera laços e só por isso mesmo criara a peça. Sorri: “A mim parece-me um útero. Sugere-me conforto.” Foi a vez de ela sorrir: “Também podia ser.” E eu fiquei mais uma vez a pensar que o ato criativo é de uma enorme simplicidade. Nós, os desfavorecidos de dons artísticos, ao olharmos é que, em vez de usufruirmos a obra, de simplesmente nos deleitarmos na estética do que olhamos, por excesso de intelectualização, propomo-nos interpretar, perguntando o que diz o autor. E tantas vezes diz simplesmente que gostou, que teve prazer em fazer o que fez, em juntar os atributos que juntou, em criar simplesmente. Diz quase sempre: “Aconteceu!”

Adorei os trabalhos expostos e adorei falar com Ana Fernandes. Foi um pedaço de tarde bem passado.


Já de saída visitámos todo o espaço que o “GRUPO” que tem para oferecer. Como refere a pagela de apresentação, deparámo-nos com uma cobertura independente composta por um espaço de cowork, escritórios, sala de reuniões, estúdio de fotografia, copa e lounge - com a cidade de Leiria aos pés, acrescento eu. Lindo de morrer - como diria a minha amiga P. - e muito agradável. O espaço apetece.

Leiria, a par e passo com a vida, e nós distraídas. Um mês de distração… Imperdoável! 

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