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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O MEU SOFÁ

Não sei em que pus as vistas pela capital ou no que não terei posto, que chegada a Leiria, tive de ir a correr para a oftalmologista. Estou doente dos olhos. Eu achava que era do esquerdo e a médica diz que o direito está pior. Não admira. Há que respeitar as tendências…

Seja lá como for, isto deprime-me e obriga-me a tomar “umas pastilhas” enormes de quatro em quatro horas, cinco ao dia, acontecendo a última toma precisamente às vinte e quatro horas. Até aqui, nada de mais, é a hora a que habitualmente me deito. Porém, tendo em conta que estou “doente”, achei que merecia certos mimos há muito de mim arredados: Para começar, lamentar-me “ai, ai, estou doentinha!” depois passar os serões em que ninguém, fora da graça de Deus, se lembra de marcar reuniões, deitadinha no sofá, vendo televisão, à espera da hora de tomar o remédio.

Tapo-me com a minha manta, não com a de estrelas, que essa oferecia-a à minha filha mais nova, mas com outra; florida, primaveril, onde no verso bordei a frase que Vítor Barroca Moreira escreveu aos nove anos e que Maria Rosa Colaço nos deu a conhecer no livro Flores para Crianças: “O amor é um pássaro verde num campo azul no alto da madrugada”.

Aconchego-me bem enrolada no “pássaro verde” e comigo já são dois, “no campo azul” – o meu sofá e lá ficamos… Quantos mais vêm nem sei… Tal como na história infantil vão chegando, um de cada vez e ficam três, quatro, … tantos quantos os sonhos vão trazendo; tal com depois vão partindo até ficar só um. Eu, só, no “alto da madrugada” sem ver televisão e sem ter tomado o remédio às horas devidas, rabugenta, toda torcida, amachucada, porque o hipopótamo também deve ter participado no serão.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

HÁ DIAS DE MANHÃ...

Em casa de meus pais costumava dizer-se, quando alguma coisa não acontecia a contento, que “há dias de manhã, que uma pessoa à tarde, não deveria sair à noite”.

Ontem, comecei o dia do avesso. Levantei-me bem-disposta, mas a Carma esquecera-se do combinado em relação às faltas de detergentes e antes de me fazer à vida, ainda tive de ir comprar alguns produtos se quis a casa limpa. Como se tal não bastasse, no regresso das compras e entregue estas, ao entrar de novo no carro um forte cheiro a lixívia fez com que me olhasse numa pesquisa que nem precisou de ser muito atenta para descobrir que as calças que vestia tinham um padrão novo…

Volto a subir as escadas, rabugenta, mal disposta com o prejuízo detectado e engolindo a critica àquela habilidade da minha inteira responsabilidade. Mudo de roupa, peço à empregada que leve as calças manchadas à tinturaria para ver se poderão ser tingidas e volto ao carro, com a disposição de quem tinha comido azedas ao pequeno-almoço.

Ao chegar ao meu destino, nem sequer no sítio onde costumava arrumar o carro havia lugar! “Será que hoje os deuses estão contra mim?” perguntei-me debruçada sobre o meu umbigo, ainda chorando as calças que considero perdidas. Arrumei o carro noutro sítio e encaminhei-me para a sede da Junta.

No Largo da Feira dos Dezoito, caídos no chão quatro rebuçados “Bola de Neve”, que possivelmente alguém perdera, trouxeram-me as minhas filhas de volta. Aqueles eram os seus rebuçados preferidos, quando eram pequenitas e logo quatro… que festa!

Não pude deixar de sorrir e na minha cabeça ecoou a voz sensata da minha filha mais nova “foram apenas umas calças, mamã, o dia não valerá mais do que isso?”

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO

Hoje acordei sem vontade de acordar. Acordei com vontade de continuar a dormir indefinidamente. Talvez porque estou doente dos olhos e isso me deprime mas, felizmente, logo que acordo sou incapaz de ficar na cama.

Cumpri o ritual das manhãs de terça-feira e mais para me convencer a mim do que propriamente para “brincar” com um amigo recente, pródigo em complicados pensamentos “filosóficos”, enviei-lhe um e-mail com o seguinte conteúdo: Só é preciso um sorriso para transformar um dia cinzento num dia de Primavera.

E não é que de imediato brilhou no céu um Sol esplendoroso?

