A Mindocha convidara. A amiga Ana
Fernandes expunha ontem, em Leiria, a sua nova coleção de bijuteria e pratas.
Décimo primeiro andar, no Centro Comercial D. Dinis. “Décimo primeiro?” – Interrogara-me
eu depois – “terei ouvido bem?”
Pouco faltava para as dezoito
horas quando, com a LF me aventurei pelas escadas rolantes e depois pelas
outras que faltavam, até ao último andar do edifício. Sem dúvida, tinha ouvido
bem. A exposição era mesmo no décimo primeiro andar. Uma linda porta vermelha,
reinventada de uma porta antiga facultou-nos a entrada num espaço de cowork,
conceito que não sabíamos que já existia em Leiria.
Recebidas pela simpatiquíssima gestora
de “GRUPO”, assim se denomina o espaço, fomos encaminhadas para a sala onde
decorria a exposição.
Ana Fernandes recebeu-nos atenciosamente
e percorreu com o nosso olhar os seus interessantes e originalíssimos trabalhos
de bijuteria e peças de prata, demorando-se, à medida do nosso espanto, em cada
peça. Que tentação! As pregadeiras eram lindas e havia dois pares de brincos
que tinham precisamente “a minha cara”. As caixas de prata eram de perder a
cabeça.
Conversámos, convivemos com quem
estava, muita gente conhecida, reconheça-se, e vimos os catálogos de outras
exposições.
Olhámos com Ana Fernandes o
catálogo “Memórias” em que as fotos mostravam os trabalhos criados ora
desfuncionalizando objetos, ora associando os atributos de conceitos de objetos
vulgares, de forma impensável para o comum dos mortais. Talvez, por vias do trabalho
do Cristóvão que irei apresentar no próximo dia oito, e faz com que olhe com
atenção tudo o que é caixa ou a isso se assemelhe, a minha atenção deteve-se
com mais empenho numa das fotos. “Que
pretendeu com este trabalho? Qual a ideia subjacente?” – perguntei curiosa. Ana
Fernandes explicou: “era uma resistência de fogão, do meu primeiro fogão, que a
minha sogra me deu, um boneco que andava lá por casa e de velho tinha adquirido
esta cor maravilhosa e um martelo de cozinha que também usara.” Assim com aquela simplicidade, a artista
dizia-me que juntara objetos do seu universo pessoal, com que estabelecera
laços e só por isso mesmo criara a peça. Sorri: “A mim parece-me um útero.
Sugere-me conforto.” Foi a vez de ela sorrir: “Também podia ser.” E eu fiquei
mais uma vez a pensar que o ato criativo é de uma enorme simplicidade. Nós, os
desfavorecidos de dons artísticos, ao olharmos é que, em vez de usufruirmos a
obra, de simplesmente nos deleitarmos na estética do que olhamos, por excesso de
intelectualização, propomo-nos interpretar, perguntando o que diz o autor. E
tantas vezes diz simplesmente que gostou, que teve prazer em fazer o que fez,
em juntar os atributos que juntou, em criar simplesmente. Diz quase sempre: “Aconteceu!”
Adorei os trabalhos expostos e
adorei falar com Ana Fernandes. Foi um pedaço de tarde bem passado.
Já de saída visitámos todo o espaço
que o “GRUPO” que tem para oferecer. Como refere a pagela de apresentação, deparámo-nos
com uma cobertura independente composta por um espaço de cowork, escritórios,
sala de reuniões, estúdio de fotografia, copa e lounge - com a cidade de Leiria
aos pés, acrescento eu. Lindo de morrer - como diria a minha amiga P. - e muito agradável. O espaço apetece.
Leiria, a par e passo com a vida, e nós
distraídas. Um mês de distração… Imperdoável!
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