Nasce o ideal da nossa
consciência da imperfeição da vida. Tantos, portanto, serão os ideais
possíveis, quantos forem os modos por que é possível ter a vida por imperfeita.
A cada modo de a ter por imperfeita corresponderá, por contraste e semelhança,
um conceito de perfeição. É a esse conceito de perfeição que se dá o nome de
ideal.
Por muitas que pareça que devem ser as maneiras por que se pode ter a vida por imperfeita, elas são, fundamentalmente, apenas três. Com efeito, há só três conceitos possíveis de imperfeição, e, portanto, da perfeição que se lhe opõe.
Podemos ter qualquer coisa por imperfeita simplesmente por ela ser imperfeita; é a imperfeição que imputamos a um artefacto mal fabricado. Podemos, por contra, tê-la por imperfeita porque a imperfeição resida, não na realização, senão na essência. Será quantitativa ou qualitativa a diferença entre a essência dessa coisa imperfeita e a essência do que consideramos perfeição; quantitativa como se disséssemos da noite, comparando-a ao dia, que é imperfeita porque é menos clara; qualitativa como se, no mesmo caso, disséssemos que a noite é imperfeita porque é o contrário do dia.
Por muitas que pareça que devem ser as maneiras por que se pode ter a vida por imperfeita, elas são, fundamentalmente, apenas três. Com efeito, há só três conceitos possíveis de imperfeição, e, portanto, da perfeição que se lhe opõe.
Podemos ter qualquer coisa por imperfeita simplesmente por ela ser imperfeita; é a imperfeição que imputamos a um artefacto mal fabricado. Podemos, por contra, tê-la por imperfeita porque a imperfeição resida, não na realização, senão na essência. Será quantitativa ou qualitativa a diferença entre a essência dessa coisa imperfeita e a essência do que consideramos perfeição; quantitativa como se disséssemos da noite, comparando-a ao dia, que é imperfeita porque é menos clara; qualitativa como se, no mesmo caso, disséssemos que a noite é imperfeita porque é o contrário do dia.
Fernando Pessoa, in Textos de Crítica e de Intervenção
Sempre gostava de ver Fernando Pessoa a escrever este texto, hoje, nos dias que correm, nas circunstâncias atuais.
ResponderEliminarÀs tantas tínhamos uma grande surpresa.
Ou seja, escreveria da mesma maneira, sem tirar nem pôr.
Muito provavelmente.
É que o Homem continua na mesma: cada vez sabe menos e, pior ainda, continua eminentemente egoísta.