Acho que algum anjo, do céu, se riu para mim.

AS LUVAS VERDES

Sexta-feira, o André desenhava e eu telefonei à minha amiga AL:

- Amanhã, mesmo que chovam picaretas, vou à Baixa, comprar umas luvas verdes. Se não tiveres medo de arriscar uma chuvada, poderemos almoçar juntas e pôr a conversa em dia”.

O André estava atento. - Amanhã, vais para tua casa?

- Não, vou só sair com uma amiga, depois volto para brincarmos mais.

- Queres umas luvas verdes?

- É isso mesmo, quero umas luvas verdes. Anui admirada pela atenção com que estivera ao telefonema.

- Então vamos já comprar as luvas. E o André salta da cadeira e corre para o quarto de onde traz três livros.

- Vamos ver se há nestas “lojas”. Diz-me ele sorridente.

Eu entrei no jogo e estivemos à procura em cada livro-loja, que ele ia renovando à medida que, sem êxito, íamos procurando nas ilustrações, o par de luvas verdes do tom que eu desejava. Não havia, mas bom vendedor o André não desistia.

- E estas, avó?

- Estas são bonitas, são de um azul lindo, já que não há verdes… Acho que também gostaria de ter umas luvas azuis.

Premonição! Sábado de manhã, corajosamente, debaixo de uma chuva diluviana, fui com a minha amiga à luvaria Ulisses, luvas verdes, tipo semáforo, não havia, nem sequer pele para as mandar fazer de encomenda.

-Se não quiseres tentar as “Galerias Lafayete” (brincou a minha amiga) sempre poderemos ir à Avenida de Roma…

- “Não. A Paris ou Roma só se vai na Primavera. Vamos pôr a conversa em dia e almoçar.

E comprei mesmo umas lindas luvas azuis.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

VOU PASSEAR

Sabem onde? Quem adivinha? Querem vir?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

OS AMIGOS VIRTUAIS

Coisa nova, recentíssima, criada pelas facilidades da alta tecnologia, as malhas da blogosfera crescem, desenvolvem-se, estendem-se em todas as direcções.

Como quem faz renda tecemos a primeira laçada e facilmente ficamos envolvidos. Começam a aparecer olhos, estrelas, crianças sonhadoras, flores, bolsas, sombras, relógios-de-corda, pedaços de céu, misturados com rostos: uns conhecidos, outros não. São os amigos virtuais.

Contundentes por vezes, ironizam outras, acarinham-nos quase sempre porque nos lêem, fazendo-nos sentir que estamos vivos e em grupo.

De que falamos? Da música que nos apeteceu, da nostalgia que nos invadiu, do amigo que não víamos e apareceu de surpresa, da tristeza que nos invadiu, do filme que nos encantou, das flores do jardim, do neto que nasceu, do passeio mais recente. Falamos da vida. Falamos de nós, tal e qual como se a conversa acontecesse com a vizinha à soleira da porta ou de janela para janela.

O Homem, desde longa data, confrontado com o som da sua voz sentiu necessidade de se fazer ouvir cada vez mais longe para chamar os seus iguais.

A Aldeia cresceu. Aprimorámos as técnicas, porque continuamos desamparados a precisar de reunir o grupo.

SEM TÍTULO

"O afecto é uma rede com que pescamos o nosso sustento.
Quando saciados não queremos saber dela. Quando precisamos, temos de a remendar.
E mãos famintas não conseguem manejar agulha e linha."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

OS NARCISOS

Hoje, como tantas vezes acontece, fui a pé para a sede da Junta de Freguesia e obviamente também foi a pé que regressei.

Escolho sempre o caminho mais longo e no regresso, como venho sem horas, pouso os olhos mais detalhadamente no que se me oferece.

Hoje, os narcisos fizeram-me lembrar o João. Nem sequer conheço o João. Costumo visitar o seu espaço virtual onde encontro fotos de variadas flores. Há dias encantei-me com os narcisos de seu jardim e hoje, nem de propósito mesmo ao virar de uma esquina, num canteiro desprotegido, tentando a minha mão, "os narcisos do João" brilharam na frescura da chuva acabadinha de cair.

“Que engraçado, teria reparado nos narcisos se não tivesse comentado as fotos do João?” Ora aqui está uma pergunta para a qual nunca vou obter resposta.

