Ontem, mercê do convite da amiga
GM, participei num workshop de pão, no Moinho de Papel, que começou cerca das
quinze horas e se prolongou até perto das dezoito.
Havia deixado o carro junto à
Rotunda dos Industriais, vulgo rotunda dos Pokémons, como dizem os garotos e eu como eles e
deslocara-me a pé para o outro extremo da cidade.
Chovia e molhei-me toda, mas o
calor rapidamente secou a roupa, no meu corpo. Vicissitudes de quem não quer
pagar o parque de estacionamento.
Quando apressadamente me dirigia
ao Moinho de Papel, não reparei, mas quando regressava ao carro, pelas dezoito
horas, pretendendo cumprir a visita diária a minha mãe que adiara, mal me
aproximei da Ponte Hintze Ribeiro, a expressão escrita em letras garrafais de
cor preta, na parede branca agrediu-me. “Meu Deus – pensei – depois da luxúria
de pão que comunguei com as amigas, na alegria daquele grupo de jovens, não
estou disponível para pensamentos dolorosos.”
Parei. Chovia, mas não foi isso
que me impediu de fazer a foto, sem outra finalidade que registar aquele
chamamento às tristes realidades deste país que se afunda, pela mão da
cretinice, num momento em que o meu espírito vogava a milhas de distância das
cruezas atuais da vida coletiva.
Hoje levantei-me com uma terrível
preguiça mental. Espreitei o mail, onde me aguardava a cumplicidade de uma
amiga, para alegria de outra e dispus-me a uma ronda breve pelos blogs dos
amigos. Comecei pelo “Dispersamente…” e não passei dali. Nem de propósito,
aquela oração a Santo António… Abusivamente, entrei e apossei-me do texto que
ilustra a minha foto. Confesso, despudoradamente, sabendo que só a preguiça mental,
esfarrapadamente, justifica o delito.
António, não mereço perdão, acho justo que se queixe à polícia e me mande prender (só para a semana, agora ando muito ocupada), mas ainda albergo a esperança de que me perdoe… Nem sequer "roubei" o texto todo, ainda deixei um pedaço para si. Há quem roube muito mais e continue por aí, pavoneando-se impunemente.
Os mercadores-banqueiros de
Pádua e Florença
Estão hoje em Wall Street, na
City e noutras praças.
Possuem palácios, iates,
aviões e limusinas,
E evitam as ruas onde vivem os
que não têm tecto.
Os seus olhos não sabem
abrir-se para o nascimento de uma rosa.
Escuta, Santo: continua a ser
difícil dialogar com a usura.
Mais fácil é falar com o
trovão, como fizeste.
Maria Amélia
Neto
Colóquio
Letras
Mesmo o
Passado
É sempre
incerto
Número 142
Outubro-Dezembro 1996
p.
159
O que vale é que António pode ser nome de Santo.
ResponderEliminarE eu, ainda para cúmulo, até sou Santos, logo mais que Santo!
As cidades, nas partes antigas, estão a ficar assim. E o problema é que, em muitos casos, são casos de heranças mal resolvidas. Além disso, quem é que, nos tempos que correm, quer investir dinheiro em recuperar prédios velhos, ainda que bem situados nas zonas urbanas e centrais das cidades portuguesas?
Um velho provérbio garante "a quem apregoa santidade, conta menos de metade"
EliminarEstás visto que os tempos são diferentes e o António é mais que Santo (gaba-te cesto...), vai daí eu beneficiei... Não se zangou comigo. Estou contente.
Reconheço que só me atura quem tem paciência de santo...
Achas que a Maria Amélia Neto estava a pensar no Gasparito?...
ResponderEliminarPoderás avaliar a dor que sente uma mulher que gosta de banda desenhada, fã daquele fantasminho simpatiquíssimo que se dá pelo nome de Gasparzinho, conhecer outro que não valoriza a analogia? Que saudades daquela ternura desajeitada do meu fantasma preferido!
EliminarNão, Maria Amélia Neto não pensaria nele, mas nas desditas de quem é vítima das suas opções políticas.