Era uma vez uma ovelhinha que
vivia num prado verdejante salpicado de malmequeres amarelos.
A ovelhinha comia as ervinhas
verdes e maravilhava-se com as flores. Sim, a ovelhinha gostava muito de flores
amarelas e os malmequeres, com aquelas pétalas fininhas pareciam mesmo
pequenos sóis, prontos para lhe aquecerem o almoço.
Ela brincava com as outras
ovelhinhas e com os cordeirinhos que viviam no prado. Eram todos seus amigos e a
ovelhinha gostava de os cuidar: “põe o chapéu, que está muito Sol”, ”não vás
por aí que podes cair”, “come mais ervinhas para seres grande e forte”. A
ovelhinha gastava o dia num sem fim de recomendações, à volta daqueles amigos e
ficava feliz sempre que outro amigo se juntava ao grupo.
Muitos dias, quando os amigos não
estavam por perto, a ovelhinha ficava muito quieta, encostada à sombra de uma
grande pedra e estendia o olhar pelo prado até à linha do horizonte. A
ovelhinha gostava muito de olhar, ver e admirar a distância e se alguém lhe
perguntava o que estava a fazer, respondia que estava a lavar os olhos e a
alma.
Um dia, quando olhava meio
distraída, viu ao longe um lobo, um lindo lobo de pelo luzidio. “Que lindo lobo!”-
disse a ovelhinha para os seus botões. Bem, na verdade a ovelhinha não tinha
botões, nem sabia o que isso era… isto é uma forma de dizer que a ovelhinha
falou alto e para ela própria, pois não estava ali mais ninguém que a ouvisse.
Se estivesse, eu tenho a certeza que a ovelhinha nem teria coragem de dizer tal
coisa. E sabem porquê? Porque as ovelhinhas não devem olhar para os lobos,
devem é fugir deles.
Agora não fiquem a pensar que os
lobos são maus ou antipáticos. São diferentes. As ovelhinhas comem erva e os
lobos comem… ovelhinhas! Se apanham uma a jeito, ferram o dente e… chamam-lhe
um figo, como nós costumamos dizer.
Como já perceberam, a ovelhinha sabia muito
bem como deveria comportar-se com o lobo, mas ele era tão bonito, que se
esqueceu… O lobo nem reparara naquela ovelhinha tão insignificante, havia coisas
muito mais interessantes que lhe prendiam a atenção… mas, um dia e há sempre um
dia para as coisas acontecerem, o lobo reparou na ovelhinha e perguntou-lhe se
queria brincar. Saltaram pelo prado e até brincaram às escondidas… Foi uma alegria.
A ovelhinha estava fascinada. Aquele
amigo era diferente de todos os outros. Aquele pelo luzidio… era mesmo um
regalo para os olhos. A ovelhinha não se cansava de olhar.
Quando já se entendiam
muito bem nas brincadeiras… querem saber o que aconteceu? A ovelhinha lembrou-se
“ai, ai, os lobos e as ovelhinha, não podem ser amigo” e vai daí zangou-se com
o lobo de pelo luzidio, só porque tinha medo que o lobo a comesse. Ora, digam-me lá: "se o lobo quisesse comer a ovelhinha, já não o teria feito?" Que tonteira! Não foi? Afinal, aquela ovelha que passava o tempo a cuidar da vida dos outros, não sabia tratar da dela.
O lobo ficou muito
triste, por não poder brincar mais com a ovelhinha de quem já era muito amigo. E a ovelhinha também. Sabem porquê? Porque magoara o amigo, que vergonha... e depois da zanga, descobriu que o lobo era
vegetariano.
Afinal, o lobo de pelo luzidio só comia ervinhas verdes, não comia
ovelhinhas… “será que também gosta de malmequeres amarelos?” perguntou ela cheia
de saudades do amigo…
Não sei se a ovelhinha e o lobo
voltaram a ser amigos. Que vos parece?
Deixo para vós o final da história. Eu tenho
de ir fazer doce, porque a Carma deu-me tomates e se eu os deixo estragar, ela zanga-se
comigo. Eu não quero. Seriam zangas a mais nesta história…
Pelo sim, pelo não, tosquiava a ovelhinha...
ResponderEliminarEssa do lobo vegetariano não me convence.
:)
Como calor que está... Rui, a ovelhinha vai ficar muito agradecida.
EliminarNem sei como não me lembrei disso antes. :))
Em defesa do lobo, tão maltratado no imaginário infantil, cito o exemplo de "O vampiro que só gostava de groselha". À luz da jurisprudência o exemplo não deixará de ser considerado. :))
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