As mimosas já floriram anunciando a Primavera e havia camélias de todas as cores em quase todos os jardins.

Continuei o caminho com o João no pensamento. “Que flores haverá hoje no seu espaço?”.

E não pude deixar de sorrir à ideia de uma coisa tão impessoal como a alta tecnologia conseguir criar elos entre pessoas absolutamente desconhecidas.

É claro que já fui espreitar “O espaço do João”. Lá continuam os amores-perfeitos à espera do milagre de pegarem.

João, o dia propício era ontem …

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

TERNURA


Gosto de pensar neste dia como o dia dos afectos.

Por isso escolhi para hoje este poema “O mar fala de ti”. O mar trouxe-me a voz de todos os afectos que ao longo do dia foram chegando, ora um, depois outro, numa ternura de afagos que me aqueceram a alma.

Sabem que sou gulosa, não esqueceram os bombons, mas vou ter de os distribuir. Se os como todos fico doente.

Ter amigos é maravilhoso!

Um abraço fraterno para todos.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

ESTA MANHÃ

Acordei cedo e antes de abrir os olhos pensei “não me apetece nada que seja segunda-feira” e, em simultâneo comecei a passar em revista todo o plano do dia. Abri uma nesga do olho direito e vi as horas. Quase oito! Poderia mandriar mais dez minutos.

Oh, Deus! Despertei de vez e lembrei-me. Afinal não era Segunda-feira, era Domingo! Saltei da cama com redobrada genica e fui à varanda. Chuva e mais chuva! Uma autêntica “manhã de pobrezinho”, na douta definição do marido da minha amiga CG, mas não de um pobrezinho qualquer, porque para se usufruir de uma manhã destas, o pobrezinho precisa do tacto de outra pele para viajar por muitas latitudes.

Destes pensamentos profundos e de mãos vazias, parto em busca do pequeno-almoço. Não havia pão, não havia torradas. Nada é perfeito! E misturado com esta filosofia da treta bebi o leite e comi bolachas.

A chuva lá fora continuava a cair …

CHOVE!

Chove...

Mas isso que importa!
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

sábado, 12 de fevereiro de 2011

COLIN FIRTH

No final da minha adolescência, li cinco vezes o livro “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen. Revia-me naquela Isabel profundamente responsável mas terrivelmente irónica que, apaixonada, acaba por casar com Mr. Darcy. E uma relação assim passou a fazer parte do meu imaginário. Amor misturado com a capacidade de nos rirmos uns dos outros, não para nos ferirmos, mas para mais facilmente se suportar as agruras do quotidiano.

Em casa éramos divertidos. O meu pai era exigente com as horas das refeições, sendo sempre o primeiro a sentar-se à cabeceira da mesa virada à porta da sala e o meu irmão, nomeadamente ao jantar, quando tudo parecia ir decorrer com normalidade, propunha ”mãezinha, dou-lhe dez escudos se der um beijo na ponta do nariz do paizinho”. Começava o teatro, o meu pai esquivava-se ao beijo e a minha mãe fazia tudo para ganhar os dez escudos e quando o meu pai já de cabelos arrepelados se deixava vencer e a minha mãe conseguia o intento e reclamava o prémio, o final era sempre o mesmo “a mãezinha não se lembra dos vinte escudos que me pediu emprestados a semana passada? Agora já só me fica a dever dez”. A minha mãe fingia que barafustava e o jantar seguia normalmente.

Por isso eu adorava aquela Isabel que Jane Austen tinha criado, achava que ela se enquadrava bem no meu ambiente familiar, achava que poderia ser assim quando fosse grande.

Em 1995, já nem sei em que canal da TV cabo, passaram os episódios da série “Orgulho e Preconceito”. Tal como se faz no autocarro, eu tocava a campainha, parava o mundo, apeava-me dos afazeres e deliciava-me com os encontro e desencontros entre Isabel e Mr. Darcy desempenhado magistralmente por Colin Firth e falado num inglês puríssimo.

Hoje fui ao cinema. “O Discurso do Rei” e voltei a encontrar-me com Colin Firth no extraordinário papel do reencontro de um homem com a sua própria voz.

Não deixem de ver, Colin Firth está no seu melhor.

NÃO HÁ SÁBADO SEM SOL...

