Pelo segundo destes critérios teremos a vida por imperfeita
por uma deficiência quantitativa da sua essência, ou, em outras palavras, por a
considerarmos inferior - inferior a qualquer coisa, ou a qualquer princípio, em
o qual, em relação a ela, resida a superioridade. É esta inferioridade
essencial que, neste critério, dá às coisas a imperfeição que elas mostram.
Porque é vil e terreno, o corpo morre; não dura o prazer, porque é do corpo, e
por isso vil, e a essência do que é vil é não poder durar; desaparece a
juventude porque é um episódio desta vida passageira; murcha a beleza que vemos
porque cresce na haste emporal. Só Deus, e a alma, que ele criou e se lhe
assemelha, são a perfeição e a verdadeira vida. Este é o ideal que poderemos
chamar cristão, não só porque é o cristianismo a religião que mais
perfeitamente o definiu, mas também porque é aquela que mais perfeitamente o
definiu para nós.
Fernando Pessoa, in Textos de Crítica e de Intervenção
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