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domingo, 4 de novembro de 2012

SOFRO DE NÃO TE VER


Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?

Saúl Dias, in "Sangue (Inéditos)"

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Concordo consigo. Saúl Dias é um poeta para se rever.
      Tem poemas lindos de uma simplicidade extrema. Como por exemplo este de que gosto muito:

      Havia
      na minha rua
      uma árvore triste.

      Quebrou-a o vento.

      Ficou tombada,
      dias e dias,
      sem um lamento.

      (Assim fiquei quando partiste...)

      Acho tão lindo este poema em que a poesia acontece no último verso. E tão simples, não é?

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  2. Só não compreendi porque é que o poeta achava que a árvore era triste, antes mesmo de o vento a fazer tombar...

    Mas este tipo de poesia, simples, não precisa de rima métrica, sem preocupações de mancha gráfica, a transmitir o sentir do poeta no momento em que escreve (sim, nesse exato momento) é, precisamente, aquela que mais me toca.

    Grato pela partilha.

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    Respostas
    1. Neste poema, interpreto triste como sinónimo de só. Só não considero o poesia de Saúl Dias um exemplo de impressionismo como sugere. Essa característica atribuo-a a Cesário verde, de que me parece exemplo este lindo poema:

      DE TARDE

      Naquele pic-nic de burguesas,
      Houve uma coisa simplesmente bela,
      E que, sem ter história nem grandezas,
      Em todo o caso dava uma aguarela.

      Foi quando tu, descendo do burrico,
      Foste colher, sem imposturas tolas,
      A um granzoal azul de grão-de-bico
      Um ramalhete rubro de papoulas.

      Pouco depois, em cima duns penhascos,
      Nós acampámos, inda o Sol se via;
      E houve talhadas de melão, damascos,
      E pão-de-ló molhado em malvasia.

      Mas, todo púrpuro a sair da renda
      Dos teus dois seios como duas rolas,
      Era o supremo encanto da merenda
      O ramalhete rubro das papoulas!

      O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887

      Sou uma apaixonada pelo impressionismo na pintura. Não de todo mas de algum, evidentemente. Consigo "ver" o que Cesário descreve e acho tão lindo, tão mágico,tão sensual, que me apetece sempre ter aquele ramo de papoula no decote do vestido.

      Ah! Não dê importâncias às minhas opiniões. Não são abalizadas. Nunca estudei literatura, embora seja uma apaixonada das palavras; estudei ciências . Em consequência, o que digo não merece crédito; é simplesmente o que as palavras dos outros me fazem sentir.

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