O triiiiiiimm… da porta apressou-me. Espreitei e não percebi bem do que se tratava. Descuidadamente abri. O Sol, transmutado em sete tulipas amarelas, saltou-me para as mãos. “Da parte do Sr. Vinicius” ouvi dizer, mas eu já só tinha olhos para as flores, com os lábios abertos num enorme sorriso, mal balbuciei “diga-lhe que agradeço”.

Mandei entrar o mensageiro e ficámos boa parte da manhã conversando de tudo e de nada, desses afectos velhos que compõem o puzzle de uma amizade de sempre, que cresceu connosco ao sabor das brincadeiras da infância, das dúvidas da adolescência, dos reveses da vida, dos velhos projectos, dos actuais, dos futuros.

E o Sol entrou na minha casa e permaneceu na minha alma naquele abraço forte de quem já se não via há muito tempo.

Quando ele descia a escada, fazendo-se à vida, murmurei “diz ao Vinicius que está perdoado!

Que leveza dá à vida o calor humano!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

NESTA TARDE CINZENTA....

É Primavera no meu blog!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DIA DOS NAMORADOS

William Shakespeare escreveu

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos.

Mas também há quem garanta que nem todas, só as de Verão.

Mas no fundo isso não tem muita importância.

O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.

Sonhos que o homem sonha sempre.

Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”

Sonhos de uma Noite de Verão



Apeteceu-me antecipar para hoje o Dia dos Namorados, porque o que interessa não é haver um dia para os namorados, o importante mesmo é haver afecto para distribuir às mãos cheias, por todas as pessoas, em qualquer dia do ano.

Deixo-vos aqui uma canção intemporal que fala de amor, para mim a mais bela que alguma vez ouvi.

PALAVRAS DE OUTROS

SER PROFESSOR…

Ser professor é ser artista,

malabarista,

pintor, escultor, doutor,

musicólogo, psicólogo...

É ser mãe, pai, irmã e avó,

É ser palhaço, estilhaço,

É ser ciência, paciência...

É ser informação,

É ser acção.

É ser bússola, é ser farol.

É ser luz, é ser sol.


Incompreendido?... Muito.

Defendido? Nunca.


O seu filho passou?...

Claro, é um génio.

Não passou?

O professor não ensinou.


Ser professor...

É um vício ou vocação?

É outra coisa...

É ter nas mãos o mundo de amanhã


Amanhã

Os alunos vão-se...

E ele, o mestre, de mãos vazias,

Fica com o coração partido.

Recebe novas turmas,

Novos seres ávidos de cultura

E ele, o professor,

Vai ensinando com toda a ternura,

O saber, a orientação

Nas cabeças novas que amanhã

Luzirão no firmamento da Pátria.

Fica a saudade, a amizade.

O pagamento real!


*”Ser Professor” – transcrição na integra de reflexão de autor anónimo (professor da UNL) presente num restaurante , outrora escola primária na Vila de Carrasqueira

VALE A PENA SER PROFESSORA...

Não sei há quantos anos não entrava numa escola primária pejada de alunos, pais, encarregados de educação, professores e auxiliares, todos em festa. Aconteceu hoje.

A Carma, a minha empregada doméstica, hoje de manhã avisara: “vai haver exposição de coisas antigas na escola onde trabalha a avó do meu “torrãozinho de acúçar”. “A Gracinda”, como se eu soubesse quem era … “foi lá fazer rodilhas e eu emprestei muitas coisas que tinha na casa da Guia. Inscrevia-a para o jantar, são cinco euros e tem de estar lá às sete horas, fiz mal?” Ela nem me deu tempo de responder e continuou. “Também inscrevi as suas colegas: Cremilda, Isabel e Adelina. Podem ir todas juntas ou tem outra coisa para fazer à noite? O jantar é caldo verde e grelhados mistos”.

O meu pensamento já estava na minha mãe. Ninguém, a não ser ela me dera uma ordem assim tão explícita, alguma vez na vida. Fiquei surpreendida mas achei piada e anui “está bem, eu vou ao jantar”

E foi assim, que de boleia com a Adelina, na companhia da Isabel e da Cremilda acabei o dia a assistir ao desfile etnográfico da escola do primeiro ciclo do Ensino Básico da Cruz d’Areia , onde trabalha a avó do “torrãozinho de açúcar”, ou seja, onde a Odete, avó da Maria de vinte meses de idade, dá aulas.

