Os últimos tempos, para mim, não
têm sido nada fácil, sejam quais forem as perspetivas por que os analisemos.
Talvez por isso, embora assumindo-me como uma mulher de esperança, que acredita
em cada amanhecer, hoje acordei com vontade de desistir.
Encostar-me aí e ficar
escondidinha à espera que a vida passe sem ruído, sem reparar que existo, sem
me abanar mais, esconder-me no quarto escuro daquela casa enorme onde morei em criança
e ficar brincando aos caranguejos, olhos abertos sem me mexer perscrutando o
espaço que não visse. Felizmente a minha mãe ainda me chama e eu agora respondo
prontamente, para sua segurança, não porque os caranguejos tivessem aprendido a falar.
Nesta dor de alma em que acordei,
coisa desusada em mim, possível fruto de tanta curva do pensamento e
intempéries da vida, cansada de reinventar-me em esperança, sem vontade de
acreditar seja no que for, ainda assim e mesmo assim, a teimosia acende em mim
uma nesga de luz, lembrando um pequeno malmequer que sem sabermos como e
contrariando toda a lógica, floresce entre duas pedras da calçada, indiferente
à velocidade dos carros.
Os problemas de saúde de uma das
filhas e a consequente necessidade de ajudar a cuidar dos netos levaram-me para
Lisboa a vinte e sete de Agosto e obrigaram-me ao corrupio dos fins de semana
para atender a minha mãe, que embora bem cuidada, se sente que tardo adoece da alma.
Para que não faltasse nenhum
ingrediente para eu poder ter hoje mais pena de mim, no Lar ainda deixaram cair
a minha mãe e eu, retida em Lisboa, num sufoco, não pude correr para a
acompanhar nas urgências do hospital, coisa que o lar, não sei porquê, não faz
perante a impossibilidade de acompanhamento por parte da família.
Ainda se avariou, sem conserto, no
sábado passado, a máquina de lavar roupa e eu sem amigas por cá que me “emprestassem”
o marido, para me ajudar a escolher outra que comprasse, adiei o problema para
este fim de semana, o que me possibilitou umas consultas técnicas por telefone.
Deambulando pela casa enquanto
espero a entrega da máquina que o meu amigo VL, que me adotou e passa a vida a
ralhar comigo, como nunca ralhou com a filha e ainda menos com a mulher, diz
que comprei por ser a mais bonita e não a melhor, dou comigo a esgravatar na
memória dos dias à procura de consolo.
Irra! Isto não é persistência, é
teimosia! Porque não hei de deitar-me para aí cheia de pena de mim? Depois de
tudo, também tenho direito.
Raramente entro numa florista mas, vá-se lá saber porquê, não fico indiferente a "um pequeno malmequer que sem sabermos como e contrariando toda a lógica, floresce entre duas pedras da calçada, indiferente à velocidade dos carros".
ResponderEliminarE sabe que mais? Uma Mulher, "teimosa" como a Isabel, pode ter todos os direitos... menos esse.
Pena têm as galinhas, e eu... qualquer dia mostro-lhas.
:)
Bem haja, Rui, pelas palavras. Sorte da Any que o tem a seu lado. Sorte a sua que algo de si também será mérito dela.
EliminarNa verdade não sou dada a tristezas nem alimento infelicidades tolas, mas há dias... Nasci predisposta a retirar da vida as pequenas coisas boas com que me vai brindando e a saber ser feliz com elas.
Apesar dos problemas de saúde de minha filha, que tanto me atormentam, não posso deixar de pensar que foi por conta deles que vivi o primeiro dia de escola do meu neto, no dia 10 e os passos de neta no dia 11.
É mesmo à português pobrezinho... :)) Sou feliz com tão pouco!!!
O que vale é que há sempre alguém que nos ouve e nos acena com um sorriso nas pétalas dum malmequer mesmo que floresça entre duas pedras da calçada!
ResponderEliminarBoa imagem, Rui, há que animar a malta, e como as galinhas são um espetáculo de penas a voar quando se espantam e conseguem voar para fora do galinheiro! Nessa altura entra em ação a "Tina" (uma teckel/miniatura) que, se não a agarramos a tempo, lhes arranca as penas num ápice.
Uma cowboyada pegada, ainda que mais pareça uma cena de "há guerra na capoeira"!
Temos que fazer das tripas coração, Isabel, nessas alturas em que a família (os filhos e os netos hão-de ser sempre a nossa maior preocupação) precisa de nós. Nem olhamos para trás, mesmo sem repararmos que nós também podemos estar na "mó de baixo"!...
Que tudo acabe em bem ...
Abraço
Olá, António.
EliminarBem haja pelas suas palavras.
Aguento-me e há tanto tempo que já nem sei fazer outra coisa. Contudo às vezes apetece largar as armas e "morrer", mesmo que seja na areia. Mas passa, passa sempre. Já que mais não seja quando o Rui nos mostrar as galinhas que estará a pintar. :))
Abraço
Não sei se o Rui estará só a pintar! ...
ResponderEliminarÀs tantas já armou a barraca necessária para criar umas galinhas no quintal (quinta/inha?) lá de casa! ...
