Ao Agrupamento 127, SÉ – LEIRIA
No dia oito de Dezembro, recebi a notícia que considerei ser a melhor prenda do meu Natal de 2010, mesmo desconhecendo todas as que viria a receber. E ri-me, ri-me da alegria que a notícia provocou e ri-me por a vida não parar de me surpreender até como desta vez, nas instalações sanitárias, numa cidade do interior do distrito, a alguns quilómetros de casa, onde o sinal do telemóvel me apanhou.
No Sábado, dia dezoito, levantei-me da cama disposta a cumprir um capricho da minha mãe, sabendo que isso exigiria não só algumas horas, mas também muita paciência.
A minha mãe queria uns sapatos novos mas, aos noventa e dois anos e sentada numa cadeira de rodas devido a uma fractura do fémur e com o pé direito deformado pelos joanetes, não pretendia modelos “à velha” ou mesmo ortopédicos porque não é aleijada.
Nessa manhã, enquanto me cuidava, lembro-me de ter pensado que seria melhor levar uma dose extra de boa disposição, porque pela ordem natural da vida, sendo ela tão idosa, partirá antes de mim e eu, quando lhe sentir a ausência vou chorar o facto de não poder andar ainda de sapataria em sapataria a pedir sapatos do pé direito emprestados para levar ao Lar em que se encontra, para que os vá experimentando até acertar na escolha do que calçar melhor e achar mais bonito.
Confesso que muitas vezes perco a paciência com as ideias que tem, mas acabo quase sempre por lhe satisfazer os caprichos, não só porque acho divertida a forma como se agarra à vida, como vejo nisso um modesto tributo ao amor e paciência com que me terá educado.
Pois no momento exacto em que tínhamos acertado na escolha dos sapatos, depois de peregrinar por algumas sapatarias e de algumas idas e vindas entre a cidade e o Lar Emanuel, recebo a notícia de que uma nuvem muito negra pairava sobre a boa notícia que comecei por referir. Fiquei triste, profundamente triste.
E vergada pelo peso dessa tristeza, quando atravessava a Avenida Heróis de Angola, dirigindo-me à sapataria para ultimar o negócio, caminha para mim uma escuteira. Levantei a mão de imediato indicando indisponibilidade, mas ela não desistiu “não quero nada, a não ser dar-lhe este postal ”.
Peguei no postal e nem sequer agradeci, olhei e ali, no meio da rua, quase me desfiz em pranto.
Era o Presépio, com votos de Feliz Natal.
Eu sou crente. Ainda ao almoço tinha dito a uma amiga “Deus providencia sempre!”
Aquela jovem, que o meu gesto não intimidou, acabava de me dar a resposta:
“Deus providenciará que a nuvem se desfaça em água e tudo leve, ou que haja uma brisa benfazeja que a afaste.”
Às vezes, até os anjos se vestem de escuteiras para nos lembrarem que é preciso ter fé e saber esperar.
Às jovens do 127 o meu muito obrigada e os votos de um Feliz Natal. Sim, porque "o Natal é quando o Homem quiser", até pode acontecer em Agosto...
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