Comi o jantar previsto. Vi a exposição. Fui à casinha dos doces. E o melhor de tudo foi rever colegas e antigos alunos.

Mal vi a Fernanda, hoje jurista, após os cumprimentos habituais, perguntei logo pelo irmão. O Orlando foi um dos alunos mais inteligentes que te tive o prazer de ensinar. Foi meu aluno, acerca de três décadas, na escola da Ortigosa. Era uma criança alegre, mas muito determinada, não pretendia seguir os estudos, o seu sonho era empregar-se para juntar dinheiro para comprar uma mota.

O professor é um projecto sem geração, que molda e sonha os projectos de todas as gerações. Os alunos, que encontra ao longo dos anos de profissão, são projectos de futuro pelos quais luta afincadamente. Para todos almeja o êxito, que tem a consciência de saber graduar.

Eu tinha aspirações para o Orlando que a teimosia da mota contrariava.

Afinal o Orlando e a vida conseguiram dar as voltas necessárias para cumprir o meu sonho e o dele. Não foi fácil, mas teve a mota e é engenheiro. Fiquei felicíssima, quando me explicou onde trabalhava e o que fazia. Riu-se “continuo a quer dinheiro”, “Mas usas uma forma sofisticada de inteligência para o conseguir, não se desperdiça nada. Dá-me mais um abraço que estou felicíssima por isso”.

Este jantar existiu para me lembrar que vale a pena sonhar com o futuro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CONTINUA A TER CINCO SENTIDOS?

Uma professora primária, como é o meu caso, é essencialmente uma professora de português, por isso trabalha exaustivamente o texto quer como ponto de partida, quando pretende que os alunos oiçam e leiam (sejam receptores); quer como ponto de chegada quando pretende que falem e escrevam (sejam emissores).

Ao longo dos anos de actividade profissional para além de ensinar crianças, tive ocasião de desenvolver um vasto trabalho em formação inicial de professores e também em formação contínua.

Num qualquer ano lectivo, que para o caso nem vale a pena situar, aceitei um simpático convite da “Carol”, que a Dra. Fernanda Mota Pinto, numa qualquer noite, após as vinte e três horas confirmou, pondo-me em cinco minutos a dizer-lhe ao telefone o que queria ouvir e vi-me no papel de coordenadora pedagógica do primeiro ciclo do ensino básico. Esse trabalho, a realizar de parceria com outra colega, a F.S., à data do convite, embora previsto não estava planificado e a minha paciência não aguentava estar sentada à espera que o planificassem.

Convenci a colega em questão e autorizadas pelo staff, auscultámos as aspirações das professoras primárias a nível de formação, no distrito de Leiria e lançámo-nos num exaustivo trabalho de formação contínua de professores, programado por nós, que se estendeu desde Castanheira de Pêra ao Bombarral. Os temas escolhidos situavam-se no âmbito da Matemática e da Língua Portuguesa, tendo sido ”Composição Escrita” a acção que mais vezes repetimos para os colegas.

Era e sou defensora acérrima da redacção, entendida como texto que obedece a um plano e que passara a ser prevista nos programas contrariamente ao que acontecera até então, em que, em nome da criatividade, os meninos só escreviam composições de tema livre.

Muita gente enchia então a boca com a palavra criatividade sem ter descoberto que criar resultava da desmontagem dos conceitos nos seus elementos simples e nas diferentes montagens destes, de que é tão bom exemplo a Cabeça de Touro de Picasso, ou como exemplo mais fácil, a cadeira da sala que desengonçada se desmonta nos bocados que a formam, os quais pregados de outra maneira se convertem numa original escultura para o hall de entrada. Convenhamos que, tal como o Picasso sem selim e guiador não chegaria à Cabeça de Touro, nós sem a cadeira desengonçada não chegaríamos à escultura. Do nada só Deus criou o Mundo e mesmo assim consta que demorou sete dias. Ou seja para se saber escrever sem regras é preciso dominar as regras de bem escrever (lembram-se da “Guidinha” do Sttau Monteiro?).