Falo em armar barraca porque foi o que eu acabei por fazer. Comigo é assim: eu até tenho jeito para fazer coisas, acho eu, bem, também é reconhecida essa minha voluntariedade, a questão é que a paciência para fazer tudo muito certinho, régua e esquadro, isso já não é comigo.
Só consigo ser produtivo em sistema contra-relógio, em luta contra o tempo, esse langão, que já perdeu a conta ao tempo que ele tem, logo se ele próprio já não controla o seu tempo, diz que é por ser infinito, eu ainda tento atalhar, infinito como? infinitamente pequeno? infinitamente grande?, como é que eu, simples mortal, com período de vida útil indefinida mas não infinita, vou esticar o tempo para ter tempo para levar avante todos os meus planos e devaneios?
Quer dizer, tenho que cortar no que não é essencial, deixo-me dos preciosismos e primores próprios de pintores e outros autores, que digo eu? Querem lá ver que já aqui anda a mãozinha da Troika e do Coelho?!
Mas tenho um galinheiro feito por mim, essa é que é a verdade! O que me vale é que o consegui dissimular num canto do quintal, camuflado com um muro, uma parede dum barracão e com um limoeiro a ajeitar o trabalho.
Está bem, confesso, tenho andado a fugir ao fisco, ainda não tive tempo para declarar, nas finanças, o início da atividade de criador de galinhas poedeiras e um galo, garnizés, bichos muito pequeninos, bonitos de se ver, é certo, mas os ovos até nem obedecem aos calibres fixados pela União Europeia! Ai se o vitor se lembra de começar a taxar estas atividades económicas paralelas, lá terei que comprar um programa especial para faturar a produção, nem que seja para consumo próprio, e comunicar por via eletrónica em tempo real todo este movimento, que se se somarem todos os que já estão nestas condições e mais os que terão que regressar aos seus quintais, ainda dá qualquer coisa como 30 e tal por cento da produção declarada.
Hoc opus hic labor est
Amen
Mas haverá professor que não goste de "armar barraca" ou contabilista que se não "pele" para enganar o fisco?
EliminarOs professores são gente de palco com público certo e os contabilistas são aqueles senhores que se especializaram em martelar contas. Ora martelar por martelar, vai daí, até martelam os dedos para fazerem uma capoeira para as galinhas...
Sei bem que o trabalho é duro... Eu que o diga que comecei a manhã atingida na canela da perna direita por uma garrafa de ginja. Ganhei um ovo (que dói que se farta) e salvei a ginja - saldo positivo. Até que a ginjinha era "Zabelinha Borrachona", fabricada nos laboratórios "Zabeleiria, SA - fabricante melhor não há". Andava à procura de vasilhame para os figos em calda que ia fazer e fiz, e também doce de figo, embora de perna ao peito.
Eu tenho galinhas, frangos, coelhos, patos, ovos e hortícolas de
variada qualidade, às vezes flores e esta semana até carapaus de gato, já amanhadinhos e tudo.
É a minha Carma, que me acha com cara de fome e me enche a casa de comer e também me acha folgada e obriga-me a cozinhar.
O passado fim de semana, quando cheguei de Lisboa e descobri no congelador os carapaus, telefonei-lhe "quem é que andou à pesca?" "eu, na Praia da Vieira" - respondeu-me "mas os carapaus não se podem comer..." - acrescentei eu - "porquê?" -quis ela saber - "porque não estão fritos" "era o que me faltava, frite-os a senhora" Assim, sem mais nem menos com esta sem vergonhice toda... Já não há respeito!
E os doces que me obriga a fazer e é diabética, imagine?! Trouxe figos, tomates, uma abóbora e eu até ainda tinha no congelador marmelos do ano passado...
Porque é que em vez de pregar pregos não arranjou uma Carma? Sempre evitava as marteladas nos dedos. A minha não lha dispenso porque este "casamento de amor" dura há 19 anos e eu sou muito fiel nos afetos e assim como assim já me habituei ao "furacão" (como as minhas filhas lhe chamam) que me entra em casa todas as quartas-feiras de manhã e me manda para a rua para não pisar o que ela anda a limpar. Ela trata-me "mal" mas eu gosto dela... O amor tem cada contradição!!!
Quanto ao seu primeiro comentário devo dizer que "aquela" do malmequer é minha e não do Rui... Perdoo-lhe porque quem martela os dedos não consegue ler em condições...
EliminarAbraço.
Está bem, já sei que sou muito distraído, cada vez pior, mas olhe que esses malmequeres normalmente são bem bonitos, vistosos mesmo, e são de facto, um exemplo de teimosia a toda a prova...
ResponderEliminarEspero que me possa relevar a distração. O Rui é que estava a ficar com os louros literários. E não dizia nada, hem? (provocaçãozita).
Um abraço.
A distração não tem qualquer importância, por isso nada tenho para relevar. Foi o seu stress...
EliminarLá vai o tempo em que também adorava trabalhar sob stress. Dormir pouquíssimo por noite, não por falta de sono, mas por não haver horas que chegassem para dormir e fazer um sem número de coisas ao mesmo tempo... Agora passou-me a pressa. Gosto de saborear o tempo, embora por vezes ainda durma pouco.