Assim, quase diariamente, trabalhávamos o tema. A minha colega começava por uma abordagem aos programas e depois entrava eu em cena usando precisamente a mesma estratégia e materiais que usaria com uma turma de crianças. Distribuía por cada professor uma maçã lavada, pedia que me dissessem coisa acerca da mesma e ia fazendo o registo no quadro das frases que me iam dizendo, ditadas pelos diferentes órgãos dos sentidos, outras, produto da intelectualização de que já éramos possuidores. Essas frases depois eram ordenadas, de seguida estabelecia-se o plano de redacção, ou seja, estabelecia-se o que se escreveria na introdução, no desenvolvimento e na conclusão e depois, o que em formação contínua já não fazíamos, passar-se-ia a redigir o texto.

Os grupos de formandos chegavam a ter cerca de quarenta e cinco professores, que da surpresa inicial passavam à plena adesão à actividade e podem crer que houve turmas em que não surgiu uma única frase em que fosse utilizado o olfacto. Interroguei-me estupefacta: estaríamos a perder uma forma de comunicar?

Guardei os dados recolhidos porque a amostra era significativa. Durante aquele ano lectivo, nós demos formação a cerca de oitocentos professores, mas entretanto surgiu um concurso em que fui opositora e entrei para a ESEL e as intenções de trabalhar aqueles dados ficaram só pelas “boas intenções”.

Outro dia, como aqui contei, não tomei a iniciativa de dizer “bom dia” às pessoas com quem me cruzei no meu passeio ao longo do rio e poucos cumprimentos ganhei.

Agora pedi-vos um abraço. Quantos recebi?

Amigos, eu tomo banho todos os dias. Uso perfume, ou J’adore da Dior, ou Beauty de Calvin Klein e só deixei de usar Channel n.º 5 porque duas gotas já não chegam para me vestir (como dizia a outra senhora…).

Em tempo útil tomei a nova vacina da gripe, aquela que já é contra o H1N1

Além disso eram virtuais….

Poder-me-iam ter enviado abraços às molhadas.

Porque estamos cada vez mais fechados sobre nós próprios? Perdemos o cheiro? Perdemos o ouvido? Perdemos o sentido do outro? Nem virtualmente somos capazes de uma palavra terna? De um carinho? Aristóteles tem de nascer de novo? Já não somos seres sociais?

Quem é o outro? Quem somos nós? Quem nos desumanizou?

O ecrã do PC?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

DÁ-ME UM ABRAÇO

ISABEL

Pela minha idade, há imensas. Como já contei, herdei o nome inteirinho da minha avó materna, mas na altura deveria ser moda, dada a profusão de colegas que fui encontrando pelas turmas que frequentei na escola primária, no Liceu, no Magistério e com que venho tropeçando vida fora.

Sábado, telefonei a uma delas. “Como está a tua mãe?”, “continua mal, coitada, mas está um pouco mais animada”, “e tu?”, “estou” e eu vi-a, sem a ver, a encolher os ombros, displicente.”Cão sem dono” diria Ary, tal como eu, mas ainda mais só, que, em Lisboa, tenho duas filhas e um neto que dá os melhores abraços do mundo.

Era Domingo, fomos ao cinema, jantámos no Shopping e fomos à FNAC.

Comprei um CD. Se pudesse, em memória de Ary, chamar-lhe-ia: "Grito de cão sem dono".

Que pena tenho de não saber colocar aqui uma das faixas para vos deliciar! Deixo-vos o mimo das palavras.


Dá-me Um Abraço Miguel Gameiro


Dá-me um abraço que seja forte

E me conforte a cada canto

Não digas nada que o nada é tanto

E eu não me importo



Dá-me um abraço fica por perto

Neste aperto tão pouco espaço

Não quero mais nada, só o silêncio

Do teu abraço



Já me perdi sem rumo certo

Já me venci pelo cansaço

E estando longe, estive tão perto

Do teu abraço



Dá-me um abraço que me desperte

E me aperte sem me apertar

Que eu já estou perto abre os teus braços

Quando eu chegar



É nesse abraço que eu descanso

Esse espaço que me sossega

E quando possas dá-me outro abraço

Só um não chega



Já me perdi sem rumo certo

Já me venci pelo cansaço

E estando longe, estive tão perto

Do teu abraço


Já me perdi sem rumo certo

Já me venci pelo cansaço

E estando longe, estive tão perto

Do teu abraço



E estando longe, estive tão perto

Do